“Nenhum
tipo de criminalização nos deve fazer recuar. Temos que levantar a cabeça e
saber que a vida é muito preciosa para ser violada.” A entrevista foi feita por
telefone, antes de ligar para o celular da irmã Henriqueta Cavalcante, que mora
no Pará, foi preciso enviar uma mensagem, explicar a importância da matéria
para, após a concordância da religiosa, ligar e fazer a entrevista.
Devido ao seu trabalho junto à Comissão de
Justiça e Paz da CNBB, a Irmã é vítima de ameaças, por isso a cautela no
atendimento de ligações de números desconhecidos. Henriqueta atua no
enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes e,
consequentemente, no combate ao tráfico humano.
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A Religiosa não escondeu sua empolgação com a
Campanha da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e Tráfico Humano”, “Estou
muito confiante no objetivo dela [da Campanha], que é dar visibilidade para esse
crime e diminuir o número de possíveis vítimas.”
A Irmã, porém, alerta que é preciso cuidar “para
que a Igreja e a CF tenham coragem de denunciar o problema que vivemos, não
adianta falar de combate ao tráfico humano sem falar de combate à pobreza,
combate à desigualdade econômica, desigualdade cultural que existe em nossos
locais”.
Henriqueta comenta sobre a existência de
documentos e leis que pautam o combate ao tráfico humano, como, por exemplo,
Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, porém a execução de tais
leis acaba se tornando um desafio. Para ela, nenhuma das esferas do Poder
Público – Federal, Estadual e Municipal – conseguiu “dar atenção e atendimento
adequado para as pessoas que sofrem com o problema do tráfico”.
“Não podemos apenas pensar em enfrentar esse
crime, mas se trata de dar respaldo para quem consegue se livrar dele. É preciso
prevenir esse ato criminoso, precisamos de uma estrutura maior para que o
serviço seja qualificado”, afirmou.
“Há um caso emblemático de uma moça que foi
traficada para a Espanha e retornou de uma forma completamente destruída. O
olhar dessa moça, a fala dela, atualmente sofre de uma esquizofrenia muito
avançada… Ela perdeu o sentido da existência. Isso me chama a atenção porque ela
está tão arrebentada. O que mais me preocupada é o fato de ela não se
identificar. Ela sofreu tanto e não nega o sofrimento, mas nega que foi
traficada. A pessoa que a traficou está em liberdade, e ela está numa situação
de miséria e de abandono por parte do Estado, que não garante a recuperação
mínima de sua saúde mental e qualidade de vida”, conta a Religiosa referindo-se
a um dos casos que mais a marcou.
A denúncia feita por irmã Henriqueta é sobre a
falta de fiscalização nas fronteiras do País. Ela aponta a entrada de
bolivianos, venezuelanos, paraguaios e haitianos, muitas vezes vítimas de
tráfico para servirem ao trabalho escravo, à prostituição e, até mesmo, à
mendicância. Os estados para os quais esses traficados se direcionam são os mais
distintos, a Irmã enumera alguns: São Paulo, Acre, Amazonas e Pará.
Jornal O SÃO PAULO
Por Edcarlos Bispo de Santana
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