1) INTRODUÇÃO: Estudar sobre a pessoa de Maria de Nazaré, a mãe de nosso salvador Jesus Cristo, torna-se hoje uma experiência rica e gratificante. Sua importância na vida do cristianismo e na vida da Igreja é inquestionável.
2) QUEM ERA MARIA DE NAZARÉ? O significado do nome de Maria (Myriam em Hebraico) comumente é associada à AMADA DE DEUS. Todavia, devido ao anúncio do anjo, é também associada ao significado de AGRACIADA (do radical MYR que é amor ou a que tem as graças do amado). A figura de Maria está comumente associada à uma virgem simples do vilarejo de Nazaré na Palestina. Porém, pelo relato de Lucas, parece que Maria teria um parentesco com a classe sacerdotal (Levi, pois Zacarias, esposo da sua prima Isabel, era sacerdote). Maria também é chamada de Maria de Nazaré (do hebraico NAZIR, nazireu que era um povo que fazia voto de consagração à Deus). Todavia a melhor fonte para se conhecer a pessoa de Maria encontra-se no livro apócrifo PROTOEVANGELHO DE TIAGO ou o Livro de Tiago. Este livro conta a vida de Maria, que era filha de um homem de boas condições financeiras chamado Joaquim e casado há muitos anos com Ana. O casal era infeliz por não conseguir ter filhos, esta situação era vista pela cultura judaica como um castigo de Deus. Joaquim decidiu então jejuar no deserto por 40 dias e 40 noites, pedindo a intervenção divina. Pouco depois, um anjo apareceu a Ana e disse-lhe: "Conceberás e darás à luz, e de tua prole se falará em todo o mundo." Ana dedicou a menina a Deus. Construiu um santuário no quarto de Maria e, quando a menina completou três anos de idade, entregou-a ao Templo de Jerusalém. Maria viveu no templo e Deus escolheu para ela um noivo. Um anjo visitou Zacarias, o sumo sacerdote, e pediu-lhe que reunisse os viúvos e os seus bastões, pois Deus indicaria desse modo o noivo de Maria. O sinal de Deus foi uma pomba que surgiu do bastão de José, que tentou recusar, afirmando: "Tenho filhos e sou velho, enquanto ela é uma menina. Não quero ser sujeito a zombaria por parte dos filhos de Israel." Zacarias, entretanto, ameaça José com o castigo divino, e ele então, leva Maria para a sua casa como esposa. Maria é filha de Joaquim e Ana, sua origem é simples e sua fé era o judaísmo.
3) A POSIÇÃO DA MULHER NA SOCIEDADE JUDAICA: Para entendermos o papel de Maria Santíssima na história da salvação, é importante refletir qual era o contexto cultural para a mulher na época. Para o judaísmo antigo como para a maioria das culturas da antiguidade o papel da mulher estava associado à antiga divisão de tarefas e ao seu papel social. Em alguns momentos da história da salvação, vamos ver mulheres desempenhando papéis muito significativos como a Rainha Ester, Judite, Rute, e seguindo esta tradição as mulheres testemunhas da ressurreição, as líderes das comunidades paulinas e a pessoa de Maria Santíssima. Todavia o papel da mulher na sociedade judaica da época era em muito semelhante as das sociedades antigas: A mulher era de propriedade do marido, assim como o escravo e boi (por isso o marido poderia lhe dar uma carta de dispensa ou divórcio caso a mesma não mais lhe fosse importante). Nas ruas deveriam andar sempre atrás dos maridos numa postura de obediência e o olhar voltado ao chão. Sua tarefa era cuidar da casa (neste lugar era mais influente que o homem) e dos filhos (vistos como tesouro, benção e garantia). No templo elas só poderiam entrar até determinado local, sendo que os lugares mais sagrados do templo: O Santo e o Santo dos Santos eram reservados aos homens, este último só aos sacerdotes. Para alguns setores do Judaísmo a mulher era vista com desconfiança, suspeita e também como sinal da sedução, do pecado e da impureza. Todavia algumas mulheres conseguem se destacar neste contexto, e vão anunciar a libertação do Deus verdadeiro (como a Ana que canta pelo nascimento de seu filho Saul um cântico muito semelhante ao Magnificat de Maria). Imaginemos dentro desta sociedade cheia de obrigações para a Mulher o que representou ficar grávida do Espírito Santo antes das núpcias com o noivo José? Maria vai se tornar a imagem mais forte das mulheres heroínas e santas da Bíblia Sagrada. Revelando a força feminina no meio do povo.
4) MARIA E SEU CHAMADO: SER MÃE DO SALVADOR
Estudos apontam que o culto a Maria é tão antigo quanto a Igreja. Percebe-se a maneira peculiar como ela é invocada, enaltecida, imitada e seguida. Sua vivência e missão ímpar têm haver com as nuances em cada momento histórico. Através do seu “sim” (FIAT), é que Maria, em nome da humanidade, inicia, livre e conscientemente, o itinerário de ser discípula missionária de seu Filho. Maria destaca-se nas Primeiras Comunidades Cristãs por ser a Mãe de Jesus, a intercessora junto de seu Filho, modelo de Igreja orante, ideal de acolhimento e total entrega a Deus. Com tais características pode-se dizer que Maria foi especialmente amada pelos seguidores e seguidoras de Jesus. Em Maria, podemos descobrir a presença do Espírito agindo no sim da humanidade. Nesse sentido, a Igreja sempre destacou essa figura materna que liga-se ao amor Trinitário, e na qual acolhe a Trindade em sua dinâmira única, onde seu nome é recordado nas primeiras comunidades como a grande discípula-missionária. Assim, aflora-se em meio ao povo de Deus o testemunho da jovem consciente da escolha que Deus faz para realizar sua vontade, a vinda do seu Reino. Esta realidade está presente na vida de Maria, principalmente no seu canto Profético e Libertador (Lc 1, 46-55), levando-nos à figura feminina que se identifica com as necessidades dos sofridos e o compromisso com a justiça. Maria é reconhecida como a primeira entre os humildes (Eis a serva!), a mulher que se compromete com a realização do Reino de Deus, uma mulher forte e conhecedora da promessa de Salvação; que está firme no chamado mesmo diante da pobreza e do sofrimento, a fuga e o exílio. Ela é a imagem da mulher forte que resiste frente às injustiças deste mundo (Mt 2, 13-23). Enfim, ela é a mulher missionária, peregrina e em total entrega. Foi a primeira e mais perfeita discípula e missionária que esteve à serviço do Reino de Deus. Por Cristo, Ela oferta seu próprio ventre, com Cristo torna-se Templo do Espírito e em Cristo assume a Maternidade Universal dos que se voltam para seu filho Jesus Cristo e o Reino que Ele anuncia. Ela é a educadora e guia do Povo, e a humanidade que vemos unida a Cristo, a imagem da Igreja, Mãe e Mestra, e que está à caminho. Ela é a intercessora que roga pela humanidade e devolve para esta humanidade os sinais da esperança. Sob a presença de Maria assumimos com coragem, nossas capacidades e responsabilidades humanas até chegar ao ideal Cristão, onde imitando Maria seremos sujeitos na construção de uma nova história. Um tempo de renovação e vida inspirados pela nova Eva (MARIA) juntamente com o Novo Adão (JESUS). Por isso, em seu chamado de ser a Mãe do Salvador, Maria é consagrada a discípula perfeita, pois ela anuncia a vinda do Reino, compartilhando com os seguidores de Cristo, o mistério da sua cruz, de sua vida e morte, de sua ressurreição que nos revela o sentido maior da Palavra que se deixa penetrar por seu dinamismo, ressurreição. em atitude de confiante diálogo com Deus”. (reflexões extraídas do livro: “Maria, a companheira inseparável do Filho na obra da Redenção” – coleção Mística e espiritualidade - ICM).
5) MARIA E OS DISCÍPULOS DE JESUS : UMA IGREJA FAMILIAR
O “sim” de Maria foi a porta através da qual Deus pôde entrar no mundo, fazendo-se homem. Assim, Maria esteve de forma real e profundamente comprometida no mistério da Encarnação, da nossa salvação. E na Encarnação, o fazer-se homem no Filho, Deus escolhera Maria, desde o início, para um total dom de si; para doar-se junto com seu filho e Filho de Deus, com muito amor no mistério da Cruz, fazendo-se junto com Cristo entrega fiducial pela vida do mundo. Assim, sacrifício, sacerdócio e Encarnação caminham juntos, e Maria também está no centro deste mistério. Antes de morrer, Jesus vê a Mãe aos pés da Cruz; e vê o discípulo amado, e este é um exemplo, uma prefiguração de todos os discípulos amados, de todas as pessoas chamadas pelo Senhor para serem “discípulos e discípulas” e, por conseguinte, de modo particular também dos sacerdotes (continuadores da missão dos apóstolos). Jesus diz a Maria: “Mãe, eis o teu filho” (Jo 19, 26). É uma espécie de testamento: confia a sua Mãe à atenção dos discípulos, dos fiéis, da humanidade. Mas fala ao discípulo: “Eis a tua Mãe” (Jo 19, 27). O Evangelho nos diz que a partir deste momento São João a recebeu “na sua casa”. Assim é na tradução em português; mas no texto grego o sentido é muito mais profundo, muito mais rico. Poderíamos traduzi-lo: recebeu Maria no íntimo da sua vida, do seu ser, na profundidade do seu ser. Receber Maria significa introduzi-la no dinamismo de toda a própria existência não é algo exterior e em tudo aquilo que constitui o horizonte do próprio apostolado. Portanto, parece-me que se compreende como a relação peculiar de maternidade existente entre Maria e os apóstolos constitui a fonte primária, o motivo fundamental pelo qual ela se torna Mãe de toda a Igreja. Maria ama os discípulos e em várias passagens aparece junto ao grupo dos apóstolos por dois grandes motivos: O primeiro porque eles são semelhantes a Jesus, no amor supremo do seu coração, e porque também com Ela, estão comprometidos na missão de proclamar, testemunhar e oferecer Cristo ao mundo. O segundo pela identificação que nutrimos por ela, com a vida de Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria. Assim cada discípulo (hoje cada sacerdote e cada fiel) pode e deve sentir-se verdadeiramente “discípulo amado” desta Mãe querida e de Jesus Cristo, nosso Salvador.
6) MARIA E SUA LIDERANÇA NA ETAPA DA IGREJA NASCENTE:
A história de Maria nos evangelhos apócrifos, textos das origens do cristianismo que não fizeram parte da Bíblia, nos trazem novidades sobre a vida dessa figura tão cara entre os cristãos. Os principais textos e evangelhos apócrifos que falam sobre Maria são: O nascimento de Maria: Proto-evangelho de Tiago; O nascimento de Maria: Papiro Bodmer; Evangelho do Pseudo-Mateus; História de José, o carpinteiro; Evangelho armenio da infância; Evangelho dos Hebreus; Livro da infância do Salvador; Pistis Sophia; Aparição à Maria: Fragmentos de textos coptas; Lamentação de Maria: Evangelho de Gamaliel; Maria fala aos apóstolos: Evangelho de Bartolomeu; Trânsito de Maria do Pseudo-Militão de Sardes; Livro do descanso; O evangelho secreto da Virgem Maria.
A leitura dos livros apócrifos é tão fascinante que quando começamos a lê-los não temos mais vontade de parar. Muitas tradições religiosas em relação à Maria, guardadas na memória popular e em dogmas da fé, têm suas origens nos apócrifos, podemos destacar: a palma e o véu de Nossa Senhora, sua assunção ao céu, os títulos que Maria recebeu na sua ladainha, os nomes de seu pai e de sua mãe, detalhes da visita dos reis magos, do parto e da manjedoura, etc. A nossa devoção mariana é mais apócrifa que canônica. As atitudes de Maria relatadas pelos apócrifos mostram a sua liderança entre os primeiros cristãos, sobretudo os apóstolos. Ela tinha poder de convocá-los para uma assembléia. Ela era a Senhora dos apóstolos. Nos apócrifos não é Maria Madalena que vai ao túmulo de Jesus, mas Maria, o que parece mais lógico. E nesse encontro, Jesus a encarregou de anunciar aos apóstolos a sua ressurreição. No templo, Maria despertava a admiração dos homens sacerdotes. Quiseram arrumar um casamento para ela com um filho de um sacerdote, mas ela mesma rejeitou a proposta. Maria é chamada nos apócrifos de a "Força", "Mãe das luzes". Ela era discípula e apóstola de seu filho. Teve o poder de conversar com o ressuscitado. É bem verdade que Pedro aparece em vários episódios da vida de Maria. Ele é quase sempre chamado de bispo e pai da comunidade. A defesa do primado de Pedro nos apócrifos sobre Maria é compreensível na medida em que o lemos no contexto da disputa de liderança entre os primeiros cristãos. Maria era uma dessas fortes lideranças. Maria Madalena também foi outra personagem feminina de grande poder entre os discípulos. Maria não foi só intercessora, mas pelos apócrifos, foi discípula e perfeita apóstola de seu Filho. As religiões têm suas grandes mulheres. No cristianismo e no imaginário coletivo, Maria permanecerá sempre como modelo de mãe intercessora, mas não estaria na hora de acrescentar a esse dado de fé a liderança apostólica e missionária de Maria que os apócrifos nos legaram? Ademais, nos apócrifos, Maria não deixou de ser mulher para ser a mãe de Jesus. Ela é a discípula fiel em perfeita harmonia com a nossa humanidade.
7) A DEVOÇÃO A MARIA HOJE:
Na Igreja Católica há três tipos de culto o de latria o de dulia e o de hiperdulia O culto de LATRIA é o culto de adoração, prestado somente a Deus, como supremo Senhor de toda vida e de todo o universo, confessando que absolutamente tudo depende dele. O culto de DULIA é o culto de veneração, prestado aos santos e, estando a Virgem Maria acima de todos na corte celeste depois de Deus. HIPERDULIA é o culto de veneração prestado somente a Maria Santíssima (Virgem Maria) reconhecendo Ela como Mãe de Jesus e medianeira.
8)OS DOGMAS MARIANOS: O dogma é uma verdade absoluta, definitiva, imutável e "absolutamente segura sobre a qual não pode pairar nenhuma dúvida". Uma vez proclamado solenemente, "nenhum dogma pode ser" revogado ou "negado, nem mesmo pelo Papa ou por decisão conciliar. Por isso, os dogmas constituem a base inalterável de toda a doutrina católica.
8.1) Perpétua Virgindade de Maria:
A Perpétua Virgindade de Maria ensina que Maria é virgem antes, durante e depois do parto. Este dogma mariano é o mais antigo da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa. Assim Maria foi sempre Virgem pelo resto de sua vida, sendo o nascimento de Jesus como seu filho biológico, uma concepção milagrosa.
8.2) Mãe de Deus:
Maria é verdadeiramente a MÃE DE DEUS encarnado na pessoa de Jesus Cristo.
8.3) Imaculada Conceição da Virgem Maria:
Maria foi concebida sem pecado original. Sua Imaculada Conceição relata que a concepção de Maria, a mãe de Jesus, foi feita sem qualquer mancha de pecado original, no ventre da sua mãe, assim desde o primeiro momento da sua existência, ela foi preservada por Deus do pecado que aflige a humanidade, pois ela é "cheia de graça divina" (forma como foi chamada pelo Anjo Gabriel).
8.4) Assunção da Virgem Maria
A Virgem Maria, no fim de sua vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celestial. Este dogma foi proclamado ex cathedra pelo Papa Pio XII, no dia 01 novembro de 1950, por meio da Constituição Munificentissimus Deus.
9) CONCLUSÃO: A Devoção popular e a Mariologia (estudo teológico sobre a vida e as verdades anunciadas sobre a Virgem Maria dentro da História da Salvação), formam um capítulo a parte dentro daquilo que chamamos contexto de fé católica. Atualmente a visão sobre Maria Santíssima corre dois grandes perigos:
9.1) O ataque cego de algumas correntes protestantes, que no afã de colocar Cristo Jesus, acabam por incorrer em fórmulas dúbias e que muitas vezes tocam a Heresia
9.2) Pela defesa intransigente de um fundamentalismo católico, que não permite que o ensino da Mariologia seja atualizado e possa realmente ir de encontro aos desafios desta sociedade moderna e pouco crente.
Abordamos aqui alguns tópicos da Mariologia, ele não esgota o estuda e nos estimula, a cada vez mais ler e aprofundar, nestes ricos ensinamentos de nossa sã doutrina, que une Bíblia, Tradição e Magistério.
10) BIBLIOGRAFIA:
10.1) Principais documentos mariológicos da Igreja promulgados nos últimos cento e cinquenta anos:
· Papa Leão XIII: Encíclicas Magnae Dei Matris, 1892, Adiutricem populi, 1895, Augustissimae Virginis Mariae, 1897.
· Papa Pio IX: Bula dogmática Ineffabilis Deus, de 8 de dezembro de 1854.
· Papa Pio X: Encíclia Ad diem illum laetissimum, 1904
· Papa Pio XI: Encíclica Lux veritatis, 1931.
· Papa Pio XII: Encíclicas Bulla Munificentissimus Deus, 1950, Fulgens corona, 1953 e Ad Caeli Reginam, 1954.
· Concílio Vaticano II, Constituição Lumen Gentium, cap. VIII, 1964.
· Papa Paulo VI: Exortações Apostólicas Marialis cultus, 1974 e Signum magnum, 1967.
· Papa João Paulo II: Encíclica Redentoris Mater (1987), Exortação Apostólica Redentoris custos, 1989 e Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, (2002).
· DATTLER, Frederico. Sinopse dos quatro Evangelhos. São Paulo: Paulus, 1986. ISBN 85-349-1158-4
· IGLESIAS, Salvador M. O Evangelho de Maria. Tradução de Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 1991.
· OROZCO, Antonio. Mãe de Deus e nossa Mãe. Iniciação à Mariologia. Lisboa: Diel, 1997. ISBN 972-8040-11-3 SUÁREZ, Frederico. A Virgem Nossa Senhora. Tradução de Maria Pacheco. São Paulo: Quadrante, 2003. ISBN 85-7465-060-9
Fonte: Paróquia de São Benedito dos Pilares
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