Pe. Mário OIiveira
Adital
É sempre
a mesma melodia, Salazar e a sua democracia. Assim cantava Luís Cília, nos idos
de 60-70, por terras de França, com a Guerra Colonial em fundo e a rodear-nos
por todos os lados. Hoje, é a igreja católica romana que, apesar de estarmos já
a cavalgar o terceiro milénio, não arranja maneira de se libertar do seu
calendário litúrgico e insiste na dela de obrigar a sociedade a passar abruptamente
da terça-feira de carnaval à quarta-feira de cinzas e, com ela, ao início de
mais uma quaresma faz-de-conta. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, só a
igreja católica é que não muda. Mais um pouco, e está a falar só para as
paredes, que os fiéis já não ligam nenhuma ao que dizem os seus poucos párocos
ainda funções e os seus bispos residenciais, manifestamente aos papéis. A
empresa Igreja católica S.A. está bem e recomenda-se, mas ao nível da Cúria
romana, com o seu papa superstar, agora, até com uma revista semanal
exclusivamente dedicada a ele, aos seus ditos e feitos, muitas fotos e muitos
euros a arrecadar/amealhar, por parte da empresa, detentora do título, um
regabofe sem controlo, como só o Poder financeiro é capaz. De tudo, ele faz dinheiro.
E nem o papa vê estas manobras. E, se as vê, dá-lhes a sua bênção, ou a sua
Cúria não seja a maior máfia do mundo e ele o seu padrinho, por isso, tão
louvado por tudo o que são grandes media. Mas as paróquias espalhadas pelo
mundo, nomeadamente, nos países da Europa, são o que se vê. O panorama chega a
ser confrangedor. Os bispos residenciais ainda vestem de gala e botam discursos
que ficam como documentos na respectiva agência de notícias, mas ninguém
escuta/lê/debate. Nem os próprios bispos que os assinam e divulgam! E a
quaresma da igreja católica vai de mal a pior. Cada ano que passa, é ainda mais
deprimente. De resto, tudo, hoje, na igreja católica, é deprimente. Até as
chamadas festas litúrgicas.
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É preciso
muito mau gosto para passar, abruptamente, do carnaval às cinzas, impostas na
testa dos fiéis. Dos festejos super-licenciosos, nas ruas, ao jejum e à
abstinência. Num ano em que Quaresma, é nome de jogador de futebol, do Porto, até
o conceito religioso-católico de quaresma está de todo inadequado. As, os
adolescentes portugueses 2014, interrogados sobre o que entendem por quaresma,
logo responderão que é um jogador de futebol. Do Porto. Um clube e uma SAD, por
sinal, mais SAD que clube, a passar um mau momento, em termos de resultados,
que não em termos de presidente que continua a ser o monarca absoluto do norte,
no que respeita ao Porto e ao futebol. E não só. Também em poder financeiro e
em casamentos. Tudo lhe é permitido e tudo lhe fica bem, que o dinheiro tudo
compra, dentro e fora dos relvados. Bem pode dizer-se que Pinto da Costa, para
lá do cognome de "rei do norte” é também o bispo laico do norte do país. No seu
álbum fotográfico de recordações, lá está ele, ao lado do bispo Manuel
Clemente, então, o bispo do Porto, e não se sabe bem se é o Pinto da Costa que
apadrinha e valoriza o bispo Manuel Clemente, se é o bispo Manuel Clemente que
apadrinha e valoriza o Pinto da Costa. Mas que os dois estão bem um para o
outro, estão. E é por isso que nenhum se quis fora do "boneco”.
Houve
tempos em que a quaresma da igreja católica era a doer. Cruel. Sádica. Quando era
a igreja católica que dirigia a sociedade e dominava as consciências das
populações. Foram séculos e séculos de terror e de domínio absoluto. De
inferno! Foi a cristandade da nossa vergonha e da nossa menoridade, como
sociedade, como povos. Esses são tempos que nunca mais voltam. Porque,
entretanto, um outro Poder maior se levantou e, hoje, é ainda mais católico =
universal, que a própria igreja católica romana: O Poder financeiro, o Poder
Dinheiro! E, se a quaresma da igreja católica era de jejuns e de abstinências,
de rezas e de tristezas, de cilícios e de sacrifícios, de vias-sacras e de
confissões de desobriga, a quaresma do Poder financeiro é de desemprego em
massa e de emigração jovem em massa, de pobreza em massa e de solidão em massa,
de desertificação do interior do país em massa e de envelhecimento das
populações em massa. E, num tipo de mundo assim, nem os bispos nem os párocos sabem
mais o que dizer e o que fazer. O seu mundo continua a ser o dos templos e
santuários, onde se mantêm encurralados. O seu calendário é o litúrgico. São
seres à parte (= clérigos), e está tudo dito. Esquizofrénicos compulsivos, que
se não reconhecem e, por isso, tão pouco cuidam de se tratar adequadamente.
Nunca pisam a realidade e sempre fogem dela a sete pés. Uns infelizes de
coleira ao pescoço e com a cruz como instrumento de tortura, ao peito e em tudo
o que são locais eclesiásticos.
Desgraçadas
as populações das aldeias do interior, que insistem em frequentar os seus
templos e santuários, as suas missas, as suas rezas, as suas catequeses, os
seus ritos sacramentais. Já nem como ópio, estas coisas servem. Porque a
crueldade do Poder financeiro, hoje, já não se neutraliza com esse tipo de
coisas. Muito menos se combate. São precisas práticas políticas inteligentes e
persistentes. São precisas sucessivas desobediências políticas. São precisas reiteradas
insurreições políticas desarmadas. São precisas ocupações pacíficas dos
parlamentos e dos palácios dos governos das nações. São precisas recusas
políticas a participar nos actos que o Poder calendariza para os seus súbditos.
As urnas eleitorais têm de ficar, ou vazias, ou cheias de votos em branco ou de
protesto. Os cargos políticos e das grandes empresas multinacionais têm de
ficar vazios, porque as nossas filhas, os nossos filhos recusam ocupá-los, por
mais tentadores que sejam os contratos. Até os estádios de futebol dos milhões e
as grandes superfícies comerciais têm de ficar vazios de espectadores. Não às
quaresmas religiosas e eclesiásticas, de todo ultrapassadas. Não às quaresmas
do Poder financeiro e dos seus governos. Povos das nações, ao comando do mundo.
Bem ao jeito de Jesus, que jamais alinhou/alinha com os sacerdotes, nem com os
dirigentes do Poder político e financeiro. Por isso e bem, quaresma, para que
te quero!?
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