sábado, 20 de julho de 2013

MARIA MADALENA: QUAL DELAS?

Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)
Até alguns séculos atrás, os católicos não alimentavam dúvidas sobre quem fosse a santa celebrada no dia 22 de julho. Seguindo a opinião do Papa São Gregório Magno, sob o nome de Maria Madalena, eles identificavam a pecadora pública (sem nome) perdoada por Jesus; Maria de Betânia, irmã de Marta e de Lázaro; e Maria de Mágdala, um povoado situado na costa ocidental do Mar da Galileia. Ultimamente, prevaleceu o pensamento de Orígenes e da Igreja Ortodoxa, e a Igreja Católica começou a distingui-la em três pessoas diferentes.
Qual delas é celebrada no dia 22 de julho? Será a prostituta, cuja conversão, juntamente com as parábolas do “Bom Samaritano” e do “Filho Pródigo”, é vista como uma obra-prima do Evangelho de Lucas? Na verdade, ainda hoje, em alguns países – e em vários filmes – o termo “madalena” é aplicado às profissionais do sexo. Que ela mereça ser enaltecida e seguida através dos séculos, não resta a menor dúvida, pois, por meio dela, Jesus nos revela a face de Deus: «Os numerosos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque demonstrou muito amor» (Lc 7,47). Uma pecadora pública capaz de um amor que apaga todos os pecados! Grande no mal, maior ainda na santidade!
Outra santa que poderia ser lembrada no dia 22 é Maria de Betânia, a irmã de Marta e de Lázaro, uma família onde Jesus gostava de parar em suas visitas a Jerusalém. Se no dia 29 de julho – ou seja, apenas uma semana depois –, a liturgia lembra Santa Marta, por que não festejar também sua irmã, ela que «escolheu a melhor parte, que jamais lhe será tirada»? (Lc 10,42). Talvez a identificação feita (por São Gregório) de Maria de Betânia com a pecadora se deva ao fato de o Evangelho de São João apresentar uma cena bastante semelhante: «Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume e havia enxugado os pés dele com os cabelos» (Jo 11,2).
Se não é a pecadora arrependida nem a irmã de Marta, quem será a verdadeira Maria Madalena? Citada 14 vezes nos Evangelhos, sua primeira aparição é assim narrada por Lucas: «Jesus percorria cidades e povoados pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Iam com ele os Doze e algumas mulheres que haviam sido curadas de doenças físicas e espirituais: Maria, chamada Madalena, libertada de vários espíritos maus; Joana, esposa de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana e outras, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam» (Lc 8, 1-3).
Onde, porém, Maria Madalena mais resplandece é no Calvário, como testemunha privilegiada da morte e da ressurreição de Jesus. Os Evangelhos atestam que, ao lado de Nossa Senhora, ela esteve sempre presente, juntamente com outra Maria, esposa de Cléofas e mãe de Tiago e de José, e Salomé, mãe dos apóstolos Tiago e João. No domingo de Páscoa, ela foi a primeira a se encontrar com Jesus: «Jesus lhe disse: “Maria!”. Ela virou-se e exclamou: “Rabuni” (isto é, Mestre). Jesus continuou: “Não me segures, porque ainda não voltei para o Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: “Subo ao meu Pai e vosso Pai, ao meu Deus e vosso Deus”. Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor!”» (Jo 20, 16-18).
Sem se pronunciar sobre a identidade de Maria Madalena, as orações da missa do dia 22 de julho colocam em luz o carisma de cada uma das três mulheres. Na “oração do dia”, quem vem em relevo é a testemunha da ressurreição: «Ó Deus, o vosso Filho confiou a Maria Madalena o primeiro anúncio da alegria pascal. Dai-nos, por suas preces e a seu exemplo, anunciar também que o Cristo vive e contemplá-lo na glória do seu Reino». Por sua vez, o que a “oração sobre as oferendas” traz à memória é a conversão da pecadora: «Recebei, ó Pai, as oferendas que vos apresentamos na festa de santa Maria Madalena, cuja demonstração de amor vosso Filho acolheu com misericordiosa bondade». Por fim, a “oração depois da comunhão” contém uma clara referencia à Maria de Betânia: «Ó Deus, a comunhão nos vossos mistérios infunda em nós aquele amor perseverante que levou Maria Madalena a jamais separar-se do Mestre».
Três ou uma só, Maria Madalena nos revela o que de mais belo e decisivo pode acontecer na vida de uma pessoa: converter-se, escolhendo, a cada momento, a única coisa que importa: passar da morte para a vida através do amor...

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