Inicio
A França acabava de sair do caos em que
a Revolução a mergulhara. A Igreja, novamente livre, purificava os templos que
a impiedade não destruíra. Reconstruía, pelo menos em parte, o que a
Tormea da Revolução arruinara. Reorganizava seus quadros sacerdotais e se
esforçava por preencher as lacunas que o martírio, a apostasia e a morte havia
causado em suas fileiras. À frente da Diocese de Lião se encontrava, na época,
o ilustre e piedoso cardeal Fesch, tio do imperador Napoleão.(p.1)
O filho abençoado que teve, e que viria
a ser tão ilustre servo de Maria, foi, sem dúvida, a recompensa de sua devoção
à excelsa Mãe de Deus e de sua fidelidade em honrá-la. Amamentou-o e educou-o
pessoalmente, como aliás, procedera com os outros filhos. Logo que balbuciou as
primeiras palavras teve ela ao maior cuidado em lhe ensinar as orações comuns
do cristão e fazê-lo repetir com freqüência os santos nomes de Jesus e
Maria.(p.2-3)
Amor terno da Mãe
Embora amasse com ternura todos os
filhos, tinha afeição especial pelo pequeno Marcelino, não por ser o caçula,
mas por pressentir o que ele seria mais tarde. Esse pressentimento foi
confirmado por um sinal, que pode ser considerado sobrenatural, e prenunciava
os desígnios de Deus sobre estas crianças e o bem que, por meio dela, queria
fazer à sua Igreja. Várias vezes, ao aproximar-se do berço em que dormia o
nenê, ela percebeu uma chama luminosa que parecia sair-lhes do peito e, após
rodear-lhe a cabeça, elevava-se e se espalhava pelo quarto. Esse fato
impressionou-a causando-lhe medo e admiração, e não duvidou mais de que o céu
tivesse para a criança planos de misericórdia, desconhecidos por elas, mas com
os quais devia colaborar, educando-a de modo todo particular na piedade.(p.3).
Professor que ajudou a torná-lo tímido
A mãe e a tia, sem condições de
ensiná-lo a ler senão imperfeitamente, enviaram-no a um professor para
aperfeiçoar-lhe a leitura e ensinar-lhe a escrever. No primeiro dia, como era
tímido e não ousava sair de seu lugar, o mestre o chamou junto a si para a
leitura, mas outro aluno apresentou-se e apostou-se à frente de Marcelino. O
mestre, tomado de nervosismo, pensando talvez em agradar ao jovem Marcelino,
deu uma bofetada no rapaz que se adiantara e mandou-o chorando para o fundo da
sala. Tal atitude não era de molde a tranqüilizar o novo aluno, menos ainda
levá-lo a curar sua timidez. Ele diria mais tarde que tremia todo e tinha mais
vontade de chorar que de ler. Essa brutalidade revoltou-lhe o espírito de
justiça. Pensou consigo: não volto à escola de um tal mestre; o tratamento
injusto dado àquele menino prova o que posso esperar dele. Na primeira ocasião
poderá tratar-me de igual maneira. Não me interessam, pois, nem suas lições e
menos ainda seus castigos. De fato, apesar das instâncias dos pais não quis
mais voltar a estudar com aquele professor.(p.3-4).
Chamado vocacional
O Pe. Courbon, de
Saint-Genest-Malifaux, tinha especial estima pelo Pe. Allirot, pároco de
Marlhes. Por intermédio de um professor do seminário maior, natural da região,
que lá passaria alguns dias de férias, pediu-lhe que procurasse alguns jovens
inteligentes, piedosos e com inclinação para a vida sacerdotal.
…O segundo mais velho e o caçula Marcelino, que estavam juntos no moinho, chegaram naquele instante:
- Olhem, diz-lhes o pai, o padre veio buscá-los para estudarem latim; querem ir com ele?
A resposta do maior foi clara: pronunciou um não seco, mas expressivo. Marcelino, embaraçado, balbuciou algumas palavras inaudíveis. Mas o sacerdote tomou-o à parte para examiná-lo mais de perto. Ficou tão encantado com sua simplicidade, candura, modéstia, com o espírito aberto e leal, que lhe disse: “Meu rapaz, você precisa estudar latim e ser padre; Deus o quer”.
Após alguns momentos de conversa, Marcelino estava decidido a respeito de sua vocação e sua decisão foi irrevogável.(p.8-9).
…O segundo mais velho e o caçula Marcelino, que estavam juntos no moinho, chegaram naquele instante:
- Olhem, diz-lhes o pai, o padre veio buscá-los para estudarem latim; querem ir com ele?
A resposta do maior foi clara: pronunciou um não seco, mas expressivo. Marcelino, embaraçado, balbuciou algumas palavras inaudíveis. Mas o sacerdote tomou-o à parte para examiná-lo mais de perto. Ficou tão encantado com sua simplicidade, candura, modéstia, com o espírito aberto e leal, que lhe disse: “Meu rapaz, você precisa estudar latim e ser padre; Deus o quer”.
Após alguns momentos de conversa, Marcelino estava decidido a respeito de sua vocação e sua decisão foi irrevogável.(p.8-9).
…Pouco importa, acrescenta o prelado, a
maneira pela qual alguém ingressou, contanto que persevere. Aqueles que foram
coagidos a entrar no banquete nupcial do Evangelho, nem por isso deixaram de
provar-lhe as delícias. Muitas pessoas foram levadas às casas religiosas por
estes últimos meios, lá perseveraram, tornaram-se grandes servos de Deus e
excelentes religiosos.
Pelo contrário, muitos dos chamados por
vias extraordinárias não perseveraram e se perderam. Judas é uma prova disso.
Fora escolhido diretamente por Jesus como os demais apóstolos.
A decisão assumida por Marcelino
Champagnat de aprender o latim não era veleidade. Os pais, cientes dos fracos
dotes do filho, tentaram dissuadi-lo, alegando as dificuldades que tivera na
aprendizagem da leitura e a falta de gosto pelo estudo. Tudo o que disseram foi
inútil. O rapaz perdeu o atrativo pelos trabalhos e pelo pequeno comércio, aos
quais outrora se dedicara com tanto afinco. Sua resolução estava tomada e
respondeu claramente que só pensava em estudar. Por ele, teria entrado
imediatamente no seminário, mas o que sabia de ler e escrever era insuficiente
para iniciar o latim, pediu, pois, aos pais para morar, durante algum tempo,
com um de seus tios, professor na paróquia de Saint-Sauveur. Conhecedor do
latim, ele podia ensinar-lhe os primeiros rudimentos, enquanto aperfeiçoava a
instrução primária. Passou um ano na casa do tio, que lhe dispensou o máximo
cuidado sem, no entanto, conseguir dele progressos sensíveis. Assim, no fim do
ano achou que o sobrinho não devia entrar no seminário.(p.9-10).
Na época de seu ingresso no seminário,
acharam-no tão atrasado em leitura e escrita, que o aconselharam a estudar
francês durante alguns meses. Nem quis ouvir falar nisso e pediu
encarecidamente ao superior para começar o estudo do latim. Para contentá-lo, o
superior consentiu, convencido de que dentro de alguns dias, acabaria se
aborrecendo, e viria pedir para freqüentar a aula de leitura. Deu-se porém, o
contrário: no fim de poucos meses, figurava entre os primeiros da classe e
neste primeiro ano completou a oitava e a sétima séries.
A aplicação ao estudo não lhe prejudicou o cuidado pela perfeição. Tinha, de fato, grande desejo de instruir-se, pois não ignorava que a ciência lhe seria necessária; mas, acima de tudo, desejava tornar-se virtuoso. A vida ordenada do seminário, os exercícios de piedade que nele se praticavam, os conselhos, a sábia direção dos superiores e os exemplos edificantes que presenciavam propiciaram-lhe os recursos que soube aproveitar. Os exercícios de piedade tinham, para ele, um encanto especial: deles participava com muito fervor e modéstia, o que imediatamente chamou a atenção dos superiores e dos alunos. Não contente com as orações comunitárias, pedia muitas vezes para rezar em particular; gostava, sobretudo, de visitar Jesus sacramentado, durante os recreios. A devoção a Maria Santíssima, a S. Luiz Gonzaga e S. Francisco Régis cresceu com as instruções e práticas de piedade do seminário em honra da mãe de Deus e destes dois grandes santos. Até aí contentaram-se com a recepção mensal dos sacramentos. No seminário pediu para comungar quinzenalmente, e depois, cada domingo. As cerimônias litúrgicas, que no seminário se revestiam de pompa, encantavam seu coração e o fazia, transbordar de sentimentos afetuosos, dificilmente contidos. Freqüentes vezes os cantos religiosos lhe arrancaram lágrimas, especialmente o cântico de Santa Teresa sobre a santa comunhão e o desejo da morte.(p.12-13).
A aplicação ao estudo não lhe prejudicou o cuidado pela perfeição. Tinha, de fato, grande desejo de instruir-se, pois não ignorava que a ciência lhe seria necessária; mas, acima de tudo, desejava tornar-se virtuoso. A vida ordenada do seminário, os exercícios de piedade que nele se praticavam, os conselhos, a sábia direção dos superiores e os exemplos edificantes que presenciavam propiciaram-lhe os recursos que soube aproveitar. Os exercícios de piedade tinham, para ele, um encanto especial: deles participava com muito fervor e modéstia, o que imediatamente chamou a atenção dos superiores e dos alunos. Não contente com as orações comunitárias, pedia muitas vezes para rezar em particular; gostava, sobretudo, de visitar Jesus sacramentado, durante os recreios. A devoção a Maria Santíssima, a S. Luiz Gonzaga e S. Francisco Régis cresceu com as instruções e práticas de piedade do seminário em honra da mãe de Deus e destes dois grandes santos. Até aí contentaram-se com a recepção mensal dos sacramentos. No seminário pediu para comungar quinzenalmente, e depois, cada domingo. As cerimônias litúrgicas, que no seminário se revestiam de pompa, encantavam seu coração e o fazia, transbordar de sentimentos afetuosos, dificilmente contidos. Freqüentes vezes os cantos religiosos lhe arrancaram lágrimas, especialmente o cântico de Santa Teresa sobre a santa comunhão e o desejo da morte.(p.12-13).
CONTINUA AMANHÃ!
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