O Pe. Champagnat não ignorava o
que pensava e diziam dele publicamente; pouco o sensibilizavam, porém, os
pareceres dos homens e jamais tomou por norma de conduta os princípios da
prudência humana. Assim, muito embora tivesse sobre os ombros o encargo de uma
comunidade numerosa, uma dívida de quatro mil francos e nenhum dinheiro,
unicamente com sua confiança em Deus, uma confiança sem limites, empreendeu sem
temor a construção de uma casa muito vasta, com uma capela, e capaz de alojar
cento e cinqüenta pessoas. A aquisição do terreno e a construção constaram-lhe
mais de sessenta mil francos. Era algo realmente desconcertante para a prudência
humana; não devemos, portanto, estranhar que a execução do projeto trouxesse
tantas contrariedades a seu autor. Para diminuir as despesas, toda a comunidade
trabalhou na obra. Até mesmo os Irmãos já ocupados no ensino foram chamados a
dar sua colaboração. Todos porfiaram em zelo e dedicação. Ninguém, nem
mesmo os mais fracos e doentes, consentiu em ficar alheio ao trabalho. Todos
queriam ter a satisfação de contribuir para edificar a casa que lhes era tão
querida. Aqui, porém, não foi como em Lavalla, onde somente os Irmãos
construíram a obra completa; exclusivamente os pedreiros se incumbiram desta
parte, enquanto os Irmãos se ocupavam em extrair e carregar pedras, puxar
areia, preparar argamassa e fazer-se de servente de pedreiros.
No início de maio de 1824, o Pe. Cholleton, vigário geral, veio benzer a pedra fundamental; a carência era extrema; nem almoço conseguiram oferecer-lhe. O Irmão cozinheiro dirigindo-se ao Pe. Champagnat, observou:
- O que é que eu faço, Padre? Não tenho absolutamente nada para oferecer ao Pe. Cholleton.
Após um instante de reflexão, o Padre respondeu:
- Vá dizer ao Senhor Basson que vou almoçar na casa dele com o vigário geral.
O senhor Basson era homem rico e muito amigo dos Irmãos; recebeu-os com grande prazer. Aliás, não era a primeira vez que o Pe. Champagnat lhe pedia semelhante serviço; agia assim todas as vezes que precisava.
Para abrigar os Irmãos, o Pe. Champagnat alugou uma casa velha à margem esquerda do Gier, defronte àquela que se estava construindo. Os Irmãos dormiam num celeiro de péssimas condições, tão apertado que amontoavam-se uns sobre os outros. A alimentação era simples e frugal: pão, queijo e alguns legumes enviados de Saint-Chamond por pessoas caridosas; às vezes, excepcionalmente, um pouco de toucinho e sempre água pura como bebida: era esse regime de vida deles. O bom Padre partilhava a casa e a comida dos Irmãos e muitas vezes tomava para si o que havia de pior. Assim, não encontrando dentro de casa um cantinho onde colocar a cama, viu-se obrigado a ajeitá-la numa espécie de sacada exposta às intempéries e protegida apenas por um beiral. Dormiu ali todo o verão; durante o inverno, desceu para o estábulo. Além disso, a casa se achava em estado tão deplorável que os Irmãos e o Padre sofreram terrivelmente pelo espaço de quase um ano em que ali ficaram.
Enquanto durou a construção, o levantar era às quatro da madrugada. O Pe. Champagnat dava o sinal e, se necessário, trazia o lume aos dormitórios. Após o levantar a comunidade se reunia no bosque, onde se erguia uma capelinha dedicada a Maria e que fora construída pelo próprio Pe. Champagnat. Uma cômoda servia de credência e de altar; para fazer de campanário, havia um carvalho, onde estava pendurado o sino. Esta capela não podia abrigar a comunidade toda; só entravam o celebrante, os dois coroinhas e os Irmãos principais; os outros ficavam de fora. Todos, ajoelhados perante a imagem da Mãe de Deus, rezavam com tanto fervor que pareciam aniquilados; não se ouvia outro ruído além do farfalhar das folhas, do murmúrio das águas da torrente que deslizava um pouco mais a baixo e do canto dos passarinhos. Cada manhã a comunidade se reunia na capela onde os Irmãos, após as preces vocais, faziam maia hora de meditação e assistiam à missa. Após o almoço lá voltavam, a fim de visitar a Santíssima Virgem. Encerrava-se o dia com a reza do terço. Quantas vezes, na estrada da montanha fronteira, os viandaantes paravam e olhavam de um lado e do outro, procurando donde vinham aquelas vozes que cantavam com tanto entusiasmo e afirmação! Eram os Irmãos que, ocultos sob as árvores e ajoelhados perante o altarzinho onde se imolava o Cordeiro imaculado, entoavam os louvores de Jesus e de Maria.
Concluída a celebração eucarística, cada qual se encaminhava para seu trabalho, a ele se entregando conforme as forças, e em silêncio. A cada hora do dia, o Irmão responsável pelo horário tocava uma sineta; suspendia-se, então, o trabalho; cada qual se concentrava, e todos, rezavam o Glória Patri, a Ave Maria e a invocação a Jesus, Maria, José. Nem precisa dizer que o Pe. Champagnat era sempre o primeiro no trabalho; organizava tudo, dava ocupação a todos, supervisionava o andamento das obras, o que não o impedia, segundo o depoimento dos próprios operários, de alcançar maior rendimento em alvenaria do que o mais eficiente dos pedreiros. Conforme já dissemos, os Irmãos não trabalhavam em alvenaria; os pedreiros admitiram apenas o Pe. Champagnat neste tipo de trabalho, porque executava-o com perfeição. Muitas vezes foi visto trabalhando sozinho, durante a sesta dos operários, ou ao entardecer, após a faina diária. Aproveitava a noite para rezar o ofício divino, acertar as contas, anotar as jornadas dos operários, as compras do material e prever os trabalhos do dia seguinte. Depois de tudo isso, podemos facilmente concluir que seu tempo de repouso era muito limitado.
Um fato digno de menção, que deve ser visto como resultado da proteção de Deus sobre a comunidade, é que, tendo o Pe. Champagnat feito construção ao longo de toda a vida e empregado sempre os Irmãos nesta atividade, nunca houve um acidente sequer, nem para os Irmãos nem para os operários. Por várias vezes acidentes graves ameaçaram a comunidade, mas sempre a divina Providência, por intercessão de Maria, deteve ou removeu as conseqüências. Eis alguns exemplos: um operário trabalhava a grande altura, do lado voltado para o rio; despencou e, na queda, iria certamente esmigalhar-se de encontro a enormes pedras que estavam embaixo; mas, ao cair junto com o material que estava no andaime, teve a sorte de agarrar-se a um galho de árvore, onde ficou dependurado até virem socorrê-lo. Não sofreu nada, nem sequer um arranhão; mas a proteção de Deus ficou mais evidente porque, sendo a árvore quebradiça e o galho muito frágil, normalmente não poderia agüentar um peso desses.
Um jovem Irmão, servente dos pedreiros do terceiro andar, pisou numa tábua meio podre que se quebrou sob seus pés e o arrastou na queda. Ao cair, recomendou-se à Santíssima Virgem e ficou suspenso por uma das mãos, com o corpo embaixo do andaime. Corria tamanho perigo que o primeiro operário que foi socorrê-lo nem se atreveu a tocá-lo. Felizmente um segundo, mais corajoso e decidido, acudiu, agarrou-lhe a mão e o retirou são e salvo, sem outra conseqüência além do susto.
Uma dezena de Irmãos, dos mais robustos, estavam carregando pedras para o segundo andar. Um deles, ao chegar ao topo da escada com uma enorme pedra aos ombros, sente-se mal com tamanho peso e amolecem-lhe as pernas e deixa cair a pedra. Na queda, a pedra derruba o Irmão que vinha logo atrás. Mesmo não esperando por essa, desvia ligeiramente a cabeça, de modo que a pedra só o atinge de raspão, causando-lhe nada mais que um esfolamento. Do alto da escada o Pe. Champagnat presenciou o acidente considerando certa a morte do Irmão, deu-lhe a absolvição. Mesmo não tendo sofrido mal maior, o susto foi tão grande que o acidentado pôs-se a correr pelo campo como um desatinado. Todos os Irmãos presentes a esta cena passaram por igual susto e sobretudo o Pe. Champagnat, que logo mandou agradecer a Deus pela proteção recebida. E, no dia seguinte, celebrou ainda uma missa em ação de graças.
Embora sobrecarregado de ocupações, o Pe. Champagant sempre encontrava alguns instantes, seja à noite, seja aos domingos, para instruir os Irmãos e formá-los à piedade. Ministrou-lhes, no decurso desse verão, sólidos ensinamentos sobre a vocação religiosa, a finalidade do Instituto e o zelo pela educação cristã das crianças. Para relembrar aos Irmãos aquilo que lhes transmitira sobre esses diversos temas, entregou-lhes um resumo escrito no qual, em poucas palavras, estavam as principais coisas que lhes havia dito. Aqui está o essencial:
“A finalidade dos Irmãos, ingressando no Instituto, foi antes de mais nada assegurar a salvação da alma e tornarem-se dignos deste imenso tesouro de glória que Deus lhes promete, e que Jesus Cristo lhes mereceu por seu sangue e sua morte na cruz.
Eis os principais meios que Deus lhes deu para adquirir a virtude, santificar-se e merecer o céu: a oração, vocal e mental, a recepção dos sacramentos, a assistência diária à missa, as visitas ao Santíssimo Sacramento, a leitura espiritual, a Regra e a correção fraterna.(p.113-117).
No início de maio de 1824, o Pe. Cholleton, vigário geral, veio benzer a pedra fundamental; a carência era extrema; nem almoço conseguiram oferecer-lhe. O Irmão cozinheiro dirigindo-se ao Pe. Champagnat, observou:
- O que é que eu faço, Padre? Não tenho absolutamente nada para oferecer ao Pe. Cholleton.
Após um instante de reflexão, o Padre respondeu:
- Vá dizer ao Senhor Basson que vou almoçar na casa dele com o vigário geral.
O senhor Basson era homem rico e muito amigo dos Irmãos; recebeu-os com grande prazer. Aliás, não era a primeira vez que o Pe. Champagnat lhe pedia semelhante serviço; agia assim todas as vezes que precisava.
Para abrigar os Irmãos, o Pe. Champagnat alugou uma casa velha à margem esquerda do Gier, defronte àquela que se estava construindo. Os Irmãos dormiam num celeiro de péssimas condições, tão apertado que amontoavam-se uns sobre os outros. A alimentação era simples e frugal: pão, queijo e alguns legumes enviados de Saint-Chamond por pessoas caridosas; às vezes, excepcionalmente, um pouco de toucinho e sempre água pura como bebida: era esse regime de vida deles. O bom Padre partilhava a casa e a comida dos Irmãos e muitas vezes tomava para si o que havia de pior. Assim, não encontrando dentro de casa um cantinho onde colocar a cama, viu-se obrigado a ajeitá-la numa espécie de sacada exposta às intempéries e protegida apenas por um beiral. Dormiu ali todo o verão; durante o inverno, desceu para o estábulo. Além disso, a casa se achava em estado tão deplorável que os Irmãos e o Padre sofreram terrivelmente pelo espaço de quase um ano em que ali ficaram.
Enquanto durou a construção, o levantar era às quatro da madrugada. O Pe. Champagnat dava o sinal e, se necessário, trazia o lume aos dormitórios. Após o levantar a comunidade se reunia no bosque, onde se erguia uma capelinha dedicada a Maria e que fora construída pelo próprio Pe. Champagnat. Uma cômoda servia de credência e de altar; para fazer de campanário, havia um carvalho, onde estava pendurado o sino. Esta capela não podia abrigar a comunidade toda; só entravam o celebrante, os dois coroinhas e os Irmãos principais; os outros ficavam de fora. Todos, ajoelhados perante a imagem da Mãe de Deus, rezavam com tanto fervor que pareciam aniquilados; não se ouvia outro ruído além do farfalhar das folhas, do murmúrio das águas da torrente que deslizava um pouco mais a baixo e do canto dos passarinhos. Cada manhã a comunidade se reunia na capela onde os Irmãos, após as preces vocais, faziam maia hora de meditação e assistiam à missa. Após o almoço lá voltavam, a fim de visitar a Santíssima Virgem. Encerrava-se o dia com a reza do terço. Quantas vezes, na estrada da montanha fronteira, os viandaantes paravam e olhavam de um lado e do outro, procurando donde vinham aquelas vozes que cantavam com tanto entusiasmo e afirmação! Eram os Irmãos que, ocultos sob as árvores e ajoelhados perante o altarzinho onde se imolava o Cordeiro imaculado, entoavam os louvores de Jesus e de Maria.
Concluída a celebração eucarística, cada qual se encaminhava para seu trabalho, a ele se entregando conforme as forças, e em silêncio. A cada hora do dia, o Irmão responsável pelo horário tocava uma sineta; suspendia-se, então, o trabalho; cada qual se concentrava, e todos, rezavam o Glória Patri, a Ave Maria e a invocação a Jesus, Maria, José. Nem precisa dizer que o Pe. Champagnat era sempre o primeiro no trabalho; organizava tudo, dava ocupação a todos, supervisionava o andamento das obras, o que não o impedia, segundo o depoimento dos próprios operários, de alcançar maior rendimento em alvenaria do que o mais eficiente dos pedreiros. Conforme já dissemos, os Irmãos não trabalhavam em alvenaria; os pedreiros admitiram apenas o Pe. Champagnat neste tipo de trabalho, porque executava-o com perfeição. Muitas vezes foi visto trabalhando sozinho, durante a sesta dos operários, ou ao entardecer, após a faina diária. Aproveitava a noite para rezar o ofício divino, acertar as contas, anotar as jornadas dos operários, as compras do material e prever os trabalhos do dia seguinte. Depois de tudo isso, podemos facilmente concluir que seu tempo de repouso era muito limitado.
Um fato digno de menção, que deve ser visto como resultado da proteção de Deus sobre a comunidade, é que, tendo o Pe. Champagnat feito construção ao longo de toda a vida e empregado sempre os Irmãos nesta atividade, nunca houve um acidente sequer, nem para os Irmãos nem para os operários. Por várias vezes acidentes graves ameaçaram a comunidade, mas sempre a divina Providência, por intercessão de Maria, deteve ou removeu as conseqüências. Eis alguns exemplos: um operário trabalhava a grande altura, do lado voltado para o rio; despencou e, na queda, iria certamente esmigalhar-se de encontro a enormes pedras que estavam embaixo; mas, ao cair junto com o material que estava no andaime, teve a sorte de agarrar-se a um galho de árvore, onde ficou dependurado até virem socorrê-lo. Não sofreu nada, nem sequer um arranhão; mas a proteção de Deus ficou mais evidente porque, sendo a árvore quebradiça e o galho muito frágil, normalmente não poderia agüentar um peso desses.
Um jovem Irmão, servente dos pedreiros do terceiro andar, pisou numa tábua meio podre que se quebrou sob seus pés e o arrastou na queda. Ao cair, recomendou-se à Santíssima Virgem e ficou suspenso por uma das mãos, com o corpo embaixo do andaime. Corria tamanho perigo que o primeiro operário que foi socorrê-lo nem se atreveu a tocá-lo. Felizmente um segundo, mais corajoso e decidido, acudiu, agarrou-lhe a mão e o retirou são e salvo, sem outra conseqüência além do susto.
Uma dezena de Irmãos, dos mais robustos, estavam carregando pedras para o segundo andar. Um deles, ao chegar ao topo da escada com uma enorme pedra aos ombros, sente-se mal com tamanho peso e amolecem-lhe as pernas e deixa cair a pedra. Na queda, a pedra derruba o Irmão que vinha logo atrás. Mesmo não esperando por essa, desvia ligeiramente a cabeça, de modo que a pedra só o atinge de raspão, causando-lhe nada mais que um esfolamento. Do alto da escada o Pe. Champagnat presenciou o acidente considerando certa a morte do Irmão, deu-lhe a absolvição. Mesmo não tendo sofrido mal maior, o susto foi tão grande que o acidentado pôs-se a correr pelo campo como um desatinado. Todos os Irmãos presentes a esta cena passaram por igual susto e sobretudo o Pe. Champagnat, que logo mandou agradecer a Deus pela proteção recebida. E, no dia seguinte, celebrou ainda uma missa em ação de graças.
Embora sobrecarregado de ocupações, o Pe. Champagant sempre encontrava alguns instantes, seja à noite, seja aos domingos, para instruir os Irmãos e formá-los à piedade. Ministrou-lhes, no decurso desse verão, sólidos ensinamentos sobre a vocação religiosa, a finalidade do Instituto e o zelo pela educação cristã das crianças. Para relembrar aos Irmãos aquilo que lhes transmitira sobre esses diversos temas, entregou-lhes um resumo escrito no qual, em poucas palavras, estavam as principais coisas que lhes havia dito. Aqui está o essencial:
“A finalidade dos Irmãos, ingressando no Instituto, foi antes de mais nada assegurar a salvação da alma e tornarem-se dignos deste imenso tesouro de glória que Deus lhes promete, e que Jesus Cristo lhes mereceu por seu sangue e sua morte na cruz.
Eis os principais meios que Deus lhes deu para adquirir a virtude, santificar-se e merecer o céu: a oração, vocal e mental, a recepção dos sacramentos, a assistência diária à missa, as visitas ao Santíssimo Sacramento, a leitura espiritual, a Regra e a correção fraterna.(p.113-117).
O Pe. Champagnat cogitava fazer
novas diligências junto ao governo para obter a aprovação legal do seu
Instituto. De ano para ano crescia o número de Irmãos sujeitos ao alistamento
militar e, sobretudo depois da Lei de 1833 sobre o ensino fundamental, não
havia possibilidade de isentá-los, se não tivesse certificado de habilitação
para o ensino primário. Fez uma revisão dos estatutos, adaptando-os à nova lei,
e dirigiu um requerimento ao rei, entregue a Sua Majestade por um deputado
amigo do Instituto. O conselho da Universidade examinou e aprovou os estatutos.
Quanto à autorização, o Sr. Guizot, ministro da Instrução Pública, respondeu em
nome do rei que não podia concedê-la.(p.163).
Doença(p.195-196)
Desde sua enfermidade de 1825, nunca
mais o Pe. Champagnat se restabeleceu completamente. Durante vários anos
sofreu de uma pleurodinia que lhe causava dores agudas todas as vezes que
fazia um trabalho penoso ou era obrigado a andar algum tempo. A esse incômodo
somou-se, mais tarde, uma fraqueza de estômago que, em pouco tempo, degenerou
em gastrite bem caracterizada, resultado, sem dúvida, das privações diárias e
dos jejuns prolongados do bom Padre. Já observamos que, em suas freqüentes
viagens não poucas vezes passava dias inteiros sem nada comer. Outras vezes,
animado pelo espírito de penitência e mortificação, escolhia os alimentos mais
comuns e o que havia de menos gostoso na mesa. Esse gênero de vida acabou
gerando nele uma gastrite crônica, sem esperança de cura. Antes da viagem a
Paris, já se repetiam os vômitos e ele não suportava mais certos alimentos.
Pior ainda, qualquer espécie de comida o enfastiava. O estômago estava cheio de
mucosidade esbranquiçada expelida em expectoração e vômitos quase contínuos. A
extenuante correria na capital e os dissabores de toda sorte que suportou,
acabaram arruinando-lhe a constituição física, minando-lhe as poucas forças que
ainda lhe sobravam. Assim, ao voltar de Paris, sentiu logo que não iria longe.
Embora o Pe. Champagnat sentisse as
forças diminuírem e a doença se agravar dia a dia, não conseguia poupar-se nem
descansar. Assim, alguns dias depois de encerrar o retiro dos Irmãos foi para
La Côte-Saint-André, com outro padre, para pregar um retiro aos alunos
internos. Achava-se tão debilitado, enfermo e extenuado, que inspirava
compaixão. O ar de bondade, piedade e santidade que transparecia em seu semblante
impressionou de tal maneira os alunos, que a maioria quis confessar-se com ele.
Não se cansava de olhá-lo, admira-lo, e diziam entre si: “Este padre é um
santo”. As instruções e os conselhos do bom padre produziram copiosos frutos de
salvação, e sua lembrança gravou-se por muito tempo no espírito de muitos, como
um bálsamo de piedade e virtude.(p.200).
Quinta-Feira Santa
Na quinta-feira santa quis rezar a
missa em Grange-Payre. Como procurassem dissuadi-lo, replicou: “Deixem-me ir. É
a última vez que vou lá. Se demorar mais tempo, não poderei despedir-me
daqueles santos Irmãos e dos seus alunos”. Foi a cavalo e, depois de celebrar
missa, pediu para falar aos internos. “Meus filhos: Deus lhes concedeu grande
favor dando-lhes mestres piedosos, virtuosos que continuamente lhes dão bons
exemplos e os instruem com segurança nas verdades da religião. Aproveitem os
seus ensinamentos, sigam os conselhos que lhes dão e imitem seus bons exemplos.
Lembrem-se amiúde de que Cristo os amou muito, morreu por vocês e lhes prepara
a felicidade eterna no céu. Não esqueçam que o pecado é o maior de todos os
males e pode fazer-lhes perder esta felicidade. Temam o pecado: considerem-no
seu grande inimigo e peçam diariamente a Deus que não cometam nenhum.
Conseguirão esta graça e haverão de salvar suas almas se tiverem verdadeira
devoção à Santíssima Virgem e se rezarem diariamente o Lembrai-vos, ou qualquer
outra oração para se colocarem sob sua proteção. Sim, meus filhos, se confiarem
plenamente em Maria, ela lhes obterá a graça de entrar no céu, eu lhes
garanto”. Ao retornar a 1’Hermitage, disse: “Vi Grange-Payre pela derradeira
vez. Estou contente por ter feito essa visita. Foi para mim real consolação ver
essas criancinhas e pedir-lhes fossem sempre bem-comportadas”.
Na véspera do mês de maio, embora estivesse muito fraco, e sofrendo muito, quis pessoalmente presidir a abertura dos exercícios do mês de Maria e celebrar a bênção do Ssmo. Sacramento. Mas cansou tanto e sentiu-se tão mal que, ao voltar para o quarto, exclamou: “Estou no fim; acho que desta vez eu vou”. O Ir. Estanislau chegou naquele instante. O bom Padre, vendo-o mais alegre e mais contente que de costume, perguntou-lhe.
- De onde lhe vem esta alegria?
- É que durante os exercícios do mês de maio pensei que Maria, comovida com nossas súplicas, haverá de lhe devolver a saúde antes do fim do mês.
- Está enganado, meu Irmão, o fim do mês de Maria será penosíssimo para mim; grandes sofrimentos me aguardam. Confio, porém, na ajuda da divina Mãe para suportá-los com paciência e resignação.
Assim aconteceu: no final do mês as dores tornaram-se intoleráveis. Porém, graças à proteção de Maria, na qual depositava absoluta confiança, maior foi sua paciência e resignação.
No dia seguinte, um Irmão dos mais antigos veio visitá-lo e, após breve conversa, lhe disse:
- Padre, precisaríamos tanto que Deus o deixasse por mais tempo entre nós! Que será de nós e quem poderá nos dirigir, se o perdermos?
- Meu caro Irmão, não se preocupe com isso! Porventura Deus não achará gente para realizar sua obra? O Irmão que elegeram para me suceder fará melhor que eu. A gente é apenas um instrumento, ou melhor, não é nada. Deus é quem faz tudo. Você deveria compreender essa verdade, pois está entre os veteranos e presenciou as origens do Instituto. Acaso a Providência não cuidou sempre de nós? Não foi ela que nos congregou e nos fez triunfar de todos os obstáculos? Forneceu-nos recursos para construir esta casa, abençoou nossas escolas e lhes deu prosperidade, embora fôssemos gente sem talento. Em suma, não foi a divina Providência que tudo realizou entre nós? Ora, ela cuidou do Instituto até hoje, porque não cuidaria dele no futuro? Pensa, acaso, que ela deixará de protegê-lo, por causa de um homem a menos? Desiluda-se, repito, os homens não contam para esta obra. Deus a abençoará, não por causa dos homens que a dirigem, mas por causa da sua infinita bondade e dos desígnios de misericórdia em favor dos meninos e nós confiados.(p.204-205).
Na véspera do mês de maio, embora estivesse muito fraco, e sofrendo muito, quis pessoalmente presidir a abertura dos exercícios do mês de Maria e celebrar a bênção do Ssmo. Sacramento. Mas cansou tanto e sentiu-se tão mal que, ao voltar para o quarto, exclamou: “Estou no fim; acho que desta vez eu vou”. O Ir. Estanislau chegou naquele instante. O bom Padre, vendo-o mais alegre e mais contente que de costume, perguntou-lhe.
- De onde lhe vem esta alegria?
- É que durante os exercícios do mês de maio pensei que Maria, comovida com nossas súplicas, haverá de lhe devolver a saúde antes do fim do mês.
- Está enganado, meu Irmão, o fim do mês de Maria será penosíssimo para mim; grandes sofrimentos me aguardam. Confio, porém, na ajuda da divina Mãe para suportá-los com paciência e resignação.
Assim aconteceu: no final do mês as dores tornaram-se intoleráveis. Porém, graças à proteção de Maria, na qual depositava absoluta confiança, maior foi sua paciência e resignação.
No dia seguinte, um Irmão dos mais antigos veio visitá-lo e, após breve conversa, lhe disse:
- Padre, precisaríamos tanto que Deus o deixasse por mais tempo entre nós! Que será de nós e quem poderá nos dirigir, se o perdermos?
- Meu caro Irmão, não se preocupe com isso! Porventura Deus não achará gente para realizar sua obra? O Irmão que elegeram para me suceder fará melhor que eu. A gente é apenas um instrumento, ou melhor, não é nada. Deus é quem faz tudo. Você deveria compreender essa verdade, pois está entre os veteranos e presenciou as origens do Instituto. Acaso a Providência não cuidou sempre de nós? Não foi ela que nos congregou e nos fez triunfar de todos os obstáculos? Forneceu-nos recursos para construir esta casa, abençoou nossas escolas e lhes deu prosperidade, embora fôssemos gente sem talento. Em suma, não foi a divina Providência que tudo realizou entre nós? Ora, ela cuidou do Instituto até hoje, porque não cuidaria dele no futuro? Pensa, acaso, que ela deixará de protegê-lo, por causa de um homem a menos? Desiluda-se, repito, os homens não contam para esta obra. Deus a abençoará, não por causa dos homens que a dirigem, mas por causa da sua infinita bondade e dos desígnios de misericórdia em favor dos meninos e nós confiados.(p.204-205).
CONTINUA...
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