Francisco vê a comunicação como uma ação cosmológica, para além das tecnologias, envolvendo a relação imanente das pessoas entre si, abertas também ao Transcendente, que tem rosto, nome e dialoga conosco como “um Deus apaixonado”.
A análise é
Moisés Sbardelotto, jornalista, doutorando em Ciências das Comunicação pela
Unisinos e autor do livro
E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet (Ed. Santuário, 2012).
Eis o texto. Viver a comunicação como proximidade. Esse é o convite do
Papa Francisco em sua primeira mensagem ao
48º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra no domingo, 1º de junho, intitulada
“Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro”. Trata-se do primeiro documento em que o pontífice argentino se debruça especificamente sobre o tema da comunicação. Uma mensagem tão rica que de nada adiantaria “comentar” o texto: no máximo, poderíamos nos inspirar em
Pierre Menard, do conto de
Jorge Luis Borges, para reconstruir “palavra por palavra e linha por linha” a íntegra da própria mensagem.
Aqui, queremos instigar a leitura e a reflexão da mensagem, retomando também outros momentos em que
Francisco refletiu sobre a importância do comunicar. O texto da mensagem deste ano é a convergência comunicacional profundamente “franciscana” das linhas mestras indicadas pelo papa nesse seu primeiro ano de pontificado para “uma Igreja que consiga levar calor, inflamar o coração”, e que se disponha a “dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao encontro com Cristo”.
Antes, o papa identifica um paradoxo atual: em um mundo que se torna “cada vez menor” graças aos “progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação”, pareceria “mais fácil fazer-se próximo uns dos outros”. Mas, ao contrário,
Francisco reconhece que, “dentro da humanidade, permanecem divisões, e às vezes muito acentuadas”, e a primeira delas é “a distância escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres”, além das “múltiplas formas de exclusão, marginalização e pobreza” e os “conflitos”, também de ordem religiosa. E é a partir desse contexto que o papa reflete sobre a comunicação: não a partir de belas ideias, mas sim de um contexto comunicacional “encarnado”, concreto, marcado pelas “alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (
Gaudium et spes, n.1 ).
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