sábado, 31 de agosto de 2013

Privilegiados de Deus - Dom José Alberto

O Apóstolo Paulo lembra que Deus escolhe os fracos para confundir os poderosos. De fato, os pobres são os privilegiados de Deus. O próprio Jesus ensina a atenção e o amor especial a se dar para com os mais fragilizados socialmente. Só tem recompensa divina quem faz o bem ao empobrecido sem esperar recompensa: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz, porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (Lucas 14,13-14).
 
Acontece que, em geral, quer-se recompensa e se tira muito proveito de um favor ou um bem prestado a outros. O “toma-lá-dá-cá” não se dá apenas na política. Até a “teologia da prosperidade” se coloca muito nessa direção. Buscar a riqueza, mesmo a título do uso da fé, mostra a contramão do despojamento, da oferta de si por verdadeiro amor a Deus e ao próximo.
 
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O Filho de Deus despojou-se de sua igualdade com o Pai e veio participar de nossa pobreza, ensinando-nos a partilha, a solidariedade, a misericórdia, a dar a mão aos caídos da vida, a ação do bom samaritano, a ajuda ao outro que carrega a cruz dos limites da vida, o perdão, a compreensão, a acolhida, a ternura, o dar vez, a saber perder para dar-se em bem de quem precisa...
 
Jesus não quer a miséria. Quer sim a vida simples, a justiça para todos, o despojamento, a busca do Absoluto como a maior riqueza. A pobreza do ser faz a pessoa  relativizar o ter e colocar a finalidade da vida em Deus e não no que é passageiro. Os marginalizados, os sem tudo e sem quem olhe por eles são a menina dos olhos do Senhor. São como os filhos doentes na família, que têm atenção e cuidado especial dos pais. Jesus dá a missão aos discípulos de promover a conversão de todos para amarem os deixados de lado e dar-lhes dignidade. A opção evangélica e preferencial pelos pobres faz parte fundamental da missão dos discípulos do Mestre, a exemplo dele, que vai atrás da ovelha perdida, dos leprosos, das crianças, dos órfãos, das viúvas, dos filhos pródigos, dos doentes, dos encarcerados, dos sem esperança...

Nossa fé autêntica, esclarecida, madura e consciente não nos deixa fazer da religiosidade e espiritualidade uma unilateralidade vertical de nós com Deus, não nos importando com a atenção e a promoção do semelhante necessitado em toda a ordem. Ao contrário, por causa dessa relação com o Senhor, buscamos força para uma fé operante, que nos leva a ajudar a tirar as causas do sofrimento das pessoas deixadas de lado e a tratá-las como merecem, já que não são produtoras de bens materiais para a sociedade consumista. Esta valoriza mais o ter que o ser e não a pessoa humana e sua dignidade de imagem e semelhança de Deus.

Jesus se coloca como pobre e está ao lado dos pobres e nos convida a  imitá-Lo nessa sua atitude.

Texto: Dom José Alberto Moura / Arcebispo de Montes Claros (MG)

Fonte: CNBB


cnbb.org.br/site/articulistas/dom-jose-alberto-moura/12715-privilegiados-de-deus

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