No dia 26 de maio deste ano a Igreja Católica
celebra o mistério insondável de Deus, a Santíssima Trindade. É dogma da fé
católica que proclama a união de três pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito
Santo, formando um só Deus. Para muitas pessoas hoje, a pregação da Igreja a
respeito da Trindade é obscurantismo. Para que ofender a inteligência dizendo
que Deus é ao mesmo tempo um e três? Durante os primeiros séculos de sua
existência, a Igreja tinha enorme dificuldade para expressar em palavras o
inexprimível- a natureza do Deus em que acreditamos. A expressão “Trindade” não
é usada nas Escrituras para designar as três pessoas divinas. Já no Novo
Testamento, cada uma delas é nomeada de forma distinta. Dois grandes concílios
ecumênicos estudaram este grande mistério. O Credo da Igreja Católica que tem o
nome de Niceno-Constantinopolitano foi escrito durante o primeiro Concílio
Ecumênico em Nicéia em 325, e terminado durante o segundo Concílio Ecumênico em
Constantinopla em 381. Chegou à expressão belíssima do Credo
Niceno-Constantinopolitano, infelizmente tão pouco usado nas celebrações de
hoje, que apresenta o Pai como “criador de todas as coisas”, O Filho como “Deus
de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado…”, e
o Espírito Santo que “dá vida, e procede do Pai e do Filho”. Mas, mesmo essas
expressões tão profundas não conseguem explicar a Trindade, pois se Deus fosse
compreensível à mente humana, não seria Deus. A solenidade da Santíssima
Trindade é um convite à admiração, à adoração, à ação de graças, e é também um
convite à reflexão.
O Catecismo da Igreja Católica afirma “Jesus
mesmo confirma que Deus é ‘o único Senhor’ e que é preciso amá-lo de todo o
coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças” (CIC 202 e
Mc 12, 29-30). A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve desde as origens
na raiz da fé viva na Igreja, principalmente por meio do Batismo. Ela encontra
sua expressão na regra da fé batismal, formulada na pregação, na catequese e na
oração da Igreja. Na liturgia eucarística usamos a expressão: “A graça do Senhor
Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos
vós” (2 Cor 13, 13).
Deus criou o ser humano, homem e mulher à sua
imagem e semelhança (Gn 1, 27). Se formos criados na imagem e semelhança de
Deus, é de um Deus que é Trindade, que é comunidade perfeita na diversidade.
Assim, só podemos ser pessoas realizadas na medida em que vivemos
comunitariamente. Quem vive só para si é destinado à frustração e infelicidade,
pois está negando a sua própria natureza. O egoísmo e individualismo são a
negação de quem somos, pois nos fecha sobre nós mesmos, enquanto fomos criados
na imagem de um Deus que é o contrário do individualismo, pois é Trindade.
No mundo pós-moderno, onde o individualismo
social, econômico e religioso é tido como critério fundamental da vida, a
doutrina da Trindade nos desafia para que vivamos a nossa vocação comunitária,
criando uma sociedade de partilha, solidariedade e justiça, pois fomos criados
na imagem e semelhança deste Deus que é amor e comunhão. A festa de hoje não é
de um mistério “matemático” – como pode ter três em um? – mas do mistério do
amor de Deus, que nos criou para que vivêssemos comunitariamente na sua imagem e
semelhança.
Por: Pe. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e
Assessor da CNBB Reg. NE1
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