Ver (um fato verdadeiro)
Há muitos anos, um padre, lá pelas bandas da Amazônia, encontrava-se diante de um dilema: como celebrar a festa de Corpo de Cristo com a bela procissão, segurando o Cristo Sacramentado, andando por caminhos, cobertos de belas e cheirosas flores em forma de tapetes bem desenhados, enquanto aquela procissão havia de passar, necessariamente, em frente aos cortiços sujos, malcheirosos, nos quais muita gente “vivia” empilhada? Tamanha contradição e, pior, incoerência! Após muita reflexão, o padre tomou a corajosa decisão. Em lugar de realizar a tradicional procissão do ‘Corpo Cristi’, deu início à Missa daquele dia de festa, e, após a leitura do Evangelho, convidou o povo da Missa para sair da Igreja, a fim de visitar o povo no cortiço. Era razoavelmente perto. Formou-se, de forma espontânea, uma bela procissão. Dentro daquele mundo subumano, o povo do cortiço ficava admirado com tanta visita irmã, enquanto o povo da Missa ficava entristecido, cabisbaixo, chocado e até revoltado ao perceber tanta miséria, pobreza, mau cheiro, tanta falta de respeito para com o ser humano. Muitos do povo da Missa passavam, diariamente, em frente àquele cortiço, mas nunca haviam procurado entrar, a fim de visitar aquele povo lá dentro. Pois bem, após uma meia hora, uma parte do povo do cortiço se juntava ao povo da Missa e juntos foram até a Igreja! Aquela Missa, tradicionalmente rezada, transformou-se numa verdadeira celebração eucarística, ou seja, Jesus, agora sim, se fazia presente em todo o esplendor do seu amor junto aos seus irmãos e suas irmãs.
Há muitos anos, um padre, lá pelas bandas da Amazônia, encontrava-se diante de um dilema: como celebrar a festa de Corpo de Cristo com a bela procissão, segurando o Cristo Sacramentado, andando por caminhos, cobertos de belas e cheirosas flores em forma de tapetes bem desenhados, enquanto aquela procissão havia de passar, necessariamente, em frente aos cortiços sujos, malcheirosos, nos quais muita gente “vivia” empilhada? Tamanha contradição e, pior, incoerência! Após muita reflexão, o padre tomou a corajosa decisão. Em lugar de realizar a tradicional procissão do ‘Corpo Cristi’, deu início à Missa daquele dia de festa, e, após a leitura do Evangelho, convidou o povo da Missa para sair da Igreja, a fim de visitar o povo no cortiço. Era razoavelmente perto. Formou-se, de forma espontânea, uma bela procissão. Dentro daquele mundo subumano, o povo do cortiço ficava admirado com tanta visita irmã, enquanto o povo da Missa ficava entristecido, cabisbaixo, chocado e até revoltado ao perceber tanta miséria, pobreza, mau cheiro, tanta falta de respeito para com o ser humano. Muitos do povo da Missa passavam, diariamente, em frente àquele cortiço, mas nunca haviam procurado entrar, a fim de visitar aquele povo lá dentro. Pois bem, após uma meia hora, uma parte do povo do cortiço se juntava ao povo da Missa e juntos foram até a Igreja! Aquela Missa, tradicionalmente rezada, transformou-se numa verdadeira celebração eucarística, ou seja, Jesus, agora sim, se fazia presente em todo o esplendor do seu amor junto aos seus irmãos e suas irmãs.
Julgar (uma possível abordagem)
A tradição da nossa fé nos ensina que Jesus pronunciou, naquela Última Ceia, as seguintes palavras: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). O que significa o “fazei isto”?
Para encontrarmos uma resposta, precisamos nos perguntar qual o significado da Eucaristia.
A palavra grega ‘eucaristia’ se refere à ‘ação de graças’. Trata-se do momento em que a comunidade dos que crêem na presença de Jesus na Eucaristia celebra o memorial da morte e ressurreição de Jesus. Portanto, na celebração da Eucaristia se celebra a Nova Aliança estabelecida entre Deus e a humanidade por meio do sacramento do amor definitivo de Deus para conosco, expresso e vivido na morte e ressurreição de Jesus. Esta “Aliança”, este acordo, ou pacto, diz respeito à união firmada entre Deus e nós, nós e Deus, “aquele Deus verdadeiro que amou-nos primeiro sem dividição”, como canta Pedro Casaldáliga na abertura da “Missa dos Quilombos”.
A Eucaristia é uma ação de graças, ou seja, um momento em que vivemos a graça da presença de Deus em nossa vida, assim como a presença de cada um de nós na vida do(a) outro(a), em nossa vida comunitária. Mas este é apenas um lado do sacramento, como de todos os sacramentos, pois todos eles são graça em e para nossa vida. O outro lado do sacramento, porém, constitui uma tarefa, uma missão, uma maneira de ser e de estar no mundo, na qual a graça se concretiza. E esta maneira de ser é exatamente aquilo a que Jesus se refere quando diz “Fazei isto”: vocês também devem olhar o outro, interessar-se por ele, fazer com que o outro seja importante, isto é, vocês também devem doar-se uns aos outros. É esta a verdadeira partilha eucarística e é nela que Jesus e o Pai se fazem presentes em nossa vida e nós na vida dEles.
Consequentemente, Eucaristia é celebrar, renovar e viver intensamente a vida, tornar efetivo o gesto amoroso de Jesus pela prática das ações concretas de amor entre nós, porém, em especial para com os empobrecidos, os excluídos e rejeitados da nossa sociedade.
Agir (uma idéia)
Conforme secular tradição, a Eucaristia é celebrada entre nós em forma de “Missa”. Longe de eu querer desvalidar ou desvalorizar a celebração da Missa. Porém, permitam-me observar que todos nós temos assistido, e ainda assistimos, a Missas, durante as quais são cumpridos os cânones, seguidas as regras e executados os ritos, mas, muitas vezes, sem ligação com a nossa vida, sem paixão com a Paixão de Cristo. Será que desta forma “acontece” a nossa aliança com Deus ou nos aproximamos do amor em Jesus Crucificado e Ressuscitado ou, ainda, construímos a base de uma vivência amorosa entre nós?
Enfim, quero perguntar com muita seriedade e sinceridade: quando nós, padres casados, vamos criar coragem para celebrar a vida da Eucaristia entre nós e juntos com o povo, sem recorrermos aos que ainda se encontram no ministério? O que houve, ou há, para considerarmos que fomos afastados tão definitivamente do amor de Deus para conosco ao ponto de nos acharem, ou de nos acharmos a nós mesmos, impedidos para celebrar nosso amor para com Ele na Eucaristia? Qual sombra escurecedora, assustadora ou pecaminosa foi jogada sobre nossas vidas para sermos considerados, definitivamente, os “ex”, como se o futuro, construído a partir do momento em que optamos por outros caminhos, não valesse nada, ou como se fosse possível dividir a vida em parcelas, sendo que uma não teria nada a ver com a outra?
O belo documento dos padres casados, apresentado ao Papa João Paulo II durante o X Congresso Eucarístico Nacional em Fortaleza em julho de 1980, dizia: “Também nós, padres casados, migramos como Abraão. Deixamos uma terra e o fizemos em nome do nosso Deus. Na outra terra, onde vimos habitar, na nova situação em que agora desenvolvemos outra vida, cultivamos a presença do mesmo Deus, na convicção de que Ele nos inspira, nos acompanha e continua conosco. Somos outros e, no entanto, como Abraão, continuamos os mesmos. Nos dois estados, padres celibatários ontem, padres casados hoje, Deus permanece.”
Devemos ficar atentos para que a Eucaristia, o sacramento do amor definitivo de Deus para conosco não suma debaixo de cânones, regras e ritos, tirando-lhe a sua essência: a vida compartilhada entre Deus e nós.
Devemos ficar vigilantes, pois há um imenso abismo entre rezar a Missa e celebrar a Eucaristia. Se quisermos ser fiéis à Última Ceia e nos abrigar nos braços de Jesus, torna-se necessário de termos clareza sobre esta questão, a fim de fazermos a opção certa.
Fortaleza, 28 de maio de 2013,
Geraldo Frencken
FONTE: ENVIADO PELO AUTOR VIA E-MAIL DO MODERADOR DESTE BLOG
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