Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Adital
Imagem: papeletudo.com.br
Mamães são assim. Acompanham, estão presentes toda a vida: a gente está nascendo, está com 4, 15, 25, vira trintão, cinquentão, ou tem 62 como eu. Ela, mamãe Lúcia, 86, a vida inteira na roça, cuidando da casa e dos nove filhos, sempre participante da comunidade e presente na arquibancada para torcer pelo São Luiz de Santa Emília, tomando um chimarrão e dois goles de caipirinha no domingo antes do churrasco.
Quando vou embora de casa, hora voltar a Brasília, mamãe para na varanda, diz para me cuidar, deseja boa viagem. Ultimamente, quando chego e há alguém mais de visita que vou cumprimentar, ela também estende a mão para ser cumprimentada. Antes, era só bom dia, boa tarde, boa noite. Nada de beijos, apenas estender a mão, que é o costume lá de casa desde sempre, coisas de alemão-gaúcho, ou de alguns alemães-gaúchos-brasileiros.
Mamães olham a filha, o filho e dizem: "Ah, como ela/ele é bonita/o e inteligente!” Eu, que nunca fui, ou sou, ou serei bonito, talvez um pouco inteligente, e que tenho atrás de mim oito irmãos, mamãe nem teve tempo de olhar muito e de dizer se era mais ou menos bonito. Verdade ou não, pouco interessa, é certo que mamães amam seus filhos até a morte. E os protegem, sempre.
Mãe é referência de vida. Viva ou não, ela está lá, está na feliz memória. Eu que saí de casa com onze anos de idade para o Seminário, portanto, fiquei próximo só na infância, depois fui para o mundo, agora dez anos de Brasília, estou tentando voltar, ficar mais junto. Porque carinho de mãe, mesmo não físico, é especial. É o olhar, a preocupação. Assim como a gente se preocupa com ela. Eu, o mais velho, o Marino, o mais novo, insistimos para ela caminhar, sair mais de casa, fazer como a tia Teresa e o tio Norberto, que caminham todos no asfalto que agora existe na frente de casa, sem barro e sujeira.
São os pequenos grandes cuidados. Ela preocupada comigo, querendo saber se viajei de avião, lembrando-se que foi de avião até Lábrea, Amazonas, visitar o filho Astor. Ela dizendo para me cuidar na viagem, chegar bem em Porto Alegre e Brasília, sem muita noção da distância. Ela guardando cuidadosamente as cartas da tia Irmã Dácia, que está em Laguna, Santa Catarina (sim, Ir. Dácia ainda escreve e envia cartas!), assim como convites de casamentos, bodas de prata ou de ouro de algum vizinho, parente ou membro da comunidade, para me mostrar quando chego.
Amor de mãe é especialíssimo.
Por isso, viva as mamães que amparam seus filhos a vida inteira, nas boas e nas ruins.
Viva as mamães que se desdobram, e eventualmente abrem mão de seus desejos pessoais e vontades, e choram junto, e vão nas delegacias querendo saber deles, ou passam a noite nos hospitais ao seu lado, ou esperam sua formatura e vitória na vida.
Viva as mamães que ajudam a comunidade, filhos debaixo dos braços, e são lideranças, e são agentes do fazer coletivo e da solidariedade.
Viva as mamães que incentivam filhos e filhas a participar, seja do grupo de jovens, da associação de bairros, do time de futebol, do bloco de carnaval, do sindicato, do partido político e das lutas pelo bem comum.
Viva as mamães e suas gostosuras, seus doces de mel, suas cucas, suas ‘schmias’, suas tortas e sorvetes.
Viva as mamães se esbaldando entre o emprego e a casa, manhã à noite, muitas vezes seus homens e maridos mal compreendendo e não dividindo tarefas e responsabilidades.
Viva as mamães e seus cuidados com o mundo e a vida.
Viva as mamães que cuidam de si mesmas tanto quanto cuidam de seus filhos e filhas.
Viva as mamães que, não sendo mães biológicas, doam suas vidas e seus sonhos a outras e outros e os acolhem como filhas e filhos, que de fato são.
Viva as mamães que são mães sem filhos, e são mães da comunidade, são mães em defesa da vida, são mães da esperança.
Viva as mamães que perderam seus filhos e filhas na ditadura e não esmoreceram até saberem a verdade e preservaram a memória.
Viva as mamães no seu dia e em todos os dias das nossas vidas!
Em dez de maio de dois mil e treze.
FONTE: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=75202
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