sexta-feira, 31 de maio de 2013

FUNDAÇÃO
Fundação Champagnat é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) criada pelo Congregação dos Irmãos Maristas para o apoio às suas Missões em África e Timor. Em Portugal, apoia a Casa da Criança de Tires e o Lar Marista de Ermesinde. Tem como finalidades principais: 
a) Contribuir para a promoção da melhoria de condições de vida de pessoas necessitadas, em especial crianças e jovens;
b) Promover a melhoria da qualidade educativa, mediante a formação permanente dos agentes educativos e a implementação de projectos inovadores, podendo colaborar com as instituições de outros países;
c) Colaborar na educação para o desenvolvimento e solidariedade com os países em vias de desenvolvimento, em especial os PALOP, em resposta às suas necessidades, mediante a organização e realização de programas comuns.
COMO AJUDAR A FUNDAÇÃO CHAMPAGNAT
A Fundação Champagnat quer dar resposta às necessidades de todos os que beneficiam com a presença dos Missionários Maristas, promovendo a melhoria das condições de vida das pessoas necessitadas, em especial as crianças e os jovens.Apoie a FUNDAÇÃO! Seja CHAMPAGNAT, HOJE.

APOIO FINANCEIRO:
Por transferência bancária, para a conta da Fundação: 0007 0030 00040400001 06 | Banco Espirito Santo
Por cheque, à ordem da Fundação Champagnat e enviado para - Estrada de Benfica, 372 | 1500-100 Lisboa
Com 0,5% do seu
IRS
, sem qualquer agravamento nos seus impostos pode decidir que 0,5% do valor do seu IRS, a entregar ao estado, reverta a favor de uma instituição particular de solidariedade social.
Para isso basta colocar uma cruz no quadrado a seguir à afirmação "Instituições Particulares de Solidariedade Social ou Pessoas Coletivas de Utilidade Publica (art. 32, n 6)" no quadro 9 do anexo H.

Para que reverta a favor da
Fundação Champagnat - Casa da Criança de Tires insira o NIPC 503743712.
Para que reverta a favor do
Lar Marista de Ermesinde o NIPC a inserir é 507504461.

VOLUNTARIADO:
Tornando-se voluntário internacional através do projeto dos Campos de Trabalho e Missão (CTM, voluntariado internacional de curta duração) da Fundação, em Moçambique, El Salvador, Honduras...;
Sendo voluntário em Portugal, apoiando os projetos em curso (na sede ou na Casa da Crianças de Tires), oferecendo o seu trabalho na realização de campanhas de angariação de fundos, organização de eventos, apoio informático, divulgação da Fundação, projetos e criação de materiais de apoio aos mesmos;
Adquirindo o material à venda nas campanhas da Fundação (postais, t-shirts, peças de artesanato, agendas da Casa da Criança de Tires, etc.);
Recebendo e divulgando o boletim da Fundação Champagnat.
Fundação Champagnat | Estrada de Benfica 372 | 1500-100 Lisboa Tel/Fax +351 217780073
www.fundacaochampagnat.org | funda_champagnat@maristascompostela.org
 

fms Studia

“La Regla del Fundador, sus fuentes y evolución”

31/05/2013: Casa Geral
A coleção fms Studia publica seu segundo volume: “La Regla del Fundador, sus fuentes y evolución”. O autor é o Ir. Pedro Herreros. Trata-se, aproximadamente, de 500 páginas. A obra, escrita e editada em língua espanhola (com os textos originais em francês), oferece aos Maristas o acesso ao Pe. Champagnat, através de sua visão do Instituto, da vida e da missão dos Irmãos, a partir das normas, das fontes de que se valeu até chegar à Regra impressa em 1837. Trata-se da tese de Licenciatura em Teologia, escrita em 1984 e atualizada em 2008.
A celebração do bicentenário, em 2017, e o fato da revisão das Constituições e de projetar, a partir de nossas origens, o futuro da Congregação, contribuem para que este tomo seja de grande utilidade. Pedimos aos Irmãos e Leigos interessados que reservem junto ao Ir. Provincial ou Superior do Distrito o livro que será editado em junho. O número de cópias e o preço da publicação dependerão das encomendas que recebermos.
FMS Studia

Progresso longe da solidariedade

Por Padre Geovane Saraiva*

Uma realidade incômoda, diante do contraste e do antagonismo em que se passa atualmente a nossa sociedade e de um modo bem concreto, a cidade de Fortaleza e o Estado do Ceará, deixando transparecer que o projeto dos homens anda léguas e léguas, distante do projeto do nosso Deus e Pai, anunciado por Jesus de Nazaré, projeto de justiça, amor, solidariedade e paz, no serviço aos irmãos, quando nos afirma no seu Evangelho: “se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35).

Neste sentido, como transformar a realidade dos sofredores? Precisamos do Espírito da verdade para que possamos ser conduzidos, segundo o referido projeto do Pai, a plena verdade. Jesus na sua entrega e obediência à vontade D’aquele que o enviou, até a morte e morte na cruz, deixa claro para nós que abraçamos a fé, no desejo de perseguir seu seguimento, tendo na mente e no coração o consequente mandamento do amor.

Como é preciosa e plausível uma reflexão sobre Fortaleza, bela cidade, mas com inúmeras coroas de espinhos, seja pelos moradores de rua (adultos e crianças) nas nossas praças e ruas , seja pelas favelas, desemprego, dependência química, como consequência, o alto índice de criminalidade. Aqui é extremamente válida e sábia a assertiva de Albert Einstein: “A palavra ‘Progresso’ não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes (…)”.

O progresso que se acentua, fortemente presente entre nós, nos estrondosos volumes de recursos, na construção do aquário na nossa cidade, das obras da copa do mundo, dos milhões que serão gastos com a construção da ponte estaiada, sobre o Rio Cocó, contrariando todo um rigoroso estudo dos nossos sábios e prestimosos ambientalistas e arquitetos, comprometendo aquilo que temos de melhor, o pulmão verde e todo o ecossistema da cidade Fortaleza. Dom Aloísio, na sua Carta Pastoral sobre o uso e a posse do solo urbano, de 31.05.1989, afirmou com maestria: “A cidade deve ser para o homem e não o homem para a cidade. Deve ser um espaço de convivência solidária para todos os que nela moram, convivência que seja resultante da convergência de esforços para tornar a cidade mais humana e também cristã” – uma cidade verdadeiramente cristã e fraterna, revelando um rosto pascal.

Veja querido leitor o que nos disse o Papa Francisco na Vigília de Pentecostes, de 18/04/2013: “Tocar no corpo do pobre é tocar no corpo de Cristo. O Pontífice contou a história de um rabino do século XII que narra a construção de torres, onde os tijolos eram mais importantes do que os construtores. Quando um tijolo se quebrava, era um drama e o operário era punido. Mas se um operário se machucava, isso não tinha nenhum problema. Isso acontece hoje: se os investimentos nos bancos caem, é uma tragédia. Mas se as pessoas morrem de fome, não têm o que comer ou não têm saúde, não é um problema! Esta é a nossa crise de hoje! E o testemunho de uma Igreja pobre para os pobres vai contra esta mentalidade”.

Encerramos nossa reflexão com as sábias palavras do Cardeal Aloísio Lorscheider, em outra Carta Pastoral, de 19/06/1983, escrita há 30 anos, com o título “Os bispos do Ceará e a seca: “Relembrando as palavras do Evangelho, nem sempre é possível dizer só coisas lindas. Na realidade, o Evangelho sempre é lindo. Mas os nossos pecados ficam achando que certas passagens do Evangelho são duras. Você deve lembrar que já para Jesus a turma de então dizia: ‘Quem pode ouvir estas palavras? Elas são duras’ (Jo 6,60). E o resultado: Desde então muitos dos discípulos se retiraram e já não seguiam (Jo. 6,66). Hoje acontece a mesma coisa. Há muita gente por aí que chama a Igreja Católica, no Brasil, de subversiva, comunista, dizendo que esta não é a Igreja deles, e procuram outra Igreja que fale menos duro. Já muitos que antes estavam com igreja católica, agora já não estão mais; retiraram-se; já não a seguem. Para eles, a palavra da Igreja, que é a palavra do Evangelho lida para a nossa situação, para nosso contexto, é muito dura ou muito forte. E conclui: Peço que ninguém fique com raiva, mas pense”.

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso – geovanesaraiva@gmail.com

quinta-feira, 30 de maio de 2013




A caminho da Conferência Geral - 6

Místicos e profetas: Entrevista com Ir. Emili

30/05/2013: Casa Geral
Conferência Geral 2013
Despertar a aurora é o tema escolhido para a próxima Conferência geral que será celebrada em L’Hermitage de 8 a 29 de setembro de 2013.  Profetas e místicos para nosso tempo é o subtítulo que concretiza os grandes temas que serão desenvolvidos na assembleia. A esse respeito perguntamos ao nosso Superior geral, Ir. Emili.
A teologia e a espiritualidade cristãs falam muito hoje em dia da “tradição místico-profética”.
Penso que não é só uma intenção de superar antagonismos entre as duas no passado, mas também uma forma de reconhecer que tradicionalmente não existia tal oposição. Os profetas eram místicos e os místicos eram profetas. Era impensável que uma pessoa pudesse ser profeta, clamando por justiça e pela mudança da sociedade, sem ter alguma experiência de união com Deus. Igualmente, impensável seria que alguém pudesse ser um místico genuíno se não falasse aberta e criticamente sobre as injustiças de seu tempo.
Nossa vida é muito ativa. O que implica a dimensão mística?
Justamente por nosso tipo de vida, é necessário cultivar uma mística que nos permita viver “centrados”. Creio que muitos de nós temos vivido a inebriante experiência da ação; e temos tido que utilizar os meios necessários para superar a tendência a um ativismo transbordante. No meu modo de vista, a primeira, mais essencial e mais pura chamada que sentimos dentro de nós é que somos enviados para SER irmãos.
Você acentua muito esse SER irmãos.
Isso porque muitos nos dão valor, sobretudo, por aquilo que fazemos, como uma simples “task force” a serviço da Igreja e da sociedade, quando na verdade nossa existência como Instituto tem sentido em si mesma, sem necessidade de recorrer à nossa função específica. Este SER irmãos — místicos e profetas — constitui o núcleo de nossa vida, de onde lançamos, portanto, nosso presente e nosso futuro. Ser o que estamos chamados a ser. Ser nós mesmos: trata-se de enorme desafio de coerência.
E a dimensãoprofética?  
A ação profética é o rosto público da mística, como disse Sandra M. Schneiders. A vida religiosa é uma forma de vida carismática que nasceu como dom do Espírito Santo para viver, de maneira coletiva, o carisma profético na Igreja. O que distingue essa vocação profética de outros ministérios da Palavra na Igreja é que focaliza sua proclamação do Reino de Deus em uma situação específica, como é a educação integral de crianças e jovens, no nosso caso.
Isto tem suasexigências…
Com certeza. Trata-se de realizar a missão profética procurando responder aos sinais dos tempos; as tarefas concretas podem variar, justamente por fidelidade ao carisma. Creio que a vivência desse testemunho profético significa, no nosso caso, mostrar sempre uma preferência pelas crianças e jovens mais vulneráveis e ser capazes de ver o mundo a partir desta perspectiva. Com eles e por eles seremos capazes de adotar uma atitude crítica em palavras e, sobretudo, em ação, diante dos valores e das estruturas sociais e eclesiais, e convidar a uma mudança sistemática, mais do que nos contentar com soluções temporárias e limitadas.

Conferência Geral 2013

A infecundidade de um cristianismo insosso


José Lisboa Moreira de Oliveira
Adital

Acabo de fazer contato com um amigo meu, com o qual não me comunicava há um bom tempo. Este amigo trabalhava para uma congregação religiosa. Na sua resposta me comunicou que estava de aviso prévio e que seria demitido do seu trabalho. Ao narrar a sua demissão meu amigo dizia-se decepcionado não tanto porque iria ficar sem o emprego, mas pela forma como foi demitido. Ele estranhou que, após anos de dedicação e de doação, fosse dispensado de maneira tão fria e tão formal, sem explicações e sem uma palavra de ânimo e de gratidão pelos serviços prestados. E eu que conheço bastante o meu amigo sei muito bem da sua doação, que sempre vai além daquilo para o qual ele é pago para fazer. É claro que ele, pela competência que tem, pela sua postura ética e pela sua seriedade logo encontrará outro emprego. Mas não deixa de ser decepcionante que uma pessoa seja tratada desta forma em ambientes cristãos, particularmente no âmbito de uma congregação religiosa.
Este fato me fez lembrar outro caso. No início do ano, durante a minha viagem de férias, encontrei uma senhora que conheci numa determinada comunidade eclesial. Ela era uma pessoa assídua. Jamais faltava à celebração dominical da Eucaristia, a encontros, reuniões e atividades eclesiais. Depois da saudação e dos abraços costumeiros, perguntei-lhe como estava a sua paróquia. Ela me respondeu que não estava mais "indo à Igreja”. Estranhei sua resposta e perguntei-lhe qual o motivo de seu afastamento da comunidade. Ela, então, me disse que tinha começado "a trabalhar para os padres”. Depois que começou a trabalhar para eles, não estava mais conseguindo ir à missa. Só vai à Igreja em casos especiais, "quando não tem jeito”. Disse que continuava a ser católica, que sempre reza a Deus pedindo perdão, mas não consegue mais acreditar naquilo que os padres falam nas missas, uma vez que ela tinha percebido que na prática eles agem totalmente diferente daquilo que pregam lá do altar.
Enquanto escrevia este artigo recebi uma mensagem de outro grande amigo que habita na região Nordeste do nosso país. Ele escrevia para partilhar comigo o que estava acontecendo em sua cidade. Acabara de chegar à paróquia um jovem padre que está assustando as pessoas com suas maneiras autoritárias. Intransigente e cheio de vaidades, o reverendo dirige-se às pessoas num tom profundamente egoísta: "eu quero isso, eu quero aquilo”, como se fosse o dono absoluto da comunidade. Uma de suas primeiras providências foi concentrar de modo absoluto o poder sobre sua pessoa, emanando um decreto com uma série de proibições e de exigências.
Não foi a primeira vez que escutei coisas semelhantes. É muito comum encontrar pessoas decepcionadas com o comportamento dos cristãos, de modo particular com as atitudes de lideranças como padres, bispos, pastores etc. Alguém poderá objetar afirmando que a nossa fé deve ser em Jesus Cristo e, por isso, as pessoas não deveriam medir seu grau de participação e de atuação a partir do que fazem ou deixam de fazer determinados cristãos. Isso é verdade, mas pela própria dinâmica da evangelização querida pelo Mestre Jesus, o testemunho ocupa um lugar primordial. A comunidade cristã não é fim em si mesmo, mas existe exclusivamente para a missão (Mc 3,14), para a proclamação da Boa Notícia a todos os povos (Mt 28,19). E este anúncio do Evangelho deve se dar essencialmente através do testemunho dos discípulos e das discípulas de Jesus (At 1,8). Logo, a obrigação de testemunhar para evangelizar é uma exigência fundamental do cristianismo. E, quando falta o testemunho, o cristianismo perde toda a sua força e todo o seu potencial evangelizador. Termina sendo reduzido a uma agremiação qualquer, sem qualquer diferenciação em relação às demais.
As primeiras comunidades cristãs tinham plena consciência disso. Por esse motivo fizeram questão de deixar registrada uma alerta de Jesus a este respeito. De acordo com a comunidade de Mateus (Mt 5,13), o cristianismo é comparado ao sal, o qual, se perde o gosto, não serve para mais nada. Como sabemos por experiência, o sal realça o sabor dos alimentos, mesmo se perdendo no meio da comida. Assim a comunidade cristã, mergulhada na sociedade, deve ser capaz de "dar sabor” a essa realidade. E dar sabor significa dar testemunho de amor, de carinho, de cuidado, de justiça e de ética. Se isso não acontece ela termina sendo um sal insosso que só serve para ser jogado fora e pisado pelos seres humanos.
Lembro-me bem de que o meu professor de Evangelhos Sinóticos na Universidade Gregoriana, o jesuíta Emílio Rasco, nos explicou que a metáfora do sal usado por Jesus tinha a ver com um costume das mulheres judaicas de revestir o forno de assar pão com uma camada de sal, de modo que o sal pudesse funcionar como isolante térmico da temperatura, permitindo assim que o pão fosse assado integralmente. De vez em quando a camada de sal se enfraquecia e precisava ser trocada. As mulheres, então, arrebentavam o revestimento do forno, retiravam o sal insosso que era jogado fora na via pública e, consequentemente, pisado pelas pessoas. Tratava-se, pois, de uma metáfora que, no tempo de Jesus, podia ser bem compreendida por todos. Ainda hoje, sabendo desse detalhe, podemos compreender o quanto o sal insosso pode simbolizar um tipo de cristianismo que não consegue mais comunicar a sua força e a sua energia à humanidade.
Partindo dos casos citados no início desse texto podemos deduzir as razões pelas quais o cristianismo está perdendo força no mundo atual. As pessoas, ao confrontarem os discursos bonitos com as práticas concretas dos cristãos e das cristãs, percebem a esquizofrenia e o grau de mentira das belas pregações. Decepcionadas se afastam porque se dão conta de que "na prática a teoria é outra”. Lembro-me de uma afirmação de Gandhi que dizia mais ou menos assim: "o Evangelho é fantástico, é uma carta de princípios fantástica, mas não sou cristão por causa dos cristãos”. E ao afirmar isso Gandhi tinha presente a tragédia da invasão da sua Índia por parte de cristãos ingleses. Estes deixaram por lá rastros de morte e de destruição, antes que o próprio Gandhi conseguisse mobilizar a população e obter a independência do país.
O papa Paulo VI, recolhendo as indicações dos bispos durante o Sínodo de 1974 sobre a evangelização no mundo contemporâneo, deixou bem explícito na Evangelii nuntiandi que o testemunho "é o primeiro meio de evangelização” (EN, 41). Foi enfático em afirmar que os "discursos ocos” produzem cansaço nos fiéis (EN, 42). O testemunho, afirmava o papa, mesmo sendo proclamação silenciosa da Boa Nova, é muito mais eficaz e valoroso do que certas prédicas estéreis e vazias que não encontram confirmação na prática concreta de pessoas cristãs (EN, 21). Sem meios-termos, Paulo VI nos lembrava de que hoje as pessoas escutam mais as testemunhas do que os mestres e se escutam os mestres é porque ele são antes de tudo testemunhas (EN, 41). E quase já no final da exortação concluía com a seguinte proclamação profética: "Ouve-se repetir, com frequência hoje em dia, que este nosso século tem sede de autenticidade. A propósito dos jovens, sobretudo, afirma-se que eles têm horror ao fictício, àquilo que é falso e que procuram, acima de tudo, a verdade e a transparência” (EN, 76). Porém, tendo presente a exortação do papa, é preciso dizer que o testemunho não deve ser confundido com beatice, pieguismo, excesso de religiosidade e de rezas. Não deve ser confundido com o uso de camisetas com frases e figuras religiosas, com a colocação de uma bíblia ou de um crucifixo no local de trabalho ou ainda de um terço pendurado no retrovisor do carro. De todas essas carolices as pessoas já estão saturadas. O testemunho, afirmava Paulo VI, está necessariamente ligado à prática da justiça e à luta para erradicar as formas de injustiça e de opressão que matam tantos irmãos e tantas irmãs. Isso porque o ser humano a ser evangelizado não é uma pessoa abstrata, mas alguém que precisa de comida, de roupa, de casa para morar e de tantas outras coisas (EN, 31).
É hora, pois, de acabarmos com tantas baboseiras, com tantos discursos ocos, com tantas atitudes antiéticas dentro de nossas Igrejas. É hora de cultivarmos uma vida mais simples, mais humilde, mais caritativa, mais cuidadosa dos pequeninos e pobres, uma vida mais desapegada. "Sem essa marca de santidade, dificilmente a nossa palavra fará a sua caminhada até atingir o coração do homem dos nossos tempos; ela corre o risco de permanecer vã e infecunda” (EN, 76).
FONTE:http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=75564

quarta-feira, 29 de maio de 2013


A VIDA DE CORPUS CHRISTI

A VIDA DE CORPUS CHRISTI
Ver (um fato verdadeiro)
      Há muitos anos, um padre, lá pelas bandas da Amazônia, encontrava-se diante de um dilema: como celebrar a festa de Corpo de Cristo com a bela procissão, segurando o Cristo Sacramentado, andando por caminhos, cobertos de belas e cheirosas flores em forma de tapetes bem desenhados, enquanto aquela procissão havia de passar, necessariamente, em frente aos cortiços sujos, malcheirosos, nos quais muita gente “vivia” empilhada? Tamanha contradição e, pior, incoerência! Após muita reflexão, o padre tomou a corajosa decisão. Em lugar de realizar a tradicional procissão do ‘Corpo Cristi’, deu início à Missa daquele dia de festa, e, após a leitura do Evangelho, convidou o povo da Missa para sair da Igreja, a fim de visitar o povo no cortiço. Era razoavelmente perto. Formou-se, de forma espontânea, uma bela procissão. Dentro daquele mundo subumano, o povo do cortiço ficava admirado com tanta visita irmã, enquanto o povo da Missa ficava entristecido, cabisbaixo, chocado e até revoltado ao perceber tanta miséria, pobreza, mau cheiro, tanta falta de respeito para com o ser humano. Muitos do povo da Missa passavam, diariamente, em frente àquele cortiço, mas nunca haviam procurado entrar, a fim de visitar aquele povo lá dentro. Pois bem, após uma meia hora, uma parte do povo do cortiço se juntava ao povo da Missa e juntos foram até a Igreja! Aquela Missa, tradicionalmente rezada, transformou-se numa verdadeira celebração eucarística, ou seja, Jesus, agora sim, se fazia presente em todo o esplendor do seu amor junto aos seus irmãos e suas irmãs.
 
Julgar (uma possível abordagem)
A tradição da nossa fé nos ensina que Jesus pronunciou, naquela Última Ceia, as seguintes palavras: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). O que significa o “fazei isto”?
Para encontrarmos uma resposta, precisamos nos perguntar qual o significado da Eucaristia.
A palavra grega ‘eucaristia’ se refere à ‘ação de graças’. Trata-se do momento em que a comunidade dos que crêem na presença de Jesus na Eucaristia celebra o memorial da morte e ressurreição de Jesus. Portanto, na celebração da Eucaristia se celebra a Nova Aliança estabelecida entre Deus e a humanidade por meio do sacramento do amor definitivo de Deus para conosco, expresso e vivido na morte e ressurreição de Jesus. Esta “Aliança”, este acordo, ou pacto, diz respeito à união firmada entre Deus e nós, nós e Deus, “aquele Deus verdadeiro que amou-nos primeiro sem dividição”, como canta Pedro Casaldáliga na abertura da “Missa dos Quilombos”.
A Eucaristia é uma ação de graças, ou seja, um momento em que vivemos a graça da presença de Deus em nossa vida, assim como a presença de cada um de nós na vida do(a) outro(a), em nossa vida comunitária. Mas este é apenas um lado do sacramento, como de todos os sacramentos, pois todos eles são graça em e para nossa vida. O outro lado do sacramento, porém, constitui uma tarefa, uma missão, uma maneira de ser e de estar no mundo, na qual a graça se concretiza. E esta maneira de ser é exatamente aquilo a que Jesus se refere quando diz “Fazei isto”: vocês também devem olhar o outro, interessar-se por ele, fazer com que o outro seja importante, isto é, vocês também devem doar-se uns aos outros. É esta a verdadeira partilha eucarística e é nela que Jesus e o Pai se fazem presentes em nossa vida e nós na vida dEles.
Consequentemente, Eucaristia é celebrar, renovar e viver intensamente a vida, tornar efetivo o gesto amoroso de Jesus pela prática das ações concretas de amor entre nós, porém, em especial para com os empobrecidos, os excluídos e rejeitados da nossa sociedade.
 
Agir (uma idéia)
            Conforme secular tradição, a Eucaristia é celebrada entre nós em forma de “Missa”. Longe de eu querer desvalidar ou desvalorizar a celebração da Missa. Porém, permitam-me observar que todos nós temos assistido, e ainda assistimos, a Missas, durante as quais são cumpridos os cânones, seguidas as regras e executados os ritos, mas, muitas vezes, sem ligação com a nossa vida, sem paixão com a Paixão de Cristo. Será que desta forma “acontece” a nossa aliança com Deus ou nos aproximamos do amor em Jesus Crucificado e Ressuscitado ou, ainda, construímos a base de uma vivência amorosa entre nós?
Enfim, quero perguntar com muita seriedade e sinceridade: quando nós, padres casados, vamos criar coragem para celebrar a vida da Eucaristia entre nós e juntos com o povo, sem recorrermos aos que ainda se encontram no ministério? O que houve, ou há, para considerarmos que fomos afastados tão definitivamente do amor de Deus para conosco ao ponto de nos acharem, ou de nos acharmos a nós mesmos, impedidos para celebrar nosso amor para com Ele na Eucaristia? Qual sombra escurecedora, assustadora ou pecaminosa foi jogada sobre nossas vidas para sermos considerados, definitivamente, os “ex”, como se o futuro, construído a partir do momento em que optamos por outros caminhos, não valesse nada, ou como se fosse possível dividir a vida em parcelas, sendo que uma não teria nada a ver com a outra?
O belo documento dos padres casados, apresentado ao Papa João Paulo II durante o X Congresso Eucarístico Nacional em Fortaleza em julho de 1980, dizia: “Também nós, padres casados, migramos como Abraão. Deixamos uma terra e o fizemos em nome do nosso Deus. Na outra terra, onde vimos habitar, na nova situação em que agora desenvolvemos outra vida, cultivamos a presença do mesmo Deus, na convicção de que Ele nos inspira, nos acompanha e continua conosco. Somos outros e, no entanto, como Abraão, continuamos os mesmos. Nos dois estados, padres celibatários ontem, padres casados hoje, Deus permanece.”
 
Devemos ficar atentos para que a Eucaristia, o sacramento do amor definitivo de Deus para conosco não suma debaixo de cânones, regras e ritos, tirando-lhe a sua essência: a vida compartilhada entre Deus e nós.
            Devemos ficar vigilantes, pois há um imenso abismo entre rezar a Missa e celebrar a Eucaristia. Se quisermos ser fiéis à Última Ceia e nos abrigar nos braços de Jesus, torna-se necessário de termos clareza sobre esta questão, a fim de fazermos a opção certa.
Fortaleza, 28 de maio de 2013,
Geraldo Frencken
 
FONTE: ENVIADO PELO AUTOR VIA E-MAIL DO MODERADOR DESTE BLOG