aos participantes no Seminário Internacional sobre a complementaridade entre homens e mulheres
Discurso do Papa Francisco aos participantes no Seminário Internacional sobre a complementaridade entre homens e mulheres, promovido pela Congregação para a Doutrina da Fé (17-19 novembro 2014),
Audiência aos participantes no Colóquio Internacional sobre a complementaridade entre homem e mulher, promovido pela Congregação para a Doutrina da Fé (17-19 novembro 2014) - Às 9 horas desta manhã na Sala do Sínodo, no Vaticano, o Santo Padre Francisco encontrou-se com os participantes do Seminário Internacional interreligioso sobre a complementaridade entre homem e mulher, promovido pela Congregação para a Doutrina da Fé, em colaboração com o Pontifício Conselho: para a Família, para o Diálogo Inter-religioso e para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
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Discurso do Santo Padre
Queridos irmãos e irmãs, Eu vos saúdo cordialmente e agradeço ao Cardeal Müller pelas palavras com que introduziu este nosso encontro. 1. Em primeiro lugar gostaria de compartilhar uma reflexão sobre o título de vosso Seminário. “Complementaridade” é uma palavra preciosa com múltiplos significados. Pode referir-se a diferentes situações em que um elemento completa o outro ou compensar uma sua carência. No entanto, a complementaridade é muito mais do que isso. Os cristãos encontram o significado dela na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, onde o apóstolo diz que o Espírito deu a cada um dons diferentes, de maneira que, como os membros do corpo humano se completam para o bem de todo o organismo, os dons de cada um podem contribuir para o bem de todos (cf. 1 Cor 12). Refletir sobre a complementaridade nada mais é que meditar sobre as harmonias dinâmicas que estão no centro de toda a criação. Esta é a palavra chave: harmonia. Todas as complementariedades, o Criador as fez para que o Espírito Santo, que é o autor da harmonia, faça esta harmonia. Oportunanamente, vocês se reuniram neste Seminário internacional para aprofundar o tema da complementaridade entre o homem e a mulher. Na verdade, essa complementaridade é a base do matrimônio e da família, que é a primeira escola onde aprendemos a apreciar nossos dons e os dos outros e onde começamos a aprender a arte de viver juntos. Para a maioria de nós, a família é o principal lugar onde começamos a “respirar” valores e ideais, bem como a realizar o nosso potencial para a virtude e a caridade. Ao mesmo tempo, como sabemos, as famílias são um local de tensões: entre o egoísmo e o altruísmo, entre razão e paixão, entre desejos imediatos e objetivos de longo prazo, etc. Mas as famílias também fornecem o quadro em que se resolvem essas tensões: e isso é importante. Quando falamos de complementaridade entre homem e mulher neste contexto, não devemos confundir este termo com a idéia simplista de que todos os papéis e as relações de ambos os sexos estão presos num modelo único e estático. A natureza complementar assume muitas formas, já que cada homem e cada mulher traz sua própria contribuição pessoal ao casamento e à educação dos filhos. Sua própria riqueza pessoal, seu próprio carisma pessoal, e a complementaridade torna-se assim de uma grande riqueza. E não é apenas um bem, mas também beleza. 2. Em nosso tempo, o matrimônio e a família estão em crise. Vivemos numa cultura do provisória, em que sempre mais pessoas renunciam ao casamento como um compromisso público. Esta revolução no costumes e na moral muitas vezes agitou a “bandeira da liberdade”, mas, na verdade, trouxe devastação espiritual e material a inúmeros seres humanos, especialmente aos mais vulneráveis. Há crescente evidência de que o declínio da cultura do casamento está associado a um aumento da pobreza e a uma série de outros inúmeros problemas sociais que afetam de maneira desproporcional as mulheres, as crianças e os idosos. E são sempre eles os que mais sofrem nesta crise. A crise da família levou a uma crise de ecologia humana, pois os ambientes sociais, como os ambientes naturais, precisam ser protegidos. Embora a humanidade já tenha percebido a necessidade de enfrentar o que constitui uma ameaça para os nosso ambientes naturais, somos lentos – somos lentos também na nossa cultura, na nossa cultura católica – somos lentos em reconhecer que nossos ambientes sociais também estão em perigo. Portanto, é indispensável promover uma nova ecologia humana e fazê-la progredir. 3. É necessário insistir sobre os pilares fundamentais que sustentam uma nação: os seus bens imateriais. A família continua a ser o fundamento da convivência e a garantia contra a desintegração social. As crianças têm o direito de crescer em uma família com um papai e uma mamãe, capazes de criar um ambiente adequado para o seu desenvolvimento e seu amadurecimento afetivo. Por esta razão, na Exortação apostólicaEvangelii gaudium, enfatizei a contribuição “indispensável” do casamento para a sociedade, contribuição que “excede o nível da emotividade e das condições contingentes do casal” (n. 66). É por isso que vos sou grato pela ênfase colocada pelo vosso Seminário sobre os benefícios que o casamento pode trazer para filhos, para os próprios e para a sociedade. Nestes dias, em que ireis refletir sobre a complementaridade entre homem e mulher, eu vos exorto a dar destaque a uma outra verdade sobre o casamento: que o compromisso definitivo em relação à solidariedade, à lealdade e ao amor fecundo responde aos desejos mais profundos do coração humano. Pensemos sobretudo nos os jovens que representam o futuro: é importante que eles não se deixam levar pela mentalidade danosa do provisório e sejam revolucionários pela coragem de procurar um amor que forte e duradouro, isto é, de ir contra a corrente: temos de fazer isso. Sobre isso, eu gostaria de dizer uma coisa: não devemos cair na armadilha de ser qualificados com conceitos ideológicos. A família é um fato antropológico e, portanto, uma dimensão social, cultural, etc. Nós não podemos defini-la com conceitos ideológicos, que têm a força apenas em um momento da história, e depois decaem. Não se pode falar hoje de família conservadora ou família progressista: família é família! Não se deixem qualificar por este ou por outros conceitos ideológicos. A família tem uma força em si. Que este Seminário possa ser uma fonte de inspiração para todos os que procuram apoiar e fortalecer a união do homem e da mulher no casamento como um bem único, natural, fundamental e bonito para as pessoas, as famílias, as comunidades e a sociedade . Neste contexto, eu gostaria de confirmar que, se Deus quiser, em setembro 2015, vou VIAJAR para Filadélfia, para o VIII Encontro Mundial das Famílias. Eu vos agradeço pelas vossas orações com que acompanham o meu serviço à Igreja. Eu também rezo por vocês e vos abençoo de coração. Muito obrigado. [01831-01.01] [Texto original: italiano] [B0856-XX.01] Tradução: João Tavares
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