Compreendeu-se
mundo afora que a escolha do nome Francisco significou a escolha de um programa
de vida e de uma forma do serviço que cabe ao bispo de Roma na igreja
católica.
Francisco, no discurso de inauguração de suas
atividades, afirmou claramente que isto implica uma igreja que seja testemunha
de uma vida simples, que tenha cuidado pelos mais frágeis, cuidado pela paz e
pela natureza. Francisco de Assis, no mundo conturbado do início da modernidade,
concentrou-se naquilo que é essencial para a comunidade de discípulos dos Jesus:
o evangelho e com ele os pobres deste mundo para quem em primeiro lugar o
anúncio do Reino de Deus constitui uma “Boa-Nova”.
Por isto para o novo Francisco isto significa
para a igreja em nossos dias a tarefa de tomar consciência de que o destino do
Povo de Deus não é diferente do destino de toda a humanidade e de que, portanto,
a missão da igreja consiste em inserir-se no mundo e abrir-se às alegrias e às
esperanças, às tristezas e às angústias dos homens e das mulheres de hoje,
sobretudo dos pobres e atribulados. Daí a tarefa urgente: reabrir-se ao mundo
para exercer o serviço da evangelização. Isto implica uma reconstrução da igreja
a partir do Evangelho e dos últimos deste mundo, uma igreja que não se deixe
seduzir pelo poder e pela riqueza, mas antes esteja centrada nos valores
evangélicos procurando atuar profeticamente no mundo por sua presença e seu
serviço.
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Assim, exige-se uma igreja que seja capaz de
escutar a sociedade, de ter sensibilidade para as gigantescas desigualdades
sociais, considerar com toda seriedade e sem temor todas as questões que a
sociedade levanta, conhecendo e respeitando o ser humano em todas as suas
dimensões, mostrando profunda compaixão diante do sofrimento e confrontando-se
com as inúmeras formas de injustiça. Os gritos que pedem justiça continuam ainda
hoje muito fortes, portanto, temos que olhar o mundo compreendendo que ele
constitui em si mesmo um desafio ético histórico sem precedentes e que nos
desafia de forma radical a tomar decisões corajosas e livres no momento presente
refletindo sobre suas consequências a fim de que elas sejam capazes de superar
os males que nos afligem .
Para Francisco evangelizar supõe da igreja a
capacidade de não se refugiar em si mesma, mas de sair de si mesma e ir para as
periferias geográficas e existenciais do mistério da dor, do sofrimento, da
violência, da injustiça, de toda miséria na vida humana. Uma igreja que por sua
pregação e estilo de vida ajude as pessoas a compreender que somos todos
responsáveis pela formação das novas gerações, ajudando-as a reabilitar a
política que é uma das formas mais altas da caridade a fim de que cada vez mais
cresça a participação das pessoas no enfrentamento dos problemas comuns, que se
evite todo tipo de elitismo e imprimindo uma visão humanista à economia se
erradique a pobreza.
Numa palavra, o desafio é superar o grande risco
de toda comunidade religiosa, a autorreferencialidade, o que significa prender
Jesus em si mesma. O lugar da comunidade eclesial não pode ser ela mesma, mas o
mundo como ele está hoje configurado e frente a suas crises profundas: uma
sociedade secular que não mais se deixa tutelar por instâncias exteriores a si
mesma, que por isto reivindica autonomia plena em relação a qualquer compreensão
religiosa do mundo, marcada por uma miséria que ameaça a vida de dois terços da
humanidade e por um processo gigantesco de destruição das próprias bases da vida
no planeta.
Numa palavra, exige-se uma igreja que se organize
para servir a todos os batizados e aos homens de boa vontade, que seja capaz de
sair da cultura rural onde nasceu para anunciar o evangelho no idioma da cultura
de hoje para poder oferecer uma resposta aos problemas existenciais do homem de
hoje especialmente das novas gerações.
Diante deste enormes desafios Francisco insiste
sempre no único meio que lhe parece necessário: entre a indiferença egoísta e o
protesto violento existe uma opção. O diálogo, entre gerações, o diálogo no
povo: a capacidade de dar e receber. Para ele um país só cresce verdadeiramente
quando suas diversas riquezas culturais dialogam de forma construtiva. É
impossível imaginar um futuro digno do ser humano para a sociedade sem uma
contribuição significativa das energias morais numa democracia que se entenda
ser mais do que o mero equilíbrio da representação dos interesses estabelecidos.
Daí porque o único modo para que uma pessoa, uma família, uma sociedade cresça,
a única forma que faz avançar a vida dos povos é a cultura do encontro em que
cada um tem algo bom para contribuir. A igreja precisa fazer-se humildemente
servidora deste processo de reconfiguração da vida humana assumindo o papel
fecundo de fermento na vida social.
Por Manfredo Araújo de Oliveira
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