1. Nossa época ,
como todos
os períodos da História ,
é um misto
de luz e sombra .
Cresceu a sensibilidade em torno de questões como a
paz , a justiça ,
a ecologia e a espiritualidade .
Mas a Terra
se encontra hoje
devastada, com milhões
de pessoas condenadas à miséria ou
subjugadas pela superficialidade
e pelo desejo
de poder .
LEIA MAIS:
2. Nós , leigos cristãos ,
partilhamos as alegrias
e esperanças , as tristezas
e angústias [i] das pessoas de nosso
tempo e, seduzidos pelo
Deus de Jesus, queremos viver
e dar testemunho
hoje da Boa Notícia
do Evangelho . Filhos
do espírito renovador
do Concílio Vaticano
II[ii],
descobrimos nossa vocação
de batizados e sentimo-nos impulsionados
pelo Espírito
para transformar esse mundo em lugar mais justo e humano , caminhando no seguimento
de Jesus.
3. Nesse despertar da vocação
leiga , descobrimos que
a nossa identidade
atingia sua plenitude
nos carismas
dos institutos religiosos [iii].
Sua espiritualidade
e missão nos
cativaram e fizeram-nos sentir que
Deus nos
chamava a compartilhar seu
legado e a ajudar
a projetá-lo no futuro . Muitas famílias religiosas têm recebido esse
dom com
alegria .
4.
O mesmo
aconteceu conosco , maristas .
O carisma de São
Marcelino Champagnat, presente no Instituto dos irmãos,
inflamou os leigos . Deus
toco u alguns
de nó s
e nos deu um
coração marista .
Certamente , mais
do que uma decisão
nossa , foi uma iniciativa
de Deus . Não
podemos viver de outra
maneira : somos maristas !
Posso dizer que
me sinto realizada e orgulhosa por ser uma leiga com o coração
marista. É uma revelação que Deus foi pouco a pouco
manifestando com novos
chamados, novas intuições ,
novos sonhos ,
uma história cheia
de vida que
nunca termina de ser
escrita . (Brasil)
Os
leigos na Igreja ,
Povo de Deus
5.
A vida laical
nasce, como toda
vocação cristã, da resposta
ao encontro com
Deus , que
nos ama
infinitamente . É fruto
de nosso batismo ,
que nos
envia a cumprir a missão
cristã por excelência :
tornar o Reino
de Deus real
neste mundo .
6.
Cristo nos reúne como
Povo de Deus ,
iguais em
dignidade e diferentes
em nossos
serviços e estados
de vida . Todos , e cada
um , trabalhamos na única
e comum vinha
do Senhor com
carismas e com
ministérios diferentes
e complementares [iv]. Somos um povo
de irmãos porque
somos filhos do mesmo
Pai .
7.
Nessa comunhão
eclesial, o Espírito fez brotar ,
entre os leigos ,
carismas que
nasceram, originariamente, em institutos religiosos .
O dom do carisma
compartilhado inaugura um novo
capítulo , rico
de esperanças [v], no caminho da Igreja . O mesmo
aconteceu conosco , os maristas . O carisma
de São Marcelino Champagnat se expressa em novas formas de
vida marista .
Uma delas é a do laicato marista .
Os
leigos maristas
Posso escutar claramente esse chamado em
minha vida ,
como se essa vocação
tivesse sido pensada especialmente pra mim . Falo de uma vocação
que ultrapassa os muros
de qualquer ‘obra
marista ’, de um
chamado que impregna toda a minha vida , uma vocação
que me
ajuda a ser mais gente , mais feliz e mais completa . É uma vocação que me desafia o tempo todo e a cada momento que respondo ‘Sim’ me
faz uma pessoa melhor ,
nas diversas realidades em que minha condição
de leiga me
convida a viver . (Brasil)
Diferentes formas como os leigos
se colocam diante do carisma
8.
O mundo do
laicato relaciona-se com o marista por uma
variedade de expressões .
Muitas pessoas entram em contato com a vida e a missão dos irmãos maristas de diferentes
maneiras . Alunos ,
educadores , catequistas, pessoal de administração
e de serviço , ex-alunos ,
pais e amigos ,
todos conhecem os irmãos e seu carisma .
Desse relacionamento com os irmãos,
surgem diferentes atitudes :
9.
Algumas pessoas
vivem identidades diferentes
da marista : umas, porque
fizeram opções de vida
distintas da cristã; outra s, por já terem
encontrado seu próprio
lugar na Igreja .
Acolhemos e respeitamos as diferentes opções e caminhos . Partilhamos com
todas elas os valores
humanos e cristãos ,
unimos forças para
trabalhar na construção
de um mundo
melhor e damos graças
a Deus por
tudo o que
delas recebemos.
10. Outras pessoas foram atraídas pelo testemunho dos irmãos.
Admiram o seu modo
de vida e desejam vincular-se à sua espiritualidade
e à sua missão ,
sem entender isso como vocação partilhada. Algumas não
refletiram suficientemente sobre o significado
desta vinculação e necessitam de espaços de acompanhamento que
lhes permitam descobrir
o que Deus
espera delas.
11. Há um terceiro
grupo que ,
a partir de um
processo pessoal
de discernimento , decidiu viver
sua espiritualidade
e sua missão
cristãs do jeito de Maria, seguindo a intuição de Marcelino Champagnat. Estes
somos nó s ,
os leigos maristas .
Os leigos maristas :
uma vocação cristã
Foi mais recentemente
que comecei a sentir a presença
de Jesus me acompanhando, dando-me força e me
fazendo sonhar, e me esperando. Aí me dei conta de que
precisava parar para estar com Ele , e assim poder encontrá-Lo. E agora acho que
o encontrei! Fazia tempo que Ele me falava das crianças
e dos jovens mais
necessitados, porém não
o entendia bem . Foi então
que “‘me
levou ao deserto e me falou ao coração”
e me fez ver que me queria para Ele , para continuar construindo o Reino com todo o meu ser . (Espanha)
12. Como leigos maristas ,
somos cristãos e cristãs
que atenderam ao chamado de Deus para viver
o carisma de Champagnat e a ele respondem a partir de seu estado de vida laical.
13. A iniciativa de nossa vocação parte de Deus . Ele nos ama e deseja a nossa plenitude
e, por isso ,
convida cada um
a percorrer um
caminho único .
Deste modo , a vocação
laical marista não
nasce como necessidade
em períodos
de crise vocacional dos irmãos, tampouco como maneira de manifestar-lhes afeto .
É um chamado pessoal
para um modo específico
de ser discípulos
de Jesus.
14. A vocação leiga marista , como toda vocação , nasce e se desenvolve interpretando a própria vida à luz do Espírito . Esse discernimento tem diferentes
etapas e, por
isso , é preciso
acompanhar cada
pessoa , respeitando o seu
ritmo .
15. Cristãos e cristãs, com histórias e culturas
muito diferentes ,
compartilhamos o chamado para viver
o carisma marista
no estado laical. Somos gratos a Deus pela dádiva de fazer parte de uma família que fala muitas línguas
e tem um só
coração .
A
vocação laical marista
e a vocação de irmão
16. Temos, leigos e irmãos, muito mais em comum do que de
específico em
nossa vocação :
todos compartilhamos a beleza
e os limites da condição
humana neste momento
histórico ; vivemos uma mesma vocação
cristã desde o batismo
e sentimos o chamado de Deus para o carisma marista .
17. Temos certeza de que nossas respectivas vocações
iluminam-se mutuamente. Assim como vamos descobrindo quem
somos ao nos relacionar
com os outros ,
a identidade específica
de irmão e leigo marista
fica mais clara
e se enriquece ao partilhar
vida : espiritualidade ,
missão , formação ...[vi]
Havia
algo a mais
naquele irmão: a dedicação , a atitude de acolher a todos , a maneira
de se dirigir aos pacientes ,
o espírito renovado que
eu percebia em
cada doente sob seus cuidados , a espontaneidade
na defesa dos sem
voz . Todos
esses detalhes
transcendiam o cumprimento dos afazeres
profissionais . Ele
era diferente .
(Brasil)
18. Em resposta a um chamado de Deus, os irmãos são
pessoas que
optam por um
estado de vida
reconhecido na Igreja como vida religiosa ou
vida consagrada. Eles
nos oferecem seu
testemunho de seguimento
a Jesus por seus
compromissos públicos .
19. A opção pelo
celibato , vivido
em fraternidade
e sem se terem escolhido uns aos outros , expressa
o amor de Deus
como comunidade
de irmãos abertos a todos .
A vida de pobreza ,
renunciando à posse de bens materiais próprios , manifesta
a liberdade evangélica
que supera a ambição
material e se abre para
o serviço dos demais .
O compromisso de obediência
a Deus , pelas mediações humanas[vii], torna significativa
uma disponibilidade especial
para o Reino .
20. Os irmãos nos oferecem uma forma própria de cultivar a espiritualidade ,
que nos
anima a crescer juntos
na fé . O estado
de vida do irmão é um
sinal profético
especial para
o mundo e para
os demais cristãos ,
que nos
recorda nosso próprio
chamado à radicalidade e paixão por Cristo .
Às vezes , em encontros ou intervenções , ouço a expressão
‘colaboradores’ quando se referem aos leigos , e também
encontro essa expressão
em alguns
documentos . Isso
soa para mim como se os leigos
fossem aqueles a quem
se reservam as sobras , que ajudam quando
têm tempo , que
ocupamos os lugares onde
os irmãos não estão, que fazem os trabalhos
que os irmãos não
podem fazer ... Que
dor sinto em
meu coração
quando escuto a palavra
‘colaboradora’, porque parece que me deixam
de fora ! Eu
me considero como
leiga marista
vocacionada, parte da família marista !
(Venezuela)
21. Como leigos , contribuímos com
uma forma específica
de viver o carisma
marista . Somos muito
mais do que
colaboradores dos irmãos.
22. O amor conjugal manifesta a fidelidade
e a paixão de Deus
e recorda a paixão e a fecundidade
que deve animar
toda vocação
cristã[viii]. Da mesma maneira ,
o amor dos pais
pelos filhos
é imagem viva
do amor incondicional
que Deus
tem por nós [ix].
23. O compromisso com
as realidades do mundo
nos torna
sinais de Deus
nos diferentes
ambientes sociais ,
econômicos e políticos
em que
vivemos, o que nos
capacita a descobrir , com
um olhar próprio , os apelos de
Deus nessas situações .
24. A profissão é uma forma
de realização pessoal
e de serviço ao Reino .
A necessidade de prover
o sustento diário ,
assim como
a instabilidade inerente
à condição laical, permitem-nos um contato mais direto com a realidade .
25. A forma como
as mulheres vivem o carisma
marista nos
convida todos a integrar
os elementos marianos ,
como a tenacidade, a resistência ,
o carinho maternal, a ternura , a atenção
aos detalhes e a intuição
em nossa
experiência cotidiana .
26. Como leigos e irmãos,
aprofundamo-nos em nossas vocações específicas, à medida
que nos
encontramos uns com os outros em um caminho que descortina
o futuro e do qual
temos descoberto características
significativas.
A
transmissão de um
dom : o carisma
marista
27. A vocação religiosa
dos irmãos tem inspirado a nossa própria vocação
laical. A experiência da acolhida, simplicidade e presença entre os jovens
fascina e nos anima a ser
testemunhas de Jesus hoje .
28. Também o exemplo de muitos
leigos , que
viveram e vivem o carisma marista com simplicidade , fizeram com
que tivéssemos consciência
de nossa vocação .
Eles escreveram com
a própria vida
o que hoje
expressamos com palavras .
29. A vitalidade de um carisma se manifesta quando
ele é recebido, recriado à luz dos sinais
dos tempos e transmitido aos outros . Junto com os irmãos, somos responsáveis
por impulsionar
e projetar esse
dom de Deus
em direção ao
futuro .
Acho que o que mais me
surpreende em Marcelino é o fato de que , apesar dos inúmeros obstáculos
que teve de enfrentar ,
perseverou e superou tudo por ser um homem de fé . Deus deve ter tocado profundamente
o seu interior ,
e ele , como
Maria, disse “Sim”. Fico admirado com a sua afabilidade ,
sua decisão ,
sua lealdade, sua
confiança , sua
firmeza e seu
sonho de um
mundo melhor
para os jovens .
(Austrália)
30. Marcelino é nossa inspiração
para seguir Jesus. Nele encontramos
um modelo de vida cristã que
nos comove, seduz e anima todos os dias a
superar-nos, seguindo o único Mestre .
31. A mesa de La Valla e a casa de L’Hermitage são
símbolos que
encarnam o dom de Deus
que Marcelino nos
transmite e continuam sendo, para nós , fonte de inspiração para recriar
o carisma marista
em nossos
dias . Compartilhando o pão
e construindo a casa , sentimos que Marcelino nos
convida também , hoje ,
a ser comunidade
para a missão .
32. Champagnat, que iniciou o sacerdócio com dificuldades nos
estudos , viveu toda
a vida em
aldeias e entregou-se até o fim de seus dias para que as crianças e os jovens
experimentassem o amor de Deus , hoje é um exemplo que não inspira
apenas a família
marista . A Igreja ,
ao proclamá-lo santo , apresentou-o como modelo para
todos os cristãos .
33. A Igreja reconhece que a intuição de São Marcelino continua viva
hoje em
nós e é um
presente de Deus
para o mundo .
A missão marista
é chamada a multiplicar-se até que , em todas as dioceses
do mundo , as crianças
e os jovens saboreiem a ternura de Deus [x] .
Como leigos
maristas , acreditamos que Deus nos convoca a prolongar
essa intuição na história ,
como seguidores
de Cristo do jeito
de Champagnat.
A primeira coisa que me cativou no carisma
foi sua consciência
educativa e sentir
que ‘o marista ’
é uma forma de ser cristão no mundo
e para o mundo ,
situação nada
comum nos
movimentos religiosos .
Mas o que
me levou a escolher
ser marista
foi me ver confirmada em
minha condição
de mulher , em
minha condição
de educadora, em minha
condição de membro
da Igreja em
uma comunidade em
que se respira
um ar
de família . Isso
se percebe na profundidade e na simplicidade dos vínculos ,
no acompanhamento, na presença constante
e libertadora, nas dificuldades e desavenças , como
em qualquer família .
(Uruguai)
34. Ser seguidor de Cristo ,
hoje , ao estilo
de Champagnat, significa comprometer-se com
as três dimensões
fundamentais cristãs e maristas : a missão ,
a vida partilhada e a espiritualidade . Essas dimensões
são inseparáveis :
a espiritualidade é vivida na e para a missão ; a missão
cria e anima a vida
partilhada; a vida partilhada é, por sua vez , fonte de espiritualidade e de missão .
35. As tarefas podem ser
distintas na missão ; as ênfases na espiritualidade
são variadas; a vida
partilhada se traduz em muitas formas . Missão ,
espiritualidade e comunhão
são como
três cores
que formam um
único raio
de luz : o carisma
marista . Dependendo dos contextos e momentos ,
destaca-se uma ou outra
dessas dimensões ; todavia
é impossível transitar
por uma delas sem
encontrar as outras duas.
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