O modelo que organiza a nossa sociedade é piramidal, quer dizer, é
aquele que nos divide em superiores e inferiores, atrasando o desenvolvimento
humano mais pleno, resultando na pobreza existente no meio de nós. Os que
governam no espírito deste modelo não mostram preocupação com as necessidades
prioritárias dos que vivem do lado “debaixo” da sociedade. É como cantava Chico
Science: “Os de cima sempre sobem e os
debaixo sempre descem”. Alguns exemplos esclarecem esta afirmação, porém
merecem um olhar mais crítico para nos conscientizarmos.
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Desde dezembro de 2011 até nos dias de hoje, o Ceará e
todo o Nordeste estão enfrentando a maior seca dos últimos 40 anos. Resultado:
milhares de pessoas em extrema pobreza, passando fome e sede, obrigadas a
deixarem seus vilarejos, a fim de se refugiarem nas favelas das capitais.
Centenas de milhares de cabeças de gado perdidas. Muitos municípios sem
carros-pipa para, ao menos, fornecer água para o povo beber: faltam carros,
falta água, da água que é levada “60%
está contaminada”, falta logística, falta tudo, porque não é liberado
dinheiro suficiente, nem montado um esquema de tal amplitude que dê um basta a
esta miséria. Enquanto isso ... (apenas alguns dados) o Estado do Ceará gastou,
nos últimos dois anos, 518,6 milhões de reais na reforma do estádio do
Castelão, 486 milhões no novo Centro de Convenções, liberou 250 milhões de
reais para aquele inútil e ridículo aquário, “o Estado prevê R$ 3,4 milhões para buffet com caviar e lagosta.”,
e ainda gastou 600.000 reais para o
cachê da cantora Ivete Sangalo na inauguração do hospital regional em Sobral,
onde, até hoje, continuam a faltar médicos. Aqui não se trata somente de mau
uso de dinheiro público, e sim de ilimitado cinismo e obscenidade moral em
relação a qualquer princípio básico de ética junto ao povo cearense.
Vendo todas estas obras, podemos observar que,
primeiro, há dinheiro suficiente e, segundo, que temos no nosso país tecnologia
de ponta e que há, quando queremos, excelente planejamento, rapidez e exatidão
na execução das obras. Perguntamo-nos: porque estas mesmas capacidades não se
aplicam também para tirar o povo do sertão da situação de miséria? Porque
sempre se dispõe de bastante dinheiro para obras faraônicas, e nunca há o
suficiente para estampar um sorriso no rosto da nossa criançada pobre, seus
pais e avós, bem perto aí, no sertão e nas periferias das nossas cidades
maiores? Porque não se emprega tecnologia de ponta, logística e planejamento
que funcionem para providenciar água no sertão?
Querem saber por quê? Porque são feitas opções,
colocadas prioridades, e estas, dificilmente, visam resolver os problemas
enfrentados pelo povo. Também, e isto é revoltante, porque voltamos aos tempos
dos antigos romanos, quando havia aquela política do “panis et circenses”, a política “do pão e do circo”, o que significa blindar a visão e o
entendimento da população com obras vislumbrantes, isto é, que cegam a vista
para aquilo que está acontecendo na realidade da vida. Dou-me o direito de
perguntar: até quando aceitamos ser enganados pelo “pão e circo” do século XXI, orquestrado por nossos governantes?
Por isso é preciso
participar do “Grito dos Excluídos”, a fim de (1) levantarmos nossa voz contra
os gastos exorbitantes com projetos faraônicos de características
megalomaníacas abusadas, (2) abrirmos nossos olhos, a fim de percebermos o
enorme abismo de poder aquisitivo entre os poucos ricos e os muitos pobres em
nossa cidade, e (3) discutirmos, a partir da vida e da visão dos pobres, meios
de acabar com a insana desigualdade social.
Este mês se completaram 50 anos que Martin Luther
King, proferiu suas proféticas palavras: “Eu tenho um
sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de
sua crença, que os homens são criados iguais”.
Mais uma observação e
a consequente perguntinha básica: como o “Grito” é um movimento que nasceu
dentro da Igreja Católica, com total apoio da CNBB, pergunto-me qual explicação
se dá ao fato que há, nos últimos anos, uma presença tão fraquinha por parte do
clero e de religiosos e religiosas, e, consequentemente, do povo das paróquias
e dos ‘fiéis’ em geral. Se o Evangelho nos ensina que somos chamados por Jesus
a sermos “sal da terra” e “luz do mundo” (cf. Mt. 5, 13-16), todas
e todos que forem liberados para o serviço ao povo, não podem esquivar-se desta missão e, como
nos alerta o Papa Francisco, devem optar, de fato, por “uma Igreja pobre e dos pobres”. E o Papa explica mais: “Os padres devem estar próximos do povo, em
particular nas periferias humanas”.
Quero crer que o
“Grito dos Excluídos” sempre é uma oportunidade para mostrarmos a nossa cara
verdadeira. Tenhamos cuidado para que a Igreja, como nos dizia Dom Helder, “não fique apenas em aplausos!”
Fortaleza, 05-09-2013,
Geraldo
Frencken
07 DE SETEMBRO: GRITO DOS EXCLUÍDOS
CONCENTRAÇÃO: 15:00 H.
(EM
FRENTE AO SEMINÁRIO DA PRAINHA)
CAMINHADA RUMO AO
AQUÁRIO
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