domingo, 15 de setembro de 2013

‘O celibato não é um dogma’, diz o próximo ‘número 2’ do Vaticano




Juan Arias


FONTE: Adital
Pietro Parolin, recém nomeado Secretário de Estado do Vaticano, reclama que a Igreja mostre um "espírito democrático”, no sentido de "escutar atentamente” aos fiéis e ao mundo
Tradução: ADITAL
12 setembro 2013

Pietro Parolin, em uma entrevista em Caracas. / JORGE SILVA (REUTERS)

O celibato obrigatório "não é um dogma de fé e pode ser discutido, porque é uma tradição eclesiástica”. Assegura o recém nomeado Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, atual Núncio Apostólico na Venezuela. Ele, a segunda autoridade do Vaticano depois do papa Francisco, em uma entrevista ao Universal, da Venezuela, revelou qual será o talante do novo governo da Igreja nesse pontificado recém estreado.
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Porém, além de recordar uma verdade da doutrina da Igreja, que muitos teólogos conservadores têm dificuldade em admitir, como o celibato obrigatório não faz parte de um dogma, que não possa ser mudado, Parolin adentrou-se em outro tema delicado e polêmico: o da "democracia” na Igreja.
Segundo o próximo Secretário de Estado, mesmo que "sempre se disse que a Igreja não é uma democracia”, é necessário que, hoje, como "abertura aos sinais dos tempos”, mostre um "espírito democrático”, no sentido de "escutar atentamente” aos fiéis e ao mundo. E mais: antecipou que esse é um dos "objetivos do pontificado” do papa Francisco.
As novas reformas que a Igreja empreenderá e das quais, devido à importância de seu cargo, Parolin participará ativamente, deverão levar, segundo ele, o selo desse "espírito democrático”, em vez de ser tomadas, como no passado, no silêncio dos palácios apostólicos, sem escutar a voz da Igreja universal. Seriam decisões colegiadas, confirmadas depois pelo papa.
Comentando o tema do celibato, afirmou que a possível mudança em um tema tão delicado supõe um "desafio” para o papa e que, ao tomar uma decisão, Francisco o fará colegialmente, escutando a todos os pastores e que deverá servir "para unir a Igreja e não para dividi-la”. É evidente que Parolin não teria abordado um tema tão candente antes de tomar posse de seu cargo se não tivesse uma segurança de que seu pensamento não diverge do pensamento do papa, que já havia recordado o rabino argentino Abraham Skorka, que a Igreja Ortodoxa, que não se separou de Roma, "admite sacerdotes casados”.
Apesar da afirmação do próximo Secretário de Estado de que o celibato não é um dogma, mas uma normativa da Igreja e, portanto, pode ser abolido, poderia parecer óbvia somente o fato de tê-lo recordado e de colocar esse possível desafio nas mãos do papa Francisco, como algo que será estudado, supõe uma revolução. A Igreja primitiva não conhecia o celibato. A maioria dos apóstolos eram casados. Jesus, dizem os evangelhos "curou a sogra de Pedro”, que seria o primeiro papa da Igreja.
Ao explicar São Paulo, na Primeira Epístola a Timóteo, como deveria ser a conduta de quem aspirasse a ser bispo, escreve: "Convém que seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honrado, acolhedor (...) não baderneiro, nem avaro” (Tim 3,1). E agrega: "Que governe bem sua própria casa, tenha seus filhos sob obediência, com toda modéstia. Porque se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da Igreja?” (Tim 3, 4-5).
São Paulo não fala sobre os sacerdotes; para ele, até os bispos deveriam estar casados e ter filhos. A única proibição é que sejam maridos "de uma mulher”; ou seja, que não caiam na tentação do adultério.
A imposição do celibato sacerdotal obrigatório foi instituído em 390 depois de Cristo, pelo que tem razão Parolin, em que não se pode tampouco menosprezar o fato de que se trata de uma longa tradição da Igreja. No entanto, segundo ele, hoje a Igreja vive em um mundo muito distinto e tem que estar atenta aos "novos sinais dos tempos”.
A cada dia, parece mais claro que Francisco está determinado a fazer mudanças mais do que cosméticas na Igreja, como acaba de demonstrar, com suas afirmações, o nomeado novo Secretário de Estado, uma figura na hierarquia da Igreja que sempre foi determinante para os rumos de um pontificado.

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