segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Encíclica ‘ambiental’ marca nova postura da Igreja

  Encíclica ‘ambiental’ marca nova postura da Igreja 

 



Papa Francisco: ‘Deus perdoa sempre, o homem às vezes, a natureza nunca, se não é cuidada’.    —–     Novo documento do papa Francisco deve trazer orientações práticas à comunidade católica, diz professor da Faje.


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Alexandre Vaz*  21/08/2014
Repórter Dom Total - O papa Francisco prepara-se para publicar, em breve, uma nova Encíclica, a qual deve abordar diretamente a questão ambiental. O documento, que está sendo elaborado com a colaboração de membros da Igreja Católica especialistas na área, como Dom Erwin Kräutler, bispo de Xingu, deve marcar uma tomada de posição mais clara e firme do Vaticano em relação à necessidade de se preservar os recursos naturais do planeta.
Espera-se que a Encíclica seja publicada no dia 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis, protetor dos animais e um dos símbolos cristãos da causa ecológica.A expectativa de muitos católicos é de que a Encíclica vá além dos posicionamentos teóricos, trazendo orientações claras para paróquias, dioceses e demais instituições eclesiais.
O ambientalista e professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), Afonso Murad, explica que, pelo próprio estilo de trabalho do papa Francisco, o documento poderá trazer orientações concretas como, por exemplo, uma política de gestão ambiental para as paróquias.“O papa Francisco tem um senso pastoral muito forte. Ele tem a compreensão de que, sem práticas transformadoras, não se muda a sociedade. Se ele pedir, por exemplo, que as Igrejas adotem um sistema de recolhimento de água da chuva, só isso já vai valer muito. Nós não precisamos apenas de elucidações teóricas, mas também práticas”, ressalta.
Desde o início de seu pontificado, Francisco tem feito do meio ambiente uma de suas bandeiras. Em diversas ocasiões, ele fez questão de frisar a urgência de se preservar o meio ambiente, alertando para os riscos que a degradação acelerada poderá gerar para a presente e futuras gerações. “Deus perdoa sempre, o homem às vezes, a natureza nunca, se não é cuidada”, sentenciou recentemente.
O meio ambiente já vem sendo fruto de preocupação do Vaticano há alguns anos e da Igreja brasileira, há alguns anos. O papa João Paulo II já havia dado algumas declarações pontuais sobre os perigos do consumismo desenfreado e a necessidade de se preservar os recursos naturais. Já a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vem abordando o tema, por meio das Campanhas da Fraternidade, como a realizada em 2003, ano em que a preservação dos recursos hídricos foi o tema, e a de 2007, que tratou da proteção à Amazônia.
“As campanhas têm papel fundamental, pois criam oportunidades para fiéis, presbíteros e demais membros da sociedade entrarem com efetividade no debate”, destaca Afonso Murad.
Novas orientações
Segundo o professor da Faje, muitos pesquisadores têm feito um trabalho de buscar fundamentos bíblicos para a importância do equilíbrio nas relações do homem com a natureza. Ele explica que, em diversas passagens da Bíblia, existem orientações para que o homem tenha uma relação de respeito e cuidado com o ambiente.
“No texto do Gêneses II, por exemplo, existe uma passagem que diz que o ser humano foi criado por Deus do barro da terra e do sopro de Javé, ou seja, dos mesmos elementos dos quais os outros seres vivos foram criados. Nesse sentido, pela Bíblia, homem e natureza estão em situação de igualdade. Da mesma forma, Gêneses I estabelece que o ser humano reflete a imagem de Deus por meio do domínio de todos os outros seres vivos. Mas, nesse caso, a palavra ‘domínio’ deve ser interpretada de acordo como ‘cuidado’, uma vez que Deus cuida dos seres vivos”, exemplifica.
A expectativa, agora, é que essa visão esteja presente na Encíclica de Francisco, com um posicionamento mais firme do Vaticano frente aos desafios ambientais do século XXI. “O papa tem desempenhado não apenas o papel de líder da Igreja Católica, como também de um importante líder espiritual de nosso tempo. Nesse sentido, acredito que a Encíclica trará uma repercussão muito positiva, aprimorando o debate ambiental não apenas no meio católico, como também junto a outros setores da sociedade”, ressalta.
 
Alexandre Vaz*
 
 

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