Encíclica ‘ambiental’ marca nova postura da Igreja
Papa Francisco: ‘Deus perdoa sempre, o homem às vezes, a natureza nunca, se não é cuidada’. —– Novo documento do papa Francisco deve trazer orientações práticas à comunidade católica, diz professor da Faje.
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Alexandre Vaz* 21/08/2014
Repórter Dom Total - O papa Francisco
prepara-se para publicar, em breve, uma nova Encíclica, a qual deve
abordar diretamente a questão ambiental. O documento, que está sendo
elaborado com a colaboração de membros da Igreja Católica especialistas
na área, como Dom Erwin Kräutler, bispo de Xingu,
deve marcar uma tomada de posição mais clara e firme do Vaticano em
relação à necessidade de se preservar os recursos naturais do planeta.
Espera-se que a Encíclica seja publicada no dia 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis,
protetor dos animais e um dos símbolos cristãos da causa ecológica.A
expectativa de muitos católicos é de que a Encíclica vá além dos
posicionamentos teóricos, trazendo orientações claras para paróquias,
dioceses e demais instituições eclesiais.
O ambientalista e professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), Afonso Murad,
explica que, pelo próprio estilo de trabalho do papa Francisco, o
documento poderá trazer orientações concretas como, por exemplo, uma
política de gestão ambiental para as paróquias.“O papa Francisco
tem um senso pastoral muito forte. Ele tem a compreensão de que, sem
práticas transformadoras, não se muda a sociedade. Se ele pedir, por
exemplo, que as Igrejas adotem um sistema de recolhimento de água da
chuva, só isso já vai valer muito. Nós não precisamos apenas de
elucidações teóricas, mas também práticas”, ressalta.
Desde o início de seu pontificado, Francisco tem feito do meio
ambiente uma de suas bandeiras. Em diversas ocasiões, ele fez questão
de frisar a urgência de se preservar o meio ambiente, alertando para os
riscos que a degradação acelerada poderá gerar para a presente e
futuras gerações. “Deus perdoa sempre, o homem às vezes, a natureza
nunca, se não é cuidada”, sentenciou recentemente.
O meio ambiente já vem sendo fruto de preocupação do Vaticano há alguns anos e da Igreja brasileira, há alguns anos. O papa João Paulo II
já havia dado algumas declarações pontuais sobre os perigos do
consumismo desenfreado e a necessidade de se preservar os recursos
naturais. Já a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vem abordando o tema, por meio das Campanhas da Fraternidade,
como a realizada em 2003, ano em que a preservação dos recursos
hídricos foi o tema, e a de 2007, que tratou da proteção à Amazônia.
“As campanhas têm papel fundamental, pois criam oportunidades
para fiéis, presbíteros e demais membros da sociedade entrarem com
efetividade no debate”, destaca Afonso Murad.
Novas orientações
Segundo o professor da Faje, muitos pesquisadores
têm feito um trabalho de buscar fundamentos bíblicos para a importância
do equilíbrio nas relações do homem com a natureza. Ele explica que, em
diversas passagens da Bíblia, existem orientações para que o homem
tenha uma relação de respeito e cuidado com o ambiente.
“No texto do Gêneses II, por exemplo, existe uma passagem que
diz que o ser humano foi criado por Deus do barro da terra e do sopro
de Javé, ou seja, dos mesmos elementos dos quais os outros seres vivos
foram criados. Nesse sentido, pela Bíblia, homem e natureza estão em
situação de igualdade. Da mesma forma, Gêneses I estabelece que o ser
humano reflete a imagem de Deus por meio do domínio de todos os outros
seres vivos. Mas, nesse caso, a palavra ‘domínio’ deve ser interpretada
de acordo como ‘cuidado’, uma vez que Deus cuida dos seres vivos”, exemplifica.
A expectativa, agora, é que essa visão esteja presente na Encíclica
de Francisco, com um posicionamento mais firme do Vaticano frente aos
desafios ambientais do século XXI. “O papa tem desempenhado não
apenas o papel de líder da Igreja Católica, como também de um
importante líder espiritual de nosso tempo. Nesse sentido, acredito que
a Encíclica trará uma repercussão muito positiva, aprimorando o debate
ambiental não apenas no meio católico, como também junto a outros
setores da sociedade”, ressalta.
Alexandre Vaz*
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