Arte é nostalgia de Deus
Mira Schendel
O Museu de Serralves, no Porto, apresenta até 24 de junho a primeira grande exposição em Portugal de Mira Schendel, para quem “Arte é nostalgia de Deus, não precisa pintar aquilo que se vê, nem aquilo que se sente, mas aquilo que vive em nós”.
Nascida em Zurique em 1919, Schendel viveu em Milão e Roma antes de emigrar para o Brasil em 1949. Em 1953, fixou-se em São Paulo, onde viveu e trabalhou até à sua morte, em 1988, refere a página do museu.
A experiência de «deslocações culturais, geográficas e linguísticas e um profundo interesse pela história da religião e pela filosofia» marcam o trabalho de Schendel, que ajudou a criar «um círculo de intelectuais oriundos de áreas diversas do conhecimento (psicanálise, literatura, filosofia, teologia)».
Seguindo o pensamento do monge russo Silvano de Athos, da Igreja ortodoxa, há três ensinamentos que «iluminam o encontro com o fascinante trabalho artístico de Mira Schendel», aponta José Tolentino Mendonça na mais recente edição do jornal “Expresso”.
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Com efeito, «ela renuncia a tudo o que possa soar como enfatização, optando poruma ascética economia de meios», porque, para a sua ética do despojamento, o ser humano vive a «tirar cascas».
Por outro lado, a arte de Mira «constrói-se como ardente indagação» do «invisível» que atravessa «profundamente»a humanidade e «dos seus processos lentos ou vertiginosos, impercetíveis ou nomeáveis».
O «patamar de compreensão» de Mira Schendel, continua José Tolentino Mendonça, é este: «Quando nos abandonamos ao silêncio, ele revela-se, torna-se visual. O processo de criação mais não visa do que essa forma de transparência. A irradiação do silêncio age sobre o observador, metamorfoseando tudo em seu redor, dissolvendo as fronteiras entre linguagens, superando a distinção entre material e imaterial, entre direito e avesso, dentro e forte».
Por isso, «a obra de arte é, para usar palavras de Mira, “uma ponte. Temos de atravessá-la. Não fugir dela, não morar nela”. A única habitação real e verdadeira é o próprio acontecer.»
A exposição, organizada pela Tate Modern (Londres) e Pinacoteca do Estado de São Paulo, em associação com a Fundação de Serralves, reúne mais de 200 pinturas, esculturas e desenhos artista, alguns apresentados pela primeira vez.
Rui Jorge Martins
© SNPC | 31.03.14
Fonte: http://www.snpcultura.org/mira_schendel_arte_nostalgia_de_Deus.html
O Museu de Serralves, no Porto, apresenta até 24 de junho a primeira grande exposição em Portugal de Mira Schendel, para quem “Arte é nostalgia de Deus, não precisa pintar aquilo que se vê, nem aquilo que se sente, mas aquilo que vive em nós”.
Nascida em Zurique em 1919, Schendel viveu em Milão e Roma antes de emigrar para o Brasil em 1949. Em 1953, fixou-se em São Paulo, onde viveu e trabalhou até à sua morte, em 1988, refere a página do museu.
A experiência de «deslocações culturais, geográficas e linguísticas e um profundo interesse pela história da religião e pela filosofia» marcam o trabalho de Schendel, que ajudou a criar «um círculo de intelectuais oriundos de áreas diversas do conhecimento (psicanálise, literatura, filosofia, teologia)».
Seguindo o pensamento do monge russo Silvano de Athos, da Igreja ortodoxa, há três ensinamentos que «iluminam o encontro com o fascinante trabalho artístico de Mira Schendel», aponta José Tolentino Mendonça na mais recente edição do jornal “Expresso”.
LEIA MAIS:
- «1. Que se experimenta uma retração e um desapego quando a alma está ferida pela nostalgia do absoluto;
- 2. Que esta nostalgia desencadeia uma espécie de intinerância interrogativa (“Onde estás?; Onde habitas?”);
- 3. Que só a alma que se abandona alcança o conhecimento», assinala.
Com efeito, «ela renuncia a tudo o que possa soar como enfatização, optando poruma ascética economia de meios», porque, para a sua ética do despojamento, o ser humano vive a «tirar cascas».
Por outro lado, a arte de Mira «constrói-se como ardente indagação» do «invisível» que atravessa «profundamente»a humanidade e «dos seus processos lentos ou vertiginosos, impercetíveis ou nomeáveis».
O «patamar de compreensão» de Mira Schendel, continua José Tolentino Mendonça, é este: «Quando nos abandonamos ao silêncio, ele revela-se, torna-se visual. O processo de criação mais não visa do que essa forma de transparência. A irradiação do silêncio age sobre o observador, metamorfoseando tudo em seu redor, dissolvendo as fronteiras entre linguagens, superando a distinção entre material e imaterial, entre direito e avesso, dentro e forte».
Por isso, «a obra de arte é, para usar palavras de Mira, “uma ponte. Temos de atravessá-la. Não fugir dela, não morar nela”. A única habitação real e verdadeira é o próprio acontecer.»
A exposição, organizada pela Tate Modern (Londres) e Pinacoteca do Estado de São Paulo, em associação com a Fundação de Serralves, reúne mais de 200 pinturas, esculturas e desenhos artista, alguns apresentados pela primeira vez.
Rui Jorge Martins
© SNPC | 31.03.14
Fonte: http://www.snpcultura.org/mira_schendel_arte_nostalgia_de_Deus.html
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