Entre uma congregação e outra os cardeais
brasileiros se reuniram com cerca de 100 sacerdotes que estudam em Roma, no
Colégio Pio Brasileiro. Dom Odilo Pedro Sherer, dom João Braz de Aviz, don
Raymundo Damasceno e dom Geraldo Majela Agnelo partilharam sobre este tempo na
história da Igreja e responderam às perguntas dos presentes tocando em temas
considerados polêmicos.
As informações do encontro são do padre
e jornalista Tiago Silva, publicadas originalmente no blog Ecclesia em Foco.
Para dom Damasceno a renúncia pegou-o de
surpresa: “Assim que soube liguei para o núncio (representante do Papa no
Brasil) para saber se a informação procedia, mas nem mesmo ele estava ciente da
renúncia”. Segundo o bispo de Aparecida, quem melhor acolheu a notícia
foram as pessoas simples: “Ele está velhinho. Deve mesmo
descansar”.
Dom Odilo disse aos sacerdotes que poderiam vivenciar o
momento de dois modos: “de longe, apenas como espectadores, ou de dentro, como
protagonistas por meio da oração”. “Onde nos situamos?” foi a pergunta deixada
no ar pelo cardeal. Segundo o arcebispo de São Paulo, os católicos vivenciam um
momento histórico sem precedentes, “uma oportunidade privilegiada dentro da
celebração dos 50 anos do Concilio Vaticano II e do Ano da Fé. Será que Deus não
está querendo dizer alguma coisa para nós?”. Para o purpurado, os
católicos deveriam meditar sobre a própria profissão de fé:
“Creio na Igreja de Jesus Cristo. Uma agitada no barco pode ajudar-nos a
confirmar nossa fé em Jesus e na Igreja”.
Ao final, dom João, prefeito para os Institutos
de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, abordou alguns aspectos
da crise que os consagrados vivenciam. Segundo o arcebispo-emérito de Brasilia,
“a principal dificuldade hoje da vida consagrada é o distanciamento entre a fé
professada e a visibilidade do testemunho dado pelos religiosos”. “Hoje,
fala-se muito em reforma, mas a principal reforma é reaprender a capacidade de
transformar a experiência pessoal com Jesus em testemunho de vida”.
Para o purpurado, “os esquemas do individualismo, dos prazeres e das vaidades
entraram na Igreja, enquanto que a fraternidade e o amor parecem ter perdido seu
espaço privilegiado, principalmente nos testemunhos”.
Respondendo as perguntas dos sacerdotes
estudantes, os cardeais afrontaram alguns temas dito “polêmicos”:
Desafios: Quais os
principais desafios que o próximo Papa deve enfrentar? Segundo dom Odilo
“esta pergunta já tornou-se por demais retórica, pois já sabemos quais são os
desafios da Igreja neste momento”. Recordando o último Sínodo dos Bispos (2012)
sobre a Nova Evangelização, o cardeal enfatizou que o primeiro e grande desafio
é a evangelização. Para ele a sociedade e, muitos da Igreja, são
condicionados pelas notícias do cotidiano e “infelizmente esquecem muito rápido
o que a Igreja vem realizando, prestando atenção somente nos por menores que,
por vezes, nem se quer existem”. Para o arcebispo de São Paulo, o
próximo Papa não será a solução dos problemas da Igreja, “mas aquele que vai
impulsionar toda a Igreja como uma locomotiva”. “Todos os católicos são
responsáveis” frisou o purpurado.
Vatileaks: Qual a
influência do Vatileaks para a escolha do próximo Papa? Segundo don
Raymundo, os cardeais foram informados que nenhum cardeal está envolvido no
caso. Sendo assim, o Vatileaks não exercerá nenhuma influência sobre a
escolha do novo Papa. Referindo-se a impressa, dom Odilo afirma estar
tentando influenciar o conclave. “Sabe-se que os jornalistas devem comunicar,
enviar informações para os veículos de informação, mas não devem abordar
o conclave como uma reunião política, em que diversos partidos discutem entre si
e um deve sair vitorioso“.
Cúria Romana: Como
reagiram os “curiais” e quais as repercussões da renúncia do Papa? Segundo
don João, todos foram pegos de surpresa. “Eu estava presente no dia. Após um
discurso de mais de 30 minutos de um cardeal, o Papa inicia a ler um documento
em latim com o mesmo tom de voz, como se tudo estive normal. De repete, ouço a
palavra renúncia. Viro-me e pergunto à outro cardeal: ‘Ele está
renunciando?’ E outro responde-me atônito: ‘Sim, está!’. Segundo o
cardeal, todos ficaram surpresos, mas o sentimento que pairava era daqueles que
“haviam perdido um pai“.
Conclave: Como será o
próximo conclave? Segundo dom Odilo, tudo procederá como orienta o
documento Universi Dominci Gregis, sobre a eleição do Romano Pontífice.
“Não se deve esperar um convenção política, mas homens que, pela oração
e ação do Espírito Santo, votarão naquele que, em consciência, acreditarem ser a
pessoa mais idônea para conduzir a Igreja”. Brincando concluiu: “O
Espirito Santo não enviará um SMS para avisar em quem se deve votar. Tudo
ocorrerá por mediações humanas”.
FONTE: JORNAL O POVO -
09/03/2013
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