sábado, 5 de abril de 2014

ESPAÇO E TEMPO


Reintegrar-se no espaço e no tempo


Leonardo Boff

Adital
A partir dos anos 70 do século passado ficou claro para grande parte da comunidade científica que a Terra não é apenas um planeta sobre o qual existe vida. A Terra se apresenta com tal dosagem de elementos, de temperatura, de composição química da atmosfera e do mar que somente um organismo vivo pode fazer o que ela faz. A Terra não contém simplesmente vida. Ela é viva, um superorganismo vivente, denominado pelos andinos de Pacha Mama e pelos modernos de Gaia, o nome grego para a Terra viva.
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A espécie humana representa a capacidade de Gaia ter um pensamento reflexo e uma consciência sintetizadora e amorosa. Nós, humanos, homens e mulheres, possibilitamos à Terra apreciar a sua luxuriante beleza, contemplar a sua intrincada complexidade e descobrir espiritualmente o Mistério que a penetra.
O que os seres humanos são em relação à Terra é a Terra em relação ao cosmos por nós conhecido. O cosmos não é um objeto sobre o qual descobrimos a vida. O cosmos é, segundo muitos cosmólogos contemporâneos (Goswami, Swimme e outros), um sujeito vivente que se encontra num processo permanente de gênese. Caminhou 13,7 bilhões de anos, se enovelou sobre si mesmo e madurou de tal forma que num canto dele, na Via Láctea, no sistema solar, no planeta Terra, emergiu a consciência reflexa de si mesmo, de donde veio, para onde vai e qual é a Energia poderosa que tudo sustenta.
Quando um ecoagrônomo estuda a composição química de um solo, é a própria Terra que estuda a si mesma. Quando um astrônomo dirige o telescópio para as estrelas, é o próprio universo que olha para si mesmo.
A mudança que esta leitura deve produzir nas mentalidades e nas instituições só é comparável com aquela que se realizou no século 16 ao se comprovar que a Terra era redonda e girava ao redor do sol. Especialmente, a transformação de que as coisas ainda não estão prontas, estão continuamente nascendo, abertas a novas formas de autorrealização. Consequentemente, a verdade se dá numa referência aberta e não num código fechado e estabelecido. Só está na verdade quem caminha com o processo de manifestação da verdade.
"Não temos a idade que se conta a partir do dia do nosso nascimento. Temos a idade do cosmos"
Importa, antes de mais nada, importa reintegrar o tempo. Nós não temos a idade que se conta a partir do dia do nosso nascimento. Nós temos a idade do cosmos. Começamos a nascer há 13,7 bilhões de anos, quando principiaram a se organizar todas aquelas energias e materiais que entram na constituição de nosso corpo e de nossa psique. Quando isso madurou, então nascemos de verdade, e sempre abertos a outros aperfeiçoamentos futuros.
Se sintetizarmos o relógio cósmico de 13,7 bilhões de anos no espaço de um ano solar, como o fez Carl Sagan no seu livro Os dragões do Eden (N.York, 1977, 14-16), e querendo apenas realçar algumas datas que nos interessam, teríamos o seguinte quadro:
A primeiro de janeiro ocorreu o Big Bang. A primeiro de maio o surgimento da Via Láctea. A nove de setembro, a origem do sistema solar. A 14 de setembro, a formação da Terra. A 25 de setembro, a origem da vida. A 30 de dezembro, o aparecimento dos primeiro hominídeos, avós ancestrais dos humanos. A 31 de dezembro, os primeiros homens e mulheres. Nos últimos 10 segundos de 31 de dezembro foi inaugurada a história do homo sapiens/demens, do qual descendemos diretamente. O nascimento de Cristo ter-se-ia dado precisamente às 23 horas 59 minutos e 56 segundos. O mundo moderno teria surgido no 58º segundo do último minuto do ano. E nós, individualmente? Na última fracção de segundo antes de completar meia-noite.
Em outras palavras, somente há 24 horas o universo e a Terra têm consciência reflexa de si mesmos. Se Deus dissesse a um anjo "procure no espaço e identifique no tempo a Denise ou o Edson ou a Silvia", certamente não o conseguiria porque eles são menos que um pó de areia vagando no vácuo interstelar e começaram a existir há menos de um segundo. Mas Deus, sim, porque Ele escuta o pulsar do coração de cada filho e filha seus, porque neles o universo converge em autoconsciência, em amorização e em celebração.
Uma pedagogia adequada à nova cosmologia nos deveria introduzir nestas dimensões que nos evocam o sagrado do universo e o milagre de nossa própria existência. Isso em todo o processo educativo, da escola primária à universidade.
Em seguida faz-se mister reintegrar o espaço dentro do qual nos encontramos. Vendo a Terra de fora da Terra, nós descobrimos um elo de uma imensa cadeia de seres celestes. Estamos numa dos 100 bilhões de galáxias, a Via Láctea. Numa distância de 28 mil anos-luz de seu centro; pertencemos ao sistema solar, que é um entre bilhões e bilhões de outras estrelas, num planeta pequeno mas extremamente aquinhoado de fatores favoráveis à evolução de formas cada vez mais complexas e conscientizadas de vida: a Terra.
Na Terra nos encontramos num Continente que se independizou há cerca de 210 milhões de anos, quando a Pangea (o continente único da Terra) se fraturou e ganhou a configuração atual. Estamos nesta cidade, nesta rua, nesta casa, neste quarto, e nesta mesa, diante do computador, a partir de onde me relaciono e me sinto ligado à totalidade de todos os espaços do universo.
Reintegrados no espaço e no tempo, nos sentimos como Pascal diria: um nada diante do Todo e um Todo diante do nada. E nossa grandeza reside em saber e celebrar tudo isso. [Leonardo Boff, teólogo e filósofo, é também escritor].
Reintegrarse en el espacio y en el tiempo
Desde los años 70 del pasado siglo, quedó claro para gran parte de la comunidad científica que la Tierra no es solamente un planeta sobre el cual existe vida. La Tierra se presenta con tal balance de elementos, de temperatura, de composición química de la atmósfera y del mar que solamente un organismo vivo puede hacer lo que hace ella. La Tierra no contiene simplemente vida. La Tierra está viva, es un superorganismo viviente, denominado por los andinos Pachamama y por los modernos Gaia, el nombre griego para la Tierra viva.
La especie humana representa la capacidad de Gaia de tener un pensamiento reflejo y una conciencia sintetizadora y amorosa. Nosotros los humanos, hombres y mujeres, damos la posibilidad a la Tierra de apreciar su lujuriante belleza, contemplar su intrincada complejidad y descubrir espiritualmente el Misterio que la penetra.
Lo que los seres humanos son en relación a la Tierra lo es la Tierra en relación al cosmos por nosotros conocido. El cosmos no es un objeto sobre el cual descubrimos la vida. El cosmos es, según muchos cosmólogos contemporáneos, (Goswami, Swimme y otros) un sujeto viviente que se encuentra en un proceso permanente de génesis. Caminó 13,7 miles de millones de años, se enrolló sobre sí mismo y maduró de tal forma que en un rincón suyo, en la Vía Láctea, en el sistema solar, en el planeta Tierra emergió la conciencia refleja de sí mismo, de dónde viene, hacia donde va y cuál es la Energía poderosa que sustenta todo.
Cuando un ecoagrónomo estudia la composición química de un suelo es la propia Tierra la que se estudia a sí misma. Cuando un astrónomo dirige el telescopio hacia las estrellas, es el propio universo el que se mira a sí mismo.
El cambio que esta lectura debe producir en las mentalidades y en las instituciones solo es comparable con el que se realizó en el siglo XVI al comprobar que la Tierra era redonda y giraba alrededor del sol. Especialmente la consideración de que las cosas todavía no están terminadas, están continuamente naciendo, abiertas a nuevas formas de autorrealización. Consecuentemente la verdad se da en una referencia abierta y no en un código cerrado y establecido. Sólo está en la verdad quien camina con el proceso de manifestación de la verdad.
Importa, antes de nada, realizar la reintegración del tiempo. Nosotros no tenemos la edad que se cuenta a partir del día de nuestro nacimiento. Tenemos la edad del cosmos. Comenzamos a nacer hace 13,7 miles de millones de años cuando empezaron a organizarse todas aquellas energías y materiales que entran en la formación de nuestro cuerpo y de nuestra psique. Cuando eso maduró, entonces nacimos de verdad y abiertos siempre a otros perfeccionamientos futuros.
Si sintetizamos el reloj cósmico de 13,7 miles de millones de años en el espacio de un año solar, como lo hizo ingeniosamente Carl Sagan en su libro Los Dragones del Edén (N. York 1977, 14-16), y queriendo solo destacar algunas fechas que nos interesan, tendríamos el cuadro siguiente:
El 1 de enero ocurrió el big bang. El 1 de mayo la aparición de la Vía Láctea. El 9 de septiembre, el origen del sistema solar. El 14 de septiembre, la formación de la Tierra. El 25 de septiembre, el origen de la vida. El 30 de diciembre, la aparición de los primeros homínidos, abuelos antepasados de los humanos. El 31 de diciembre irrumpieron los primeros hombres y mujeres. Los últimos 10 segundos del 31 de diciembre inauguraron la historia del homo sapiens/demens del cual descendemos directamente. El nacimiento de Cristo habría sido precisamente a las 23 horas 59 minutos y 56 segundos. El mundo moderno habría surgido en el segundo 58 del último minuto del año. ¿Y nosotros individualmente? En la última fracción de segundo antes de completar media noche.
En otras palabras, hace solamente 24 horas que el universo y la Tierra tienen conciencia refleja de sí mismos. Si Dios dijese a un ángel: "busque en el espacio e identifique en el tiempo a Denise o a Edson o a Silvia”, con toda seguridad no lo conseguiría porque ellos son menos que un grano de arena vagando en el vacío interestelar y empezaron a existir hace menos de un segundo. Pero Dios sí, porque Él escucha el latir del corazón de cada uno de sus hijos e hijas, porque en ellos el universo converge en autoconciencia, en amorización y en celebración.
Una pedagogía adecuada a la nueva cosmología nos debería introducir en estas dimensiones que nos evocan lo sagrado del universo y el milagro de nuestra propia existencia. Y eso en todo el proceso educativo, desde primaria hasta la universidad
Después, es menester reintegrar el espacio dentro del cual nos encontramos. Mirando la Tierra desde fuera de la Tierra, nos descubrimos como un eslabón de una inmensa cadena de seres celestes. Estamos en una de los 100 mil millones de galaxias, la Vía Láctea. A una distancia de 28 mil años luz de su centro; pertenecemos al sistema solar que es uno entre miles de millones de otras estrellas, en un planeta pequeño pero extremadamente favorecido por factores propicios a la evolución hacia formas cada vez complejas y concientizadas de vida: la Tierra.
En la Tierra nos encontramos en un Continente que se independizó hace cerca de 210 millones de años cuando Pangea (el continente único de la Tierra) se fracturó y adquirió la configuración actual. Estamos en esta ciudad, en esta calle, en esta casa, en este cuarto, y en esta mesa delante del ordenador desde donde me relaciono y me siento ligado a la totalidad de todos los espacios del universo.
Reintegrados en el espacio y en el tiempo nos sentimos como diría Pascal: una nada delante del Todo y un Todo delante de la nada. Y nuestra grandeza reside en saber y celebrar todo eso.
Traducción de Mª José Gavito Milano

FONTE:http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=80063

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