domingo, 7 de abril de 2013

NÓS E O PADRE ANTHONY MUSAALA


Procurando evitar qualquer envolvimento emocional, gostaria de colaborar com umas poucas palavras acerca deste assunto que está mexendo com nossa comunidade de MFPC. Primeiramente, vai aqui o nosso abraço para Padre Musaala, na certeza do nosso sacerdócio comum nos unir sempre, fazendo de nós uma comunidade que deseja caminhar, como Abraão, rumo a terras novas, porque as antigas já foram, exaustivamente, lavradas, apresentando-se cansadas e, consequentemente, pouco produtivas.

Padre Musaala sugere “o início de uma reflexão interna sobre o ‘fracasso do celibato entre os padres diocesanos’ “. Gostaria de lembrar que esta mesma reflexão já foi sugerida ao Papa João Paulo II, através da intervenção direta de Aloísio Cardeal Lorscheider, quando da visita do Papa a Fortaleza em julho de 1980. A resposta foi um ensurdecedor silêncio! A resposta do Arcebispo de Kampala, Cyprian Kizito Lwanga, é mais clara: mais uma vez o Direito Canônico “resolveu” o problema, através da suspensão ferendae sententiae, como prescrito pelo cânon 1314.

Ou seja, desde 1980, isto é, em 33 anos, nada mudou, passo algum foi feito, a porta continua fechada e a “janela aberta” da Igreja em geral e do Vaticano em especial, com a qual Papa João XXIII tanto sonhava, não se realizou, tendo como consequência que, ao menos em relação a este assunto, “a primavera” ainda não chegou à Igreja, continuando ela mergulhada num grisalho e frio inverno, representado pelo Direito Canônico, que jamais deixará de ser um dos obstáculos principais para a Igreja tornar-se verdadeiramente Igreja de Cristo, comunidade de amor. 

Gostaria de perguntar ao senhor arcebispo de Kampala, como ele entende a palavra de Jesus quando diz: “Entre vocês não deve ser assim” (Jesus se refere à disputa, superioridade de uns sobre outros – onde há superiores, também há inferiores -) etc. ?

O senhor arcebispo alega que Padre Musaala “desperta o ódio e o desprezo contra a Igreja”. Creio que esta afirmação não necessite de comentário, pois fatos internos da Igreja Católica Apostólica Romana dos últimos anos falam por si, por terem causado profundo ódio e desprezo contra a Igreja, sem precedentes.Padre Musaala fala em “efeitos nada positivos em conseqüência de uma imposição”. O senhor arcebispo se nega a entrar no âmago da questão (a obrigatoriedade do celibato), refugiando-se no Direito Canônico, atitude típica de quem não tem argumentos. É fechada novamente a porta para o diálogo, a Igreja de Puebla, aquela da “Comunhão e Participação”, levando-a, mais uma vez, ao túmulo.

Gostaria de perguntar ao senhor arcebispo de Kampala, com que olhos ele lê o capítulo quarto do Evangelho de João, quando Jesus conversa, respeitosamente, com a mulher samaritana, interessando-se pela vida dela, procurando ajudá-la encontrar novas perspectivas para sua vida? Será que Jesus não quis ensinar-nos a arte do diálogo?

O Padre Musaala diz: “É necessária uma campanha de sensibilização pelo celibato opcional, já que não há argumentos teológicos, mas apenas as restrições de tradição e da disciplina da Igreja”.

Se somente no Brasil há, ao menos, 8.000 padres casados (não tenho idéia de quantos há pelo mundo afora), então a proposta por uma “sensibilização” acerca da questão obrigatória do celibato parece-me mais do que sadia, necessária, além de urgente. Creio, por sinal, que nós, o MFPC, deveríamos tomar a iniciativa deste processo de sensibilização.

Gostaria de perguntar ao senhor arcebispo de Kampala, e a todos que dirigem a Igreja, por que tanto medo, qual razão, por que tanta rigidez, frieza e insistência em não querer compreender o outro lado. Parece haver algo a esconder, algo de se envergonhar. Porque os senhores não abrem o jogo? Porque não vamos dar um “basta” a esta brincadeira de mau gosto deste interminável “esconde-esconde”? Paulo diz aos Efésios: “Confessando a verdade no amor, cresceremos sob todos os aspectos em direção àquele que é a cabeça, Cristo” (Ef. 4, 15).

 Entende-se esta palavra de Paulo no seguinte sentido: nós podemos fazer crescer as coisas em direção a Cristo. Ou seja: Cristo e sua verdade aparecerão se sentarmos à mesa para o diálogo e, depois, para a partilha do pão, juntos, que nem os discípulos de Emaús (Lucas 24, 30-32).

Embora ainda haja muitos outros aspectos a serem abordados, paro por aqui.

É evidente que o MFPC, em nível nacional, precisa declarar-se, publicamente, diante desta questão, começando por uma carta aberta ao Padre Musaala, deixando claro que ele é nosso irmão. Depois uma nota de protesto ao senhor arcebispo de Kampala, pedindo a ele para refletir sobre a palavra do Padre Musaala, quando este diz: “Casos (escandalosos) não são isolados, sintomáticos de um sistema doente que perdeu a sua integridade, mas que nunca vai admitir isso.”

Fonte: enviado pelo autor, via e-mail:  geraldof73@yahoo.com.br

06 de abril de 2013

Geraldo Frecken - PRESIDENTE ESTADUAL DO MOVIMENTO DOS PADRES CASADOS DO CEARÁ

  1 comentário para NÓS E O PADRE ANTHONY MUSAALA

 Jean Combe - Bélgica - PADRE CASADO


Eu penso que para responder aos questionamentos do Geraldo Frencken, é preciso, antes de mais nada, considerar esta igreja romana como uma instituição humana, o que ela, aliás, é.
E utilizar os instrumentos de análise de qualquer sociedade humana.
Qual é sua natureza? Quais são os elementos de sua identidade? Qual é sua composição? Como se se torna membro dela? Como se pode sair dela?
Quais são os elementos de autoridade?
Quais são seus meios de ação?
O que tem ela revelado de seu ser-no-mundo nos séculos passados?
O que ela trouxe de positivo à sociedade? E de negativo?
Qual é a percepção que dela têm as pessoas que não são seu público?
Quais são seus problemas hoje?
quais são as respostas que ela traz para estes problemas?
O que dizem dela os seus membros? O que dizem os seus detratores?
Longo trabalho. Mas eminentemente construtivo,  longe de tudo o que ela própria diz sobre si mesma. Boa caminhada.
Jean
 

UGANDA: suspenso padre que contesta o celibato. Porque: “CRIA ÓDIO contra a igreja.”


O celibato dos padres católicos é “mais uma imposição do que uma escolha livre, e seus efeitos não são nada positivos.” Isto foi escrito, preto no branco, pelo Pe. Anthony Musaala, sacerdote ugandês, numa longa carta aberta, enviada em 12 de março aos bispos, religiosos e leigos para sugerir o início de uma reflexão interna sobre o “fracasso do celibato entre os padres diocesanos”, “que poderiam se tornar felizes no casamento, antes ou depois da ordenação, em vez de viverem tristes e sozinhos.”
Uma opinião provavelmente chocante – especialmente para os católicos africanos que tendem a ser conservadores – mas inderrogável: continuar a fazer de conta que o problema não existe só vai causar danos sempre mais graves, continua Musaala, relativos tanto ao sofrimento dos sacerdotes como também às consequências “escandalosas” e criminosas. O ‘”auto-engano”, a negação do problema, explica o sacerdote, pode durar por mais uns dez anos, mas depois muitos escândalos virão à luz e, então, o sistema vai implodir, provocando o abandono da Igreja Católica e a migração de grande parte dos fiéis para outras comunidades de fé “, cujos pastores talvez nem sejam melhores, mas, com certeza, vão parecer menos hipócritas.” Tudo isso em um contexto eclesial de crescente descontentamento, sobretudo entre as classes médias.
Todos, na Uganda, falam sobre os casos amorosos dos sacerdotes, lemos na carta: no cabeleireiro ou no bar, na confissão ou em casa. Trata-se de relações mais ou menos ocultas que os sacerdotes mantêm, fugaz ou permanentemente com paroquianas, garçonetes, estudantes, padres, freiras, e até mesmo religiosos que oferecem sexo em troca de dinheiro.
E – é a nota triste – infelizmente mesmo com menores, sem que na África o escândalo da pedofilia suscite a indignação pública como aconteceu na Europa e na América do Norte. Completa o quadro uma ainda não contabilizada quantidade de filhos espalhados pelo país ou abortado por não “sujar’ a imagem do mesmo padre. “Emerge assim uma grande fraqueza humana – conclui Musaala – com consequências catastróficas tanto para o padre como para os parceiros. Fraqueza que não pode ser escondida atrás de um voto de celibato, orações e rituais. “
É “a verdade nua e crua” que a Igreja na África continua a empurrar, como se fosse poeira, para baixo do tapete, bem representada por alguns “casos” que o Pe. Anthony conta na carta: um rapaz de 21 anos que tentou o suicídio, filho de um padre que finge ser seu tio e que exerce o ministério na Arquidiocese de Kampala; um amigo dele, que nasceu da violência de um pai branco já falecido, que nunca conseguiu superar a injustiça sofrida pela mãe, apesar da compensação financeira da congregação; uma jovem de Kampala Velha, que caiu na miséria e depois foi enganada e engravidada por um padre; uma mulher que se ia confessar apenas para ser acariciada na escuridão do confessionário; finalmente, ele próprio que, muito jovem ainda, descobriu o concorrido mundo do sexo entre os estudantes das escolas católicas. “Casos não são isolados, sintomáticos de um sistema doente que perdeu a sua integridade, mas que nunca vai admitir isso.”
A proposta
Os casos de abuso infantil devem ser tratados com processos legais, da mesma forma que todos os outros crimes, escreve Musaala, lembrando que, entretanto – e, claro, em completa autonomia em relação à Igreja – decidiu criar uma rede de profissionais para apoiar vítimas de pedofilia eclesiástica.
“É necessária – acrescenta – uma campanha de sensibilização pelo celibato opcional”, “já que não há argumentos teológicos”, “mas apenas as restrições de tradição e da disciplina da Igreja”. “Estou ciente do fato de que a luta será dura. Infelizmente, o celibato também serve a alguns interesses na estrutura de poder da Igreja e, claro, para a autoridade eclesiástica, os padres celibatários são menos caros, mais fáceis de gerenciar e até mesmo de manipular.
Eu acho que com o tempo estaremos livres deste jugo inútil e mais grave ainda na África, onde os laços familiares são cruciais para o equilíbrio psicológico das pessoas. “Uma regra, conclui,  removendo uma pedrinha do sapato, que, além do mais, só vale para os padres que não têm poder suficiente para gozarem da cobertura complacente das hierarquias católicas locais.

A resposta
Segundo o arcebispo de Kampala, Cyprian Kizito Lwanga – o texto da sua resposta, datada de 19 de março, está disponível no site do jornal ugandês Daily Monitor, 20/3 – a carta do Pe. Anthony Musaala causou grande perturbação entre os fiéis e jogou uma luz ruim sobre a Igreja da Uganda, que sempre foi comprometida com a defesa dos direitos das crianças e dos mais vulneráveis. O celibato é uma obrigação prevista pelo código de direito canônico, mas também pelo juramento do diácono que fez os votos, acrescentou o prelado. Ninguém é forçado a se tornar padre e, portanto, as críticas feitas pelo Pe. Musaala estão incorretas. Além disso, o seu ensino, diz também o arcebispo, “desperta o ódio e o desprezo contra a Igreja”, e portanto “, ele incorre em uma suspensão ferendae sententiae, como prescrito pelo Can. 1314 ‘.
Giampaolo Petrucci
Tradução: João Tavares
Fonte:http://www.adistaonline.it/index.php?op=articolo&id=52656
 

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