sexta-feira, 19 de abril de 2013

Chamados a viver a unidade

9ª Assembleia Geral Ordinária da UMBRASIL

13/04/2013: Brasil
A União Marista do Brasil (UMBRASIL) realizou a 9ª Assembleia Geral Ordinária (AGO), nos dias 14 e 15 de março de 2013, no Centro de Convenções Israel Pinheiro, em Brasília, com a presença de 30 representantes das Províncias do Rio Grande do Sul, Brasil Centro-Sul, Brasil Centro-Norte e do Distrito Marista da Amazônia.
Durante o encontro houve a eleição do presidente do Conselho Superior da UMBRASIL, bem como da Diretoria e do Conselho Fiscal, e foram apresentados o Relatório de Atividades e o Balanço Consolidado do ano 2012, além da proposta do Plano de Atividades para 2013.
Ir. Valdícer Civa Fachi, secretário‐executivo da UMBRASIL, apresentou a proposta de elaboração de um novo plano estratégico da UMBRASIL e do Brasil Marista, que será construído de forma coletiva com a participação das Províncias e Distrito, através dos seus representantes nos diversos organismos da UMBRASIL, assistida por uma assessoria externa.
Também foram discutidos temas de interesse, tais como: Encontro Internacional dos Jovens Maristas (EIJM 2013 | CHANGE); Jornada Mundial da Juventude; expo-católica; Feira Vocacional; Projeto Material Didático; Portal Futurum; II Assembleia Internacional da Missão Marista; I Encontro Marista de Representação Institucional; I Fórum Interamericano da Comissão e Subcomissões de Missão; V Encontro Marista de Missão e Gestão; Seminário Internacional FMSI/BICE; Encontro das Comissões da Área de Vida Consagrada e Laicato; e I Encontro Marista de Captação de Recursos.
Antes de começar a Assembleia, os Conselhos Provinciais reuniram‐se para uma jornada de partilha e formação a partir do tema “Somos muitos membros, mas formamos um só corpo” (1 Cor 12,12), com o objetivo de dar a conhecer a missão e a dinâmica da UMBRASIL e suas Associadas, em vista da construção da unidade do Brasil Marista e da garantia dos fluxos de comunicação, participação e processos decisórios colegiados.
Ir. João do Prado, representando o Conselho Geral, trabalhou o tema “Bicentenário do Instituto: de Champagnat às novas perspectivas para a missão marista”, via Skype. Dom Frei Leonardo Ulrich Steiner, Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, desenvolveu o tema “Chamados a viver a unidade”, partindo das dimensões bíblica, eclesial, social e vida consagrada.
Os Conselhos também tiveram oportunidade de conhecer o histórico da caminhada do interprovincialismo do Brasil e fazer um processo de imersão na realidade da UMBRASIL, inteirando‐se da missão, visão e modelo organizacional, bem como dos documentos que regem a UMBRASIL. Na sequência, cada Província e o Distrito teve a oportunidade de apresentar, mesmo que de maneira sintética, o seu modelo organizacional e suas prioridades.
Constituição dos órgãos da Administração Superior da UMBRASIL
Conselho Superior
Ir. Joaquim Sperandio – PresidenteIr. Antônio Benedito de Oliveira
Ir. Ataíde José de Lima
Ir. Claudiano Tiecher
Ir. Deivis Alexandre Fischer
Ir. Délcio Afonso Balestrin
Ir. Inácio Nestor Etges
Ir. João Gutemberg
Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz
Ir. Wellington Mousinho de Medeiros
Diretoria
Diretor‐Presidente: Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz
Diretor‐Secretário: Ir. Claudiano Tiecher
Diretor‐Tesoureiro: Ir. Délcio Afonso Balestrin
Conselho Fiscal
Conselheiros Titulares:
Ir. Humberto Gondim
Ir. Jorge Gaio
Ir. Lauro Francisco Hochscheidt
Conselheiros Suplentes:
Ir. José Nilton Dourado da Silva
Ir. Lino Afonso Jungbluth
Ir. Miro Leopoldo Reckziegel

A caminho para a Conferência Geral - 4

Do Vaticano II ao bicentenário marista
20/04/2013: Casa Geral
A próxima Conferência geral (L’Hermitage, 8-29 setembro de 2013) situa-se em um contexto mundial, eclesial e institucional que merece ser considerado:
Nesses 50 anos do Concílio Vaticano II reconhecemostodo o caminho de renovação percorrido pelo Instituto. Diante dos “profetas das catástrofes”, vislumbramos com esperança o mundo, a Igreja e nós mesmos como “profetas da esperança” em meio a uma situação de “exílio” em que nos encontramos.
“É apenas a aurora”: há muito ainda a percorrer, mas avançamos com paciência e plenos de confiança no futuro porque reconhecemos muitos sinais de vida.
Como o profeta em pleno exílio, podemos repetir: “Eis que faço uma coisa nova, agora sairá à luz; porventura não a percebeis?” (Is 43, 19).
E do mesmo modo que a sentinela, vigia sereno esperando ativamente e alerta, queremos ser “sentinelas da manhã” (Novo Millennio Ineunte 9; Is 21, 11).
O horizonte do bicentenário marista oferece-nos um ponto de referência em relação ao sonho de Champagnat: “despertar a aurora” (Salmo 56). Temos uma rica herança de dois séculos, no entanto pensamos e sonhamos com os  anos que hão de seguir os 200 da vida e da vitalidade maristas.
“Despertar a aurora” indica uma atitude ativa de compromisso diante dos grandes desafios que os últimos Capítulos gerais apresentaram e que podem ser agrupados em torno das palavras “profecia” e “mística”.
Neste momento histórico, dirijamos nosso olhar a Maria, aurora dos novos tempos, em quem encontramos inspiração para descobrir que atitudes assumiremos para realizar a tarefa.
“É preciso provocar o despertar da aurora acreditando nela” (Ir. Basilio).
Outros contextos que trazem luz e esperança à Conferência geral:
* O novo papado do Papa Francisco;
A proximidade do encerramento do Ano da Fé;
A próxima Assembleia Internacional da Missão Marista (2014).
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Conferência Geral - Setembro 2014 - Notre Dame de L'Hermitage
Tema e logo da Conferência  | Participantes da Conferência Geral  O que é uma Conferência Geral?

“Cebs: Nosso jeito de ser Igreja num mundo em mudanças”

Arquidiocese
trenzinho_das_cebsCarta aberta às Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese de Fortaleza e a todas as pessoas de bem em comemoração ao Seminário: Cebs: Nosso jeito de ser Igreja num mundo em mudanças”.

Irmãos e Irmãs na fé no Deus Libertador,

O motivo desta carta aberta é comunicar aos irmãos e irmãs da nossa alegria pela realização do seminário: “Cebs: Nosso jeito de ser Igreja num mundo em mudanças”. Nos dias 13 e 14 de abril deste ano, estivemos reunidos no Centro de Pastoral Maria Mãe da Igreja para aprofundarmos nossa fé e bebermos da fonte que nos anima na caminhada. Para nossa alegria, este seminário contou com a presença de mais de noventa pessoas representando as comunidades que compõem as quatro regiões episcopais em seus dois dias de realização. Tal encontro é fruto do planejamento realizado na assembléia anual de Cebs, em novembro passado, que teve por objetivo recolher as experiências das comunidades e apontar novos caminhos para se continuar na utopia da realização do Reino de Deus em nossa sociedade. Desta forma, apresentamos os pontos de discussão animadora que fizeram parte do nosso encontro:

Tendo a prestigiada presença do Pe. José Maria, grande animador das Cebs em Arautuba, que ao relatar sua vivência de comunidade nos apontou luzes que perpassaram todo o seminário. Ao relatar o contexto histórico da época, padre José Maria nos apresentou como se deu a presença das Cebs diante do regime militar, momento esse, que o impulsionou a criar uma “filosofia de comunidades, de criar comunidades”. Demonstrando austeridade e a pobreza evangélica que sempre norteou sua vida, se dizendo portanto uma pessoa livre, padre José Maria nos relatou que nessa época orientava o povo a se reunir para que pensassem quais eram suas necessidades: “A gente fazia reunião a noite, sempre a partir das necessidades do pessoal”.

Em dado momento, ao fazer memória das pessoas que o influenciaram a viver junto as Cebs lembrou de D. Aloísio Lorscheider, disse-nos da sua simplicidade e da grande solidariedade recebida dele diante de seguidas ameaça de morte: “Dom Aloísio saia de si. Foi até a Aratuba e com a gente foi falar com o governador, porque as acusações eram falsa, olhem para trás (mostrando-nos um quadro com a figura de D. Aloísio), esse homem é um santo”! Momento inesquecível.

Ao encerra sua fala nos deu mais uma vez um testemunho de fé, disse: “A gente morre e aceita essa morte pra gerar vida, isso é Ressurreição! As Cebs não é uma pastoral da Igreja, as Cebs são pequenas comunidades na Igreja”.

Terminado o momento em que recolhemos o testemunho de vida do padre José Maria, iniciou-se a “fila do povo”, local de contribuições valiosíssimas que atualizaram os desafios pelos quais passam hoje nossas comunidades: “as políticas autoritárias do governo que negam nossos direitos fundamentais, a necessidade de continuar animando as pessoas mais simples a falarem, a problemática por que passam os pequenos agricultores na região da Serra, o PAC, as remoções, o diálogo com a juventude… Surge a pergunta: Diante da vida que está ameaçada como vamos encarar esses problemas?

Após o almoço, que por sinal estava muito bom! Reunimo-nos em grupos com o objetivo de reafirmar três pontos fundamentais para a caminha das Cebs: Quem somos? Onde estamos? Como continuar sendo Cebs, hoje?

Da partilha dos grupos pudemos resumir nos seguintes tópicos:

 Somos comunidade, Igreja viva, Povo de Deus. Pessoas comprometidas com o Filho de Deus e que fazemos desse compromisso nossa fé. Somos luta, resistência: leigos(as), religiosas(os) e padres que a partir do Evangelho afirmamos que a vida é um “dom sagrado” e deve ser defendida. (Gn 1,27)

 Estamos nas mais diversas realidades: junto aos pobres nas periferias das cidades, no interior, com os povos indígenas e remanescentes de quilombolas, nos sindicatos, nas associações… Nos encontramos nas comunidades, lendo a vida com Palavra de Deus e sendo do Reino (Lc 13,20)

 Percebemos que no contexto em que nos encontramos há necessidade de esclarecer o que são Cebs e que um ponto para esse esclarecimento é a realização de encontros como este nos diversos setores. Que torna-se urgente e necessário o trabalho com a juventude (para nossa grata surpresa contávamos com um número muito bom de jovens), utilizando uma linguagem que seja atualizada e convidativa para anúncio comprometedor do Reino. E apostando na realização de ações em prol da vida, na medida que o nosso testemunho identifique nossa espiritualidade.

Amigos(as) da caminhada, esses apontamentos servirão de base para a preparação do nosso próximo seminário com previsão para o segundo semestre de 2013. Perceber o que nos identifica enquanto Cebs, onde estamos e como podemos continuar atuando na fé em um contexto de mudanças é desafiador e problemático. Assumir tal desafio requer o testemunho daqueles que permaneceram firmes e viram a libertação acontecer (C.f Ex13,14b) e a ajuda de quem se juntava mais e mais na mesma fé (At 4,32b). A compreensão deste contexto e a forma de atuação nele é um processo, passo já dado satisfatoriamente.

No Espírito de Jesus de Nazaré aquele que é nossa Páscoa!

Comissão de síntese do Seminário de Cebs

14 de Abril de 2013. – 3° Domingo da Páscoa

Francisco: “Fé é acreditar no Deus que é Pessoa, não num “deus-spray”


papaA fé é um dom que começa encontrando Jesus, Pessoa real e não um “deus-spray”: foi o que disse o Papa Francisco na homilia da Missa celebrada esta manhã na Casa Santa Marta. Da celebração participaram os funcionários da Inspetoria de Segurança Pública junto ao Vaticano.

Deus não é uma presença impalpável, uma essência que se expande ao nosso redor sem saber bem o que seja. É uma “Pessoa” concreta, disse o Papa, é um Pai. O trecho do Evangelho de João quando Jesus diz à multidão que “quem crê tem a vida eterna”, é a ocasião para Francisco refletir sobre em qual Deus nós acreditamos:

“Um deus ‘no ar’, um deus-spray que está em todos os lugares, mas não se sabe o que seja. Nós acreditamos no Deus que é Pai, que é Filho, que é Espírito Santo, acreditamos em Pessoas. E quando falamos com Deus, falamos com pessoas: ou falo com o Pai, ou falo com o Filho ou falo com o Espírito Santo. E esta é a fé.”

No Evangelho, Jesus afirma ainda que ninguém vem até Ele se não for atraído pelo Pai. Essas palavras, afirma Papa Francisco, demonstram que “ir a Jesus, encontrá-lo, conhecê-lo, é um dom”.

“Quem tem fé, tem a vida eterna, tem a vida. Mas a fé é um dom – é o Pai quem a dá. Nós devemos continuar este caminho. Todos somos pecadores, temos sempre algo de errado, mas o Senhor nos perdoa. Devemos prosseguir sempre, sem nos desencorajar.”

Se fizermos isso, acontecerá o que referem os Atos dos Apóstolos com aquele funcionário que descobriu a fé: “E cheio de alegria, prosseguia o seu caminho:“É a alegria da fé, a alegria de ter encontrado Jesus, a alegria que dá paz: não aquela que dá o mundo, mas a que dá Jesus. Esta é a nossa fé.

Peçamos ao Senhor que nos faça crescer nesta fé, nesta fé que nos fortalece, que nos torna alegres, essa fé que começa sempre com o encontro com Jesus e prossegue sempre na vida com os pequenos encontros cotidianos com Jesus.No final da Missa, o Papa dirigiu um agradecimento especial à Inspetoria de Segurança Pública junto ao Vaticano pelo serviço desempenhado na sociedade, um serviço pelo bem comum, que “requer retidão, vigor, honestidade e serenidade”.

“Anúncio fundamental da fé”

Estamos em pleno ANO DA FÉ, celebrando o Tempo Pascal após os intensos dias do Tríduo Pascal da Paixão, Morte, Sepultura e Ressurreição do Senhor. Assim estaremos em plena festa pascal por cinquenta dias como se fosse um só dia, até a Solenidade de Pentecostes.

O clima do Ano da Fé nos faz viver ainda com mais intensidade os fundamentos da vida cristã, renovando desde sua raiz a nossa fé cristã.

Vêm-nos à mente o que já celebramos com júbilo na solene liturgia, as palavras de São Paulo que faz o anúncio lapidar do Mistério Pascal Redentor: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras… (1Cor 15, 3-4).

O aniversário e a comemoração dominical semanal da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo nos faz voltar às razões de nossa Fé! Por que sou cristão? Por que somos cristãos? Sem muitos rodeios, porque recebemos a extraordinária notícia, o Evangelho da Salvação: CRISTO MORREU PELOS NOSSOS PECADOS, FOI SEPULTADO E RESSUSCITOU AO TERCEIRO DIA PARA NOSSA JUSTIFICAÇÃO. Cremos neste testemunho dos que com Ele estiveram no drama terrível de sua morte ignominiosa – o Justo massacrado pelos pecados da multidão humana! E qual o sentido desta injustiça mostruosa?

Assim, desde o princípio a Palavra de Deus é que explica: “levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. (1Pdr 2, 24), “porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu.” (Is 53,12)

Sim. Esta é a maior novidade: Cristo morreu pelos nossos pecados.

E a prova é que Ele ressuscitou para a nossa justificação: “o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitado para a nossa justificação.” (Rom 4,25) E Ele torna justos pela sua misericórdia e poder os que nEle crêem e a Ele se entregam na Fé. Expressam esta Fé recebendo o Batismo – simples no gesto, de poder infinito em seu efeito. E a vida cristã iniciada se completa com o Dom do Espírito Santo (Crisma) e a plena Comunhão no Senhor (Eucaristia). A consequência da graça redentora recebida nos sinais sacramentais torna vida em cada pessoa e na convivência humana mostrando assim sinais da presença do Reino de Deus.

E Jesus continua agora vivo na Ressurreição: “assentou nos céus à direita do trono da Majestade” (Hbr 8, 1) “e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28,20).

Revivemos esta realidade de modo solene na liturgia pascal, e a testemunhamos pela nossa própria existência como Igreja que atravessa os séculos. Testemunha a presença vitória do Senhor a santidade de tantos irmãos e irmãs, que iluminam a humanidade através dos tempos; testemunhos antigos e atuais – santidade em perfeita humanidade.

Retornamos ao Anúncio Fundamental da Fé, o chamado Kerigma – o Evangelho presente e atuante no hoje de nossa história.

E o fruto mais saboroso do Ano da Fé será nova vitalidade da vida cristã, de comunhão eclesial, de missão evangelizadora – nova evangelização que apresenta a pessoa de Jesus Cristo – o Senhor Vivo – ao mundo de hoje. Por isso a nossa vida cristã será verdadeiramente convincente se coerente com a morte para o pecado e a vida no Amor de Deus. E todos poderão reconhecer que Jesus foi enviado pelo Pai, é nosso Salvador e dá seu Espírito que renova todas as coisas na face da terra.

+ José Antonio Aparecido Tosi Marques

Arcebispo Metropolitano de Fortaleza

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Carta de 24 de março (Carta n. 9 – extratos)

Dor e esperança em Alepo

09/04/2013: Síria

Resignação e lassitude resumem bastante bem o estado de espírito atual dos habitantes de Alepo. Com efeito os alepinos estão resignados :
* A ter uma cidade cortada em duas partes  com o afluxo de centenas de milhares de refugiados  que invadiram as zonas « seguras », sem se lamentar.
* A ouvir o ruído ensurdecedor das rajadas de metralhadoras e de tiros de canhões sem murmurar, e de aviões sem levantar a cabeça.
* A viver constantemente sob a ameaça de obuses de canhão que caem em qualquer lugar , de tiros de  snipers que matam não importa a quem, e de carros-bomba que explodem a qualquer momento, sem ter medo.
* A ficar em casa a partir do pôr do sol (18h agora) e só sair de manhã, transformando Alepo em cidade-fantasma, sem poder se divertir.
* A cruzar, todos os dias e cada vez mais, por mendigos nas ruas, sem se revoltar.
* A constatar que a economia está completamente arruinada, as fábricas desmanteladas e roubadas e as lojas queimadas, sem desesperar.  (…)
E, ademais, estão cansados :
* Cansados de não perceber uma solução de acontecimentos que duram dois anos na Síria (15 de março de 2011) e em Alepo 8 meses (23 de julho de 2012).
* Cansados de ver a Síria, chamada "berço da civilização" pela comunidade internacional, e Alepo, a mais antiga cidade sempre habitada do mundo, destruídas, seus tesouros arqueológicos roubados, seu tecido social desfiado, a segurança, que aí reinou e que outros invejavam, desaparecida, e a convivência entre as diferentes comunidades do país e a tolerância substituídas por um fanatismo religioso importado. (…)
Apesar desse contexto bastante sombrio, nós, «os Maristas Azuis», continuamos com determinação nossa ação em favor dos refugiados que se alojam em três escolas de Cheikh Maksoud. Nós vamos lá diariamente passar o dia com eles para acompanhar as mães, divertir e educar as crianças, distribuir os alimentos para o café da manhã e o jantar, levar cada dia um almoço quente, cuidar dos doentes, cuidar da higiene e da saúde ... Roupas e sapatos  são dados na ocasião. Há 2 semanas, o almoço que distribuímos diariamente aos refugiados de que somos encarregados nos é fornecido gratuitamente pela Associação Beneficente Muçulmana "Al Ihssan" que prepara em suas instalações dezenas de milhares de refeições diárias para os refugiados das escolas. (...)
Continuamos sempre nosso projeto «A cesta Montanha» que consiste em fornecer uma cesta mensal de alimentos aos cristãos do bairro de Cheikh Maksoud, sem recursos, devido aos acontecimentos. São 300 famílias. Quarta-feira, 27, haverá a distribuição da oitava cesta mensal, e cada família receberá também um quilo de carne para que a Páscoa seja também uma festa. 
Também não esquecemos as famílias necessitadas que moram fora do bairro de Cheikh Maksoud e que sustentamos há 25 anos no quadro de nossa associação «Ouvido de Deus»
Recentemente, nós, Maristas, tomamos a iniciativa de propor uma reunião com todas as associações caritativas que socorrem os cristãos necessitados de Alepo. Os responsáveis das 13 associações se reuniram duas vezes para se conhecer e coordenar sua ação, recuperar suas listas e harmonizar os recursos.
Em nosso dia a dia, cada vez mais difícil, somos consolados por vários sinais de expectativa e de Esperança:
– Nossos voluntários continuam seu compromisso conosco, apesar de ser sempre mais perigoso ir a Sheikh Maksoud, devido aos acessos bloqueados,  bombas e tiros de snipers que,  às vezes, causam vítimas.
– A maioria dos Sírios recusa a violência e aspira ao fim das hostilidades e à recuperação do clima de fraternidade de outrora.
– Estamos maravilhados pela rede de solidariedade que se formou ao nosso redor, tanto em nível local e nacional como internacional. Não podemos agradecer bastante  a todos quantos, por pensamentos, mensagens ou donativos, nos manifestaram amizade,  solidariedade e amor.
Para concluir, e por ocasião da eleição do Papa Francisco, queremos partilhar com vocês esta oração de São Francisco de Assis :
Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa Paz!
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
nde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
O Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
Por ocasião da Páscoa, queremos dizer-lhes que acreditamos na Esperança cristã, sem a qual, a fé é somente palavras, e a caridade apenas esmola. Acreditamos que a luz brotará das trevas e que, depois da morte, haverá ressurreição e vida.
Boa Páscoa! Christos Anesti !
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Nabil Antaki, pelos “Maristas Azuis”
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Domingo, 31 de março.
A meus amigos do mundo, a meus Irmãos e amigos Maristas:
Tenho certeza de que pensaram em nós na sua oração de sexta-feira santa.
Sei que vocês se inquietam por nós. Sei que nos desejam uma ressurreição, um fim da guerra, um vislumbre de esperança !
Infelizmente, anuncio-lhes tristes notícias. Desde a madrugada, o distrito de Jabal el Saydeh, onde estamos realizando nossa missão há mais de 27 anos, e onde estávamos a serviço de 300 famílias cristãs e 3 escolas, congratulando-se com o movimento, pois bem, este distrito foi palco de intensos combates.
As pessoas estão aterrorizadas, presas em suas casas, prisioneiras da loucura dos tiroteios, de snipers, de bombas... Não podem absolutamente deixar sua casa, têm medo. Não podemos absolutamente ir a casa delas. Quando possível lhes telefonamos. Assim, que calvário! Que cruz! Que desespero!
Não lhes escrevo isto para que tenham piedade de nosso povo... Escrevo-lhes porque estou triste, completamente triste, de uma tristeza que apaga o pouco de esperança que resta !
Escrevo-lhes para lançar um grito em voz alta: isso é o suficiente! Já, em outras ocasiões, manifestei minha  rejeição pela guerra. Todas as perguntas sobem a mim, em nome de todas essas pessoas, em nome de suas crianças, jovens, adultos: Por quê? Por quê? E em nome de quê? Quem é o senhor da guerra, que decidiu matar-nos, exterminar-nos, acabar com a gente? Quem decidiu que tantos sofrimentos sejam nosso pão de cada dia durante meses e meses? Quem é aquele que nos convida à mesa da crucificação? Tenho vergonha de dizer que homens desta terra decidem a morte!
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Irmão Georges Sabe.

51ª Assembleia Geral: balanço do início do trabalho dos bispos

Coletiva10042013

Na tarde desta quarta-feira, 10 de abril, foi realizada a primeira entrevista coletiva com o balanço do início dos trabalhos da 51ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em Aparecida (SP). Coordenada pelo Porta-Voz do evento, dom Dimas Lara Barbosa, atenderam a imprensa o arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer; o bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Joaquim Mol; e o bispo de Caçador (SC), dom Severino Clasen.
O Porta-Voz iniciou recordando aos jornalistas o tema central da Assembleia Geral: “Comunidade de Comunidades: a nova paróquia”, bem como os temas prioritários: o Diretório de Comunicação para orientar a pastoral da Igreja neste campo, e a aprovação de um texto sobre a Questão Agrária no país. “A Assembleia é uma ocasião de tomar consciência do processo em que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, aprovadas há dois anos pelos bispos, são colocadas em prática”, explicou dom Dimas.
O Cardeal Odilo Scherer destacou que o encontro do episcopado brasileiro segue o clima de novidade que a Igreja vive por conta da eleição do Papa Francisco. “Há um clima de novidade no ar, por conta da eleição do novo Papa, que está imprimindo um novo ritmo no exercício do pontificado. Até porque, um papa não é igual a outro, e é bom que seja assim”, afirmou. O cardeal enfatizou a relevância do tema central, e destacou que em relação à queda do número dos católicos, apresentada nos números do Censo 2010, preocupa os bispos, mas não existem soluções mágicas. “É necessária uma verdadeira conversão pastoral para que possamos ir ao encontro das pessoas. Não é somente a Igreja Católica que perde fiéis. A nossa urgência é evangelizar, e temos que nos adequar para bem evangelizar”.
Esta adequação da estrutura da Igreja aos novos tempos exige uma aproximação dos pobres, como lembra dom Mol. “É algo muito importante, e é uma escolha que o próprio Jesus faz: o caminho da vida simples que conduz para o Pai. Todos os papas tem tocado neste tema de uma Igreja pobre e para os pobres, e isso está presente também na reflexão dos bispos nesta Assembleia”. Dom Mol destacou a preocupação dos bispos com a evangelização dos católicos “não praticantes”. “Há um texto que está sendo analisado pelos bispos. Mas em todo processo de evangelização, seja para os batizados, praticantes ou não, ou mesmo os novos membros, o mais importante é a experiência com a pessoa de Jesus Cristo. E é isso que deve ser promovido”.
Também quanto ao tema central da Assembleia Geral, dom Severino Clasen destacou a importância das comunidades cristãs como lugar de convivência fraterna. “As pessoas precisam de calor humano. Nós hoje temos facilidade de nos encontrar com as outras pessoas, através das redes sociais, mas falta-nos o calor do coração, da proximidade, e está aí a diferença”.
Encontro de Universitários Católicos
Dom Joaquim Mol também respondeu aos jornalistas sobre o Congresso Mundial das Universidades Católicas, que será realizado em Belo Horizonte (MG), entre os dias 18 e 21 de julho próximo. “O evento antecede a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (RJ), e gostaríamos de ter a presença do Papa Francisco apresentando a sua mensagem ao final do evento aos participantes. Porém, o assunto ainda está sendo discutido”.

Audiência Geral: "Ser cristão não é cumprir mandamentos, mas é deixar que Cristo transforme nossa vida"

Audiência Geral: "Ser cristão não é cumprir mandamentos, mas é deixar que Cristo transforme nossa vida"



Cidade do Vaticano (RV) – Nesta quarta-feira, a Praça S. Pedro estava repleta de fiéis, turistas e peregrinos para a Audiência Geral.

Antes de pronunciar a sua catequese, de papamóvel o Papa Francisco fez o giro da Praça, saudando calorosamente os fiéis e beijando as crianças. O tema proposto pelo Pontífice foi o fundamento da nossa fé: a Ressurreição de Cristo.

“Este é o maior dom que recebemos do Mistério pascal de Jesus”, explicou. A ressurreição de Jesus é tão importante, que, «se Cristo não ressuscitou – escreve São Paulo –, é vã a nossa fé». Na verdade, a nossa fé apoia-se sobre a morte e ressurreição de Cristo como uma casa está apoiada sobre os alicerces: se estes cedem, a casa cai. Na cruz, Jesus ofereceu-Se a Si mesmo, tomando sobre Si os nossos pecados.

Com a Ressurreição, algo de absolutamente novo acontece: somos libertados da escravidão do pecado e nos tornamos filhos de Deus. Ou seja, somos gerados a uma vida nova no Batismo. E a nossa vida será nova se nos comportarmos como verdadeiros filhos, deixando que Cristo tome posse da nossa vida e a transforme.

“Deus nos trata como filhos, nos compreende, nos perdoa, nos abraça, nos ama mesmo quando erramos. Jamais devemos nos esquecer que Deus é fiel, sempre! Ser cristãos não se reduz a seguir mandamentos, mas quer dizer estar em Cristo, pensar como Ele, agir como Ele, amar como Ele. Cristo ressuscitado é a nossa esperança. Deus é a nossa força.”

Todavia, adverte o Pontífice, a tentação de deixar Deus de lado para colocar nós mesmos no centro está sempre à espreita. A experiência do pecado fere a nossa vida cristã, o nosso ser filhos de Deus. Por isso, devemos ter a coragem da fé, não nos deixando levar pela mentalidade que afirma: «Deus não é solução, não tem nada de importante para nós».

“A verdade é precisamente o contrário! Somente nos comportando como filhos de Deus, sem nos desencorajar pelas nossas caídas, sentindo-se amados por Ele, a nossa vida será nova, animada pela serenidade e pela alegria.”

No final da catequese, Francisco saudou em italiano os grupos presentes na Praça, com uma exceção: esta quarta, pela primeira vez, saudou em espanhol os peregrinos oriundos da Espanha e dos países latino-americanos. Entre eles, seus compatriotas do Club Atlético San Lorenzo de Almagro, de Buenos Aires – seu time de coração. “Isso é muito importante”, disse a eles.

Aos peregrinos de língua portuguesa, saudou em especial os fiéis de Coimbra e de São José do Rio Preto, fazendo votos de que cada um possa crescer sempre mais na vida nova de ressuscitados que Cristo nos conquistou.

terça-feira, 9 de abril de 2013

II Assembleia Internacional da Missão Marista


Um convite para celebrar e construir juntos a vida e a missão Marista

08/04/2013: Casa Geral
O XXI Capítulo Geral, no horizonte da “nova relação entre irmãos e leigos, buscando juntos maior vitalidade”, convida todo o Instituto a “organizar outra Assembleia Internacional da Missão Marista, seguindo o espírito de Mendes”.
O mandato do Capítulo foi assumido pelo Superior Geral, junto com seu Conselho, que constitui uma Comissão preparatória para levar adiante a or­ganização e a realização da II Assembleia Internacional da Missão Marista (II AIMM). Essa comissão é composta por: Sra. Alice Miesnik, Estados Unidos; Sra. Mónica Linares, Cruz del Sur; Ir. Mark Omede, Nigéria; Sr. Frank Malloy, Austrália; Sr. Manuel Gómez Cid. Mediterrânea; Ir. Paul Bhatti, Ásia do Sul; Ir. César Rojas, Secretariado Irmãos Hoje; Ir. Javier Espinosa, Secretariado dos Leigos; e Ir. João Carlos do Prado, Secretariado da Missão e coordenador da Comissão.
Uma assembleia internacional representa um momento privilegiado na vida do Instituto, que oferece aos Irmãos e aos Leigos a oportunidade de partilhar, celebrar, refletir e construir juntos. Em igualdade de condições. A vida e a mis­são Marista no presente e para o futuro, fiéis ao carisma. Apresenta-se como oportunidade para fortalecer nossa dimensão internacional e intercultural a serviço da infância e da juventude. A primeira assembleia realizou-se em Men­des em 2007 (Brasil) e teve como lema “Um coração, uma missão”.Guia da II Assembleia Internacional da Missão Marista 6

Viver e agir agora segundo o espírito de Mendes implica avançar um passo adiante, descobrir novos horizontes de futuro e sonhar com “Maristas novos em missão”. O XXI Capítulo Geral orientou todo o seu trabalho sob o signo da novidade e nos propôs “com Maria, ide depressa a uma nova terra”. Era natural que esse processo conduzisse a uma nova realidade que emerge e se apresen­ta com força em muitas partes do Instituto. A II Assembleia Internacional da Missão Marista pretende explorar essa nova realidade. Isso nos desafia a uma vida consagrada renovada que gere um novo modo de ser irmão em uma nova relação de comunhão entre irmãos e leigos e com uma significativa presença evangelizadora entre as crianças e os jovens.


A RESSURREIÇÃO CONTINUA


1. Desde a sua eleição, a 13 de Março 2013, o Papa Francisco alterou as espectativa sobre a renovação da Igreja. Do Vaticano, nos últimos anos,  só chegavam más notícias. Bento XVI, em vez de varrer a Cúria, trabalhava na sua obra teológica, depois de  ter silenciado a dos outros.
Se não for travado e não for uma táctica, o caminho do Papa Francisco pode trazer boas surpresas.A começar pelo próprio nome. Não passa  pela cabeça a ninguém que a figura de S. Francisco de Assis possa abençoar aquela Cúria, as suas intrigas palacianas  e as supostas lavagens de dinheiro. O nome de um poeta anarquista e maltrapilho para nome de Papa romano roça o surrealismo. 

Não foi apenas a displicência em relação a vestes, sapatos e cerimoniais consagrados que  ressuscitou a intuição de João XXIII e João Paulo I. Foram
iniciativas concretas, a partir da periferia, que indicaram que não se estava apenas  a procurar uma Igreja pobre para os pobres, mas que a igreja
não existe para si mesma. O seu lugar é fora de portas. 


A 5ª Feira Santa, consagrada a exaltar a instituição da Eucaristia e a ordenação sacerdotal, excluia a presença de mulheres. O próprio lava-pés,
reproduzindo, de forma fundamentalista, a referência aos 12 apóstolos, canonizava uma interpretação clerical e não  exprimia a radicalidade do
gesto de Jesus. A tranferência desta celebração da Basílica para o centro de correcção juvenil Casal del Marmo, a norte de Roma, onde se encontram
detidos 46 jovens, estrangeiros, muçulmanos e ateus, é verdadeiramente pascal: no simbólico número doze há duas mulheres entre os apóstolos. É a
destruição de um mito.


2. Goste-se ou não, as celebrações da Páscoa obrigam os cristãos a confrontarem-se com um fenómeno insólito, que sempre procuraram disfarçar.
As narrativas da Ressurreição foram todas escritas por homens, atribuídas a Mateus, Marcos, Lucas e João. Era de supor que o maior destaque fosse dado
aos apóstolos, mas não é. São as mulheres que recebem o encargo de os evangelizar, de lhes anunciar o que há de mais importante no Evangelho, a
ressurreição.


Este é o facto. Não basta dizer que Cristo assim quis e pronto. Seria o elogio da arbitrariedade. Ele devia ter as suas razões para agir deste modo.
Quais poderiam ser?


Foi Jesus que escolheu e chamou os seus discípulos. Acabou por descobrir que eles não O entendiam, nem estavam interessados no seu projecto. No Evangelho
de S. Marcos, a grande discussão que os animava, no âmbito da tomada do poder, centrava-se na distribuição de lugares. (Mc 4, 34 par.). Dois deles
encheram-se de coragem e colocaram ao Mestre as suas exigências: quando triunfares, como rei messiânico, nós queremos os dois primeiros lugares.
Esta pressa produziu uma grande indignação nos outros. Depois de uma reunião, receberam todos a mesma resposta: aquele que quiser ser o primeiro, de entre vós, seja o servo de todos (Mc 10, 35-45).

Alimentaram sempre a esperança de que Jesus acabaria por perceber que esse rumo só o podia levar ao desastre. Pedro tentou, até à última, mostrar-lhe que tinha mesmo de mudar.

Os apóstolos, quando viram o Mestre derrotado na cruz, aperceberam-se de que tinham andado enganados. Acabara-se o tempo das ilusões e cada um voltou à
sua vida. Já tinham perdido muito tempo.

3. Segundo os quatro Evangelhos, as mulheres nunca foram chamadas para o discipulado. Seguiram Jesus, por sua própria iniciativa, descobrindo que por ali corria a vida verdadeira e liberta. Nunca pediram nada em troca do muito que fizeram a Jesus e ao seu movimento. Andavam e serviam por puro amor (Lc 7-8).

A mulher, por ser mulher, na sociedade em que Jesus nasceu e foi educado, não contava – “não contando mulheres e crianças” – e, no casamento, estava
dependente da vontade do marido. O estatuto da mulher dependia do homem (Mt 19).

Seria anacrónico dizer que Jesus era um feminista e inscrevê-lO num movimento nascido nos finais do século XIX. A questão não é essa. Apesar da missão que lhes foi confiada nas narrativas da ressurreição, teima-se em negar às mulheres, por serem mulheres, qualquer papel na Igreja, privilegiando sempre os homens. Não é muito difícil perceber porquê.

Aquilo que Jesus exigia aos discípulos, a disponibilidade para o serviço, não o conseguiu, como vimos. Com aquelas mulheres Jesus nunca teve esse problema. As que O seguiram nunca Lhe faltaram. Nunca pediram nem esperaram nada em troca. Não foram, apenas, testemunhas do seu percurso até Calvário.
Não O largaram mesmo no sepulcro, quando tudo parecia perdido. Deixaram-se seduzir e isso lhes bastou. Jesus e o seu projecto passaram a fazer parte das suas vidas, para sempre.


É fácil de perceber que era com mulheres desta têmpera que o Ressuscitado poderia contar para converter os discípulos ao caminho do serviço gratuito.
Mesmo depois da ressurreição, o que continuava a interessar os Apóstolos era o poder. Foram directos ao assunto. Jesus não se deixou impressionar,
colocou este caso nas mãos do Pai e do Espírito Santo e uma nuvem o ocultou (Act 1, 6).

Frei Bento Domingues, O.P.
07 de abril de 2013 – In Público

A Paz como forma de viver


Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
FONTE: Adital
Para o mundo atual, a paz continua um desafio não alcançado. Na Síria, a guerra civil entre governo e uma oposição sustentada pelos Estados Unidos divide o país. Na faixa de Gaza, no sul da Índia e em várias outras partes do mundo, conflitos sangrentos ainda ferem a humanidade. Até hoje a Organização das Nações Unidas, criada para estabelecer a paz no mundo, não consegue ainda cumprir plenamente essa missão. Nesta semana, as pessoas que amam a paz recordam que há exatamente 50 anos, o papa João XXIII dava ao mundo a sua carta encíclica sobre a paz na terra. No dia 11 de abril de 1963, o papa publicava a encíclica Pacem in Terris como apelo forte para que os governantes das nações se empenhassem em manter a paz no mundo. O papa assegurava que essa paz só poderia ser real se fosse baseada em uma ordem social justa e centrada na dignidade de toda pessoa humana.


Era a primeira vez em que um papa escrevia não somente a patriarcas, cardeais, bispos e padres católicos. A Pacem in Terrisé dirigida também a cristãos das mais diversas Igrejas e ainda mais a todas as pessoas de boa vontade. Alguns meses antes da carta, o papa tinha interferido pessoalmente para impedir um conflito entre os Estados Unidos e a Rússia. João XXIII recebeu o prêmio Nobel da Paz. Na sua carta, ele insiste de que nunca haverá paz no mundo se não houver respeito aos direitos humanos de cada pessoa e se um país não respeita a liberdade e a independência do outro. Em uma carta anterior (a Mater et Magistra), ele havia defendido o princípio da socialização. Embora não signifique um regime social (o socialismo), a socialização tem a mesma base: a preponderância do social sobre o individual e a vocação de todas as pessoas humanas para viver a solidariedade e a responsabilidade fraterna.
Quem hoje analisa o mundo pode perceber algumas conquistas importantes da humanidade nesses 50 anos: de lá para cá alguns países da África que em 1963 ainda eram colônias completaram sua independência política. Existe, atualmente, uma consciência maior dos direitos humanos, da igualdade racial e de gêneros. Entretanto, as relações de trabalho parecem mais precárias hoje do que há 50 anos, as guerras são mais perigosas e com armamentos nucleares mais sofisticados e mortíferos. E mais perigoso do que o terrorismo internacional é a ameaça de destruição da natureza, consequência do sistema capitalista depredador.
Nesse contexto, a comemoração dos 50 anos da Pacem in Terris vem nos lembrar de que a paz no mundo é um projeto divino e que todas as pessoas que creem em Deus são chamadas a colaborar com esse projeto. De acordo com a Bíblia, a paz não é apenas ausência de guerras, mas é o bem viver que hoje vários povos indígenas almejam como política de estado. Na Bíblia, Paz é Shalom, relação justa entre as pessoas, saúde e bem estar. É uma forma de viver. É essa paz que Jesus desejava quando disse: "Felizes as pessoas que constroem a paz porque serão chamadas filhos e filhas de Deus, ou seja, fazem aquilo que Deus faz” (Mt 5, 9).

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Província do Brasil Centro-Sul

Colaboradores da Província aprofundam o Patrimônio de Champagnat

 
06/04/2013: Brasil
O desejo de conhecer melhor o legado deixado por Champagnat e pelos primeiros Irmãos trouxe a Curitiba, de 13 a 15 de março, 40 colaboradores de diferentes Unidades do Grupo Marista (Província Brasil Centro-Sul) e um jovem Irmão, para participar da primeira etapa do Curso Hermitage Marista.
Os estudos se concentraram, principalmente, no aprofundamento da vida de Champagnat e seus escritos, e no desenvolvimento do Instituto.
Os temas foram debatidos pelos professores Ir. Ivo Strobino, Heloisa Souza e Dyogenes Araujo. Para Matheus Alves, educador de Pastoral do Centro Social Ir. Rui, de Ribeiro Preto, "está sendo apaixonante poder conhecer e aprofundar o patrimônio espiritual e a história da Instituição".
A próxima etapa acontece em junho.

“Onde houver um irmão, ali terei minha casa”

Revitalização do Movimento Champagnat

08/04/2013: México
A Comissão Internacional para a Revitalização do Movimento Champagnat da Família Marista reuniu-se entre os dias 18 e 22 de março na cidade de Guadalajara (México). Esta comissão é formada por 8 maristas (seis leigos e dois irmãos): Ana Sarrate (Província Ibérica, coordenadora da comissão), Patricia Ríos (Província México Ocidental), Agnes Reyes (Província East Asia), Edison Jardim de Oliveira (Província Rio Grande do Sul), Ir. Adalberto Amaral (Província Brasil Centro-Norte), Ir. Javier Espinosa (Diretor do Secretariado dos Leigos) e Alfredo García (Província Mediterrânea).
Desde o primeiro momento experimentamos a calorosa acolhida de irmãos e leigos da Província de México Ocidental e pudemos viver concretamente aquele verso da canção Família Marista: “onde houver um irmão ali terei minha casa”....
A tarefa que enfrentaríamos não seria fácil: recolher as respostas do questionário enviado, como primeira etapa do processo, a todos os lugares do mundo marista onde está presente o Movimento e em seguida, partindo da realidade, buscar perspectivas para a revitalização. Trabalhou-se com os dados recebidos de 156 fraternidades e de alguns outros lugares onde o Movimento não está presente.
Com a síntese das respostas recebidas, foi elaborada uma proposta de trabalho que será novamente enviada às fraternidades para que a concretizem, explicitem e comentem. Desejamos que este material motive e gere esperança.
A experiência vivida pelos membros da comissão foi de uma comunidade reunida (literalmente) em torno da mesma mesa. Pretendeu-se acolher e responder o sentimento das fraternidades do mundo marista. Colocou-se sobre a mesa toda a vida que vem da riqueza e da diversidade de nossas fraternidades. Houve debate, consenso, muitas vezes risos... Mas, acima de tudo, sentimos a presença do Espírito entre nós, sendo superadas as diferenças culturais, linguísticas, de formas de entender e de fazer. E nos uniu o mesmo chamado para construir o Reino de Deus com cores Maristas.
Cada tarde nos reuníamos na acolhedora capela do CEPAM e, com intenso sentido comunitário, colocávamos nas mãos da Boa Mãe a vida de todos os maristas de Champagnat. Nas refeições, nos momentos de lavar a louça, nos intervalos, nas conversas... vivemos um forte espírito de família.
Estamos contentes com o trabalho realizado e aguardamos com esperança as novas etapas deste processo. Assumimos com fé a tarefa de animar a revitalização do Movimento Champagnat e, com São Marcelino e todos os maristas do mundo, dizemos a Maria: “eis tua obra”. 

Posse do Bispo de Roma

 
latraoNa tarde deste domingo, 7 de abril, Papa Francisco tomou posse da sua Cátedra na Basílica de São João de Latrão, a Catedral de Roma, com uma solene cerimônia na qual ressaltou a paciência e a misericórdia de Deus.
Chegando à Basílica a bordo do papamóvel em meio ao entusiasmo dos fiéis e peregrinos presentes que o aguradavam, pouco antes, o Santo Padre abençoara, na praça diante do vicariato, a placa toponomástica que muda o nome do lugar para "Praça João Paulo II, Pontífice de 1978 a 2005".
Na sua homilia, comentando as leituras do dia, falou da relutância de Tomé em acreditar nos demais apóstolos, quando lhe dizem «Vimos o Senhor».
E qual é a reação de Jesus? A paciência: Jesus não abandona Tomé, não fecha a porta, espera. E Tomé acaba por reconhecer a sua própria pobreza, a sua pouca fé. Também Pedro renegou por três vezes Jesus. Quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus que, com paciência e sem palavras, lhe diz: «Pedro, não tenhas medo da tua fraqueza, confia em Mim».
“Como é belo este olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmãos e irmãs, jamais percamos a confiança na paciente misericórdia de Deus!” – exortou o Pontífice.
Este é o estilo de Deus: não é impaciente como nós, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas. Ele é paciente conosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar.
“Recordemo-lo na nossa vida de cristãos: Deus sempre espera por nós, mesmo quando nos afastamos! Ele nunca está longe e, se voltarmos para Ele, está pronto a abraçar-nos.”
Todavia, destacou Francisco, a paciência de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado na nossa vida.
Talvez alguém possa pensar: o meu pecado é tão grande, o meu afastamento de Deus é como o do filho mais novo da parábola, a minha incredulidade é como a de Tomé; não tenho coragem para voltar, para pensar que Deus me possa acolher e esteja à espera precisamente de mim.

“Mas é precisamente por ti que o Senhor espera!” – disse com veemência o Papa e continuou: “Só te pede a coragem de ires ter com Ele. Ouvimos tantas propostas do mundo ao nosso redor; mas deixemo-nos conquistar pela proposta de Deus: a proposta Dele é uma carícia de amor. Para Deus, não somos números; somos importantes, antes, somos o que Ele tem de mais importante.”
É precisamente sentindo o meu pecado, disse o Papa, olhando o meu pecado que posso ver e encontrar a misericórdia de Deus, o seu amor, e ir até Ele para receber o seu perdão.
“Amados irmãos e irmãs, deixemo-nos envolver pela misericórdia de Deus; confiemos na sua paciência, que sempre nos dá tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar nas feridas do seu amor deixando-nos amar por Ele, encontrar a sua misericórdia nos Sacramentos. Sentiremos a sua ternura, sentiremos o seu abraço, e ficaremos nós também mais capazes de misericórdia, paciência, perdão e amor.”
A posse da Cátedra foi feita logo no início da Missa. Depois, alguns representantes da diocese manifestaram, em nome da Igreja de Roma, a obediência e a filial devoção ao próprio bispo.
Na Missa de início de pontificado, a obediência foi prestada por seis cardeais, representando todo o Colégio Cardinalício. Desta vez, na Catedral da Diocese de Roma, foi prestada por representantes de vários membros da comunidade eclesial: o cardeal-vigário, um bispo auxiliar, um pároco, um vice-pároco, um religioso, uma religiosa, uma família e dois jovens (uma moça e um rapaz).
Concelebraram com o Santo Padre o Vigário de Roma, Card. Agostino Vallini, o Vigário emérito, Card. Camillo Ruini, o conselho episcopal da diocese e o conselho dos párocos prefeitos.
Antes de deixar a Basílica o Santo Padre assomou à sacada da Igreja-Catedral para mais uma vez saudar os milhares de fiéis que, em clima de festa, aguardavam-no do lado de fora. Francisco pediu orações dizendo precisar muito das orações dos fiéis convidando-os a caminharem junto, povo e bispo. Por fim, concedeu mais uma vez a sua Bênção.
Leia na íntegra, a homilia:
Amados irmãos e irmãs!
Com alegria, celebro pela primeira vez a Eucaristia nesta Basílica Lateranense, a Catedral do Bispo de Roma. Saúdo a todos vós com grande afecto: o Cardeal Vigário, os Bispos Auxiliares, o Presbitério diocesano, os Diáconos, as Religiosas e os Religiosos e todos os fiéis leigos. Caminhamos juntos na luz do Senhor Ressuscitado.

1.Hoje celebramos o Segundo Domingo de Páscoa, designado também «Domingo da Divina Misericórdia». A misericórdia de Deus: como é bela esta realidade da fé para a nossa vida! Como é grande e profundo o amor de Deus por nós! É um amor que não falha, que sempre agarra a nossa mão, nos sustenta, levanta e guia.
2.No Evangelho de hoje, o apóstolo Tomé experimenta precisamente a misericórdia de Deus, que tem um rosto concreto: o de Jesus, de Jesus Ressuscitado. Tomé não se fia nos demais Apóstolos, quando lhe dizem: «Vimos o Senhor»; para ele, não é suficiente a promessa de Jesus que preanunciara: ao terceiro dia ressuscitarei. Tomé quer ver, quer meter a sua mão no sinal dos cravos e no peito. E qual é a reacção de Jesus? A paciência: Jesus não abandona Tomé relutante na sua incredulidade; dá-lhe uma semana de tempo, não fecha a porta, espera. E Tomé acaba por reconhecer a sua própria pobreza, a sua pouca fé. «Meu Senhor e meu Deus»: com esta invocação simples mas cheia de fé, responde à paciência de Jesus. Deixa-se envolver pela misericórdia divina, vê-a à sua frente, nas feridas das mãos e dos pés, no peito aberto, e readquire a confiança: é um homem novo, já não incrédulo mas crente.
Recordemos também o caso de Pedro: por três vezes renega Jesus, precisamente quando Lhe devia estar mais unido; e, quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus que, com paciência e sem palavras, lhe diz: «Pedro, não tenhas medo da tua fraqueza, confia em Mim». E Pedro compreende, sente o olhar amoroso de Jesus e chora... Como é belo este olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmãos e irmãs, não percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus!
Pensemos nos dois discípulos de Emaús: o rosto triste, passos vazios, sem esperança. Mas Jesus não os abandona: percorre juntamente com eles a estrada. E não só; com paciência, explica as Escrituras que a Si se referiam e pára em casa deles partilhando a refeição. Este é o estilo de Deus: não é impaciente como nós, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas. Deus é paciente connosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar. Recordemo-lo na nossa vida de cristãos: Deus sempre espera por nós, mesmo quando nos afastamos! Ele nunca está longe e, se voltarmos para Ele, está pronto a abraçar-nos.
Sempre me causa grande impressão a leitura da parábola do Pai misericordioso; impressiona-me pela grande esperança que sempre me dá. Pensai naquele filho mais novo, que estava na casa do Pai, era amado; e todavia pretende a sua parte de herança; abandona a casa, gasta tudo, chega ao nível mais baixo, mais distante do Pai; e, quando tocou o fundo, sente saudades do calor da casa paterna e regressa. E o Pai? Teria ele esquecido o filho? Não, nunca! Está lá, avista-o ao longe, tinha esperado por ele todos os dias, todos os momentos: sempre esteve no seu coração como filho, apesar de o ter deixado e malbaratado todo o património, isto é, a sua liberdade; com paciência e amor, com esperança e misericórdia, o Pai não tinha cessado um instante sequer de pensar nele, e logo que o vê, ainda longe, corre ao seu encontro e abraça-o com ternura – a ternura de Deus –, sem uma palavra de censura: voltou! Deus sempre espera por nós, não se cansa. Jesus mostra-nos esta paciência misericordiosa de Deus, para sempre reencontrarmos confiança, esperança! Romano Guardini dizia que Deus responde à nossa fraqueza com a sua paciência e isto é o motivo da nossa confiança, da nossa esperança (cf. Glabenserkenntnis, Wurzburg 1949, p. 28).
3.Gostava de sublinhar outro elemento: a paciência de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado na nossa vida. Jesus convida Tomé a meter a mão nas suas chagas das mãos e dos pés e na ferida do peito. Também nós podemos entrar nas chagas de Jesus, podemos tocá-Lo realmente; isto acontece todas as vezes que recebemos, com fé, os Sacramentos. São Bernardo diz numa bela Homilia: «Por estas feridas [de Jesus], posso saborear o mel dos rochedos e o azeite da rocha duríssima (cf. Dt 32, 13), isto é, posso saborear e ver como o Senhor é bom» (Sobre o Cântico dos Cânticos 61, 4). É precisamente nas chagas de Jesus que vivemos seguros, nelas se manifesta o amor imenso do seu coração. Tomé compreendera-o. São Bernardo interroga-se: Com que poderei contar? Com os meus méritos? Mas «o meu mérito está na misericórdia do Senhor. Nunca serei pobre de méritos, enquanto Ele for rico de misericórdia: se são abundantes as misericórdias do Senhor, também são muitos os meus méritos» (ibid., 5). Importante é a coragem de me entregar à misericórdia de Jesus, confiar na sua paciência, refugiar-me sempre nas feridas do seu amor. São Bernardo chega a afirmar: «E se tenho consciência de muitos pecados? “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20)» (ibid., 5). Talvez alguém possa pensar: o meu pecado é tão grande, o meu afastamento de Deus é como o do filho mais novo da parábola, a minha incredulidade é como a de Tomé; não tenho coragem para voltar, para pensar que Deus me possa acolher e esteja à espera precisamente de mim. Mas é precisamente por ti que Deus espera! Só te pede a coragem de ires ter com Ele. Quantas vezes, no meu ministério pastoral, ouvi repetir: «Padre, tenho muitos pecados»; e o convite que sempre fazia era este: «Não temas, vai ter com Ele, que está a tua espera; Ele resolverá tudo». Ouvimos tantas propostas do mundo ao nosso redor; mas deixemo-nos conquistar pela proposta de Deus: a proposta d’Ele é uma carícia de amor. Para Deus, não somos números; somos importantes, antes, somos o que Ele tem de mais importante; apesar de pecadores, somos aquilo que Lhe está mais a peito.Depois do pecado, Adão sente vergonha, sente-se nu, sente remorso por aquilo que fez; e todavia Deus não o abandona: se naquele momento começa o exílio longe de Deus, com o pecado, também já existe a promessa do regresso, a possibilidade de regressar a Ele. Imediatamente Deus pergunta: «Adão, onde estás?» Deus procura-o. Jesus ficou nu por nós, tomou sobre Si a vergonha de Adão, da nudez do seu pecado, para lavar o nosso pecado: pelas suas chagas, fomos curados. Recordai-vos do que diz São Paulo: De que poderei eu gloriar-me senão da minha fraqueza, da minha pobreza? É precisamente sentindo o meu pecado, olhando o meu pecado que posso ver e encontrar a misericórdia de Deus, o seu amor, e ir até Ele para receber o seu perdão.
Na minha vida pessoal, vi muitas vezes o rosto misericordioso de Deus, a sua paciência; vi também em muitas pessoas a coragem de entrar nas chagas de Jesus, dizendo-Lhe: Senhor, aqui estou, aceita a minha pobreza, esconde nas tuas chagas o meu pecado, lava-o com o teu sangue. E sempre vi que Deus o fez: Deus acolheu, consolou, lavou e amou.Amados irmãos e irmãs, deixemo-nos envolver pela misericórdia de Deus; confiemos na sua paciência, que sempre nos dá tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar nas feridas do seu amor deixando-nos amar por Ele, encontrar a sua misericórdia nos Sacramentos. Sentiremos a sua ternura, sentiremos o seu abraço, e ficaremos nós também mais capazes de misericórdia, paciência, perdão e amor.

“Jesus disse: Alegrai-vos!”

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dom eduardopinheiro 01.04.13Brasília, 01 de abril de 2013.
Feliz Páscoa, caros irmãos Párocos e Administradores Paroquiais,
Vigários Paroquiais e demais Presbíteros.
“Jesus disse: Alegrai-vos!” (Jo 28, 9)
Neste mês de abril teremos todo ele permeado das alegrias da Páscoa! Ou somos pessoas de Páscoa ou não somos nem mesmo cristãos! A ótica da Ressurreição deve perpassar tudo: a vida pessoal e comunitária, os sonhos e sentimentos, os projetos pastorais e os ambientes nos quais trabalhamos. Carregamos, como educadores e evangelizadores dos jovens, uma responsabilidade muito grande de testemunhar a eles a nossa plena convicção e realização no Cristo!
Passado o precioso tempo quaresmal no qual tivemos a oportunidade de refletir com a Campanha da Fraternidade sobre a juventude, agora somos convidados a rever e refazer as propostas pastorais para que sejam mais de acordo com a opção preferencial pelos jovens. Então,
-  quais novos projetos estão sendo criados em sua paróquia a partir da CF e à luz da JMJ?
-  sua paróquia já elaborou um Plano de Evangelização da Juventude?
-  as estruturas, as organizações e os adultos estão mais sensibilizados pela juventude?
- em quais espaços de decisão da vida paroquial os jovens estão presentes efetivamente?
- como a catequese de crisma tem abordado, por exemplo, assuntos relacionados às vocações e projeto de vida, à afetividade e sexualidade, à sensibilidade diante dos mais pobres e iniciativas de voluntariado, à internet e relacionamentos midiáticos, ao álcool e drogas?
A Peregrinação da Cruz e do Ícone de Nossa Senhora têm nos mostrado os jovens entusiasmados por Cristo e pela Igreja. Onde a eles são proporcionadas motivações profundas e ocasiões juvenis criativas, ali eles se sentem cativados e comprometidos.
Estamos às portas da Jornada Mundial da Juventude no Brasil. Aproveitemos deste rico momento para incrementar as ações paroquiais junto aos jovens. Promovamos encontros periódicos formativos e espirituais com aqueles que se preparam para tal evento. Que tal uma Adoração Eucarística ou Vigília mensal? Ou uma Celebração da Palavra com momento de estudos? Há muitas iniciativas positivas espalhadas pelo país! Preparemos com intensidade a Semana Missionária que acontecerá em todas as dioceses do Brasil dos dias16 a20 de julho. E criemos atividades paroquiais ou diocesanas dos dias23 a28 de julho para aqueles jovens que não poderão participar da JMJ no Rio.
Damos graças a Deus pela nomeação de nosso querido Papa Francisco que já tem conquistado o coração de todos! No Domingo de Ramos – Dia Mundial da Juventude – ele declarou sua expectativa para o encontro conosco na JMJ Rio 2013, dizendo: “Já estamos perto da próxima etapa desta grande peregrinação da Cruz. Olho com alegria o próximo mês de Julho, no Rio de Janeiro. [...] Preparem-se bem, sobretudo espiritualmente em suas comunidades para que aquele encontro seja um sinal de fé para o mundo inteiro. Os jovens devem dizer ao mundo: é bom seguir a Jesus; é bom caminhar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de si mesmo para as periferias do mundo e da existência para levar Jesus”.
A sua bênção, querido Pastor, Papa Francisco! Nós o aguardamos de coração aquecido, de ouvidos abertos, de olhos emocionados, de mãos dispostas a colaborar com a missão da Igreja para os novos tempos! Seja bem-vindo ao calor desta juventude que o ama!
Que a força do Ressuscitado encha nossas comunidades paroquiais de colorido novo e juvenil e que não percamos este momento favorável à vida e à vocação de nossos jovens. O Espírito Santo quer este novo e a juventude está nos comunicando fortemente que está disposta a fazer mais! Resta saber se nossas comunidades paroquiais estão acolhendo este kairós!
A Mãe Aparecida nos ensine, novamente, como ouvir o chamado do Pai, carregar o seu Filho em nossa existência, abrir-nos ao novo do Espírito que muito nos fala pela vida e pela voz dos jovens.
Grande abraço, na paz do Ressuscitado.
Dom Eduardo Pinheiro da Silva
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB

domingo, 7 de abril de 2013

“Fico em Santa Marta para não me isolar”, diz o Papa Francisco

Papa Bergoglio confirmou a um amigo sacerdote que em dezembro visitará a Argentina e lhe explicou as razões pelas quais não mora nos aposentos do Papa e fica na Casa Santa Marta, a residência vaticana na qual se alojaram os 115 cardeais eleitores do Conclave e onde podem almoçar com os outros e compartilhar notícias e comentários.

A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 05-04-2013. A tradução é do Cepat.
Papa Francisco, no domingo da Páscoa pela tarde, telefonou para Jorge Chichozola, pároco da Igreja dos Santos Mártires, em Posadas. “Me telefonou às 15h10 para me dar os parabéns pelo meu aniversário. Eu atendi porque imaginei que fosse ele porque, às vezes, também ligava um pouco antes para ter certeza de que a linha estaria desocupada, e me disse: Como estás?”, relatou Chichizola à Rádio LT4 Red Ciudadana, ao mesmo tempo em que garantiu que já havia conversado por telefone com Bergoglio horas antes de ser consagrado Papa, no mês passado.
O sacerdote argentino, companheiro de ordenação sacerdotal do novo Papa, disse que Francisco confirmou a viagem para a Argentina para dezembro, e teria acrescentado que continuará a “lembrar-se de seus amigos”.
Durante a conversa telefônica, acrescentou o sacerdote, o Papa lhe confirmou que permanecerá na residência Santa Marta do Vaticano e que não irá utilizar o apartamento pontifício. Francisco “considera que é bom compartilhar a mesa, as notícias, os comentários e não ficar isolado”, comentou. Quando lhe mostraram as instalações do apartamento papal, Francisco disse: “Isto é muito grande para mim”. “Também disse – conta Chichizola – que estava deixando os guarda-costas loucos, porque é de se aproximar das pessoas, mas que já estavam se acostumando”.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519045-fico-em-santa-marta-para-nao-me-isolar-diz-o-papa-francisco

No princípio do Cristianismo eram os Leigos

No princípio do Cristianismo eram os Leigos. Jesus era leigo; os seus discípulos e discípulas eram leigos: pescadores, cobradores de impostos, domésticas… As primeiras testemunhas da Ressurreição foram os leigos e, antes dos Apóstolos, as mulheres. Os leigos foram a vanguarda da Igreja: estavam no mundo, aonde Jesus Cristo nos enviou a todos:«Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura» (Mc. 16,15). Os cristãos estavam em tudo quanto era sítio: na família, no trabalho, no exército…
Ainda não havia templos. Entre os mártires – as testemunhas pelo sangue e pela vida, dada por Cristo – eles constituíam o seu maior número, concretamente as mulheres: S.ª Felicidade, S.ª Perpétua, S.ª Inês, S.ª Cecília, S.ª Agata (Águeda)…
Quando acabou a perseguição, pelo édito de Milão (313), de Constantino,  não encontrando melhor meio de dar a vida por Cristo, foram eles – os Leigos – a retirar-se para o deserto (fuga mundi), para se consagrarem totalmente ao Senhor; assim começou o monaquismo  (=vida isolada), depois transformado em cenobismo (vida em comum), por influência de S. Basílio (no Oriente) e S. Martinho de Tours, S.º Agostinho e S. Bento (no Ocidente). Quando a Igreja precisava de Bispos para conduzir as Comunidades ia buscá-los ao deserto e ordenava-os, primeiro como sacerdotes e depois como Bispos… 

Depois veio o clericalismo: o predomínio do clero: fosse ele de ordem doutrinária (séculos XII-XIII), em que o Papa delegava nos príncipes o governo temporal dos povos; fosse ele de ordem social, que defendia que o maior grau de cultura do clero lhe dava direito a orientar os assuntos de ordem temporal; fosse ele de ordem eclesial, o que nós melhor conhecemos, que reserva(va) ao clero todas as iniciativas e responsabilidades pastorais… Foi a clericalização das ordens religiosas e da Igreja, que arrastou consigo a marginalização dos leigos, reduzidos a meros cumpridores…
E, assim, chegámos ao Concílio Vaticano II – designado o Concílio dos Leigos – que preconizou a autonomia da esfera temporal e a maioridade eclesial dos leigos, concretamente na Gaudium et Spes. Refira-se, de passagem, que a maioria dos 20 Concílios anteriores tiveram, como finalidade, a condenação de heresias e do mundo, ao contrário do Vaticano II que procurou olhar e ver o mundo,  como Jesus o olhava e via.
Mas, afinal, onde estão os Leigos? Que fizeram e fazem eles pela Igreja? Não é o seu lugar o mundo da profanidade: a família, a escola, o trabalho, a política?… Afinal, onde estão eles?  Na família é o que se vê, com o aumento dos divórcios e a negligência na passagem (=tradição) da fé aos filhos; na escola e nos Infantários, a mesma coisa; no trabalho, nem falar; na política, a desgraça total; nas Paróquias, quando muito, vemo-los no templo, de volta dos altares e dos Padres, como leitores, cantores ou Ministros extraordinários da Comunhão… Infelizmente, a maioria deles, mesmo aqueles que têm cursos superiores, a nível da fé, é analfabeta, tendo-se ficado pela catequese infantil de preparação para a Comunhão. Quem é que os vê, como catequistas de crianças, de adolescentes e jovens, ou ajudando nos Cursos de Preparação para o Matrimónio? As catequeses das nossas Paróquias continuam, na maioria dos casos, entregues a pessoas de boa vontade, mas sem formação capaz… Daí a debandada geral, após a recepção dos Sacramentos, à falta do testemunho de cristãos credíveis…
A Fé tem que ser inteligível, para ser credível: inteligível, antes de mais para quem crê; temos que terrazões para crer, senão não as temos para evangelizar: “Intellige ut credas” – dizia S.º Agostinho: procura compreender o que crês, para o creres mais convictamente e o testemunhares com mais credibilidade; S.º Inácio de Loiola diria: ‘procede, como se tudo dependesse de ti e nada de Deus! Mas, não podemos ficar por aqui; por isso, continua S.º Agostinho: “crede ut intelligas!” Mantém-te fiel, no seguimento de Cristo, ainda que não compreendas, de momento, o que crês, que a compreensão é filha da fidelidade; S.º Inácio diria: ‘procede como se tudo dependesse de Deus e nada de ti’!
Um dia, um jovem alemão disse-me que admirava os Jesuítas pela sua ligação ao mundo. De facto, S.º Inácio de Loiola viu-se e desejou-se para conseguir a libertação da vida conventual: nada de hábito religioso, pois não é o hábito que faz o monge; nada de Liturgia conventual das horas…Queria homens livres que pudessem ‘discorrer’ por todo o mundo. Não terá sido, por isso, que a Companhia de Jesus teve tanto sucesso, nos primeiros anos, sobretudo em Portugal, graças aos descobrimentos?
Onde estamos nós hoje? A primeira finalidade do Concílio foi levar a Igreja à descoberta da sua identidade: Igreja que dizes de ti? O que és? Para que existes? Qual a tua missão? Como estás a ser e a viver? Igreja, que tens a dizer ao mundo e como estás a dizê-lo? Como é que o mundo te vê? Que significas para ele? Como é que tu o ouves e ele te ouve? Muito pouco? Quase nada? Porquê?… Não continuarão a ser estas as questões centrais para a vida e missão da Igreja, hoje?
Porque será que o mundo não nos estima? Seremos verdadeiramente o que o Senhor nos mandou ser: fermento, sal e luz do mundo? Como o poderemos ser, se a nossa maior tentação – pelo menos nos últimos séculos – foi e é a fuga mundi, agora, não para o deserto, que era e é mundo, mas para o convento e a sacristia (o templo), que não existiam, no princípio?… «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele» (Jo. 3, 17). Se assim é – se o próprio Filho de Deus não teve medo do mundo, porque haveremos nós de o ter?
Pe. Domingos Monteiro da Costa, SJ

01.04.2013 
Fonte: http://essejota.net/index.php? =vnrhrlqqvkuivvqluprhrsqhutrhqqqkqruiqjrurvrrqsrnvvqnqlqrvrqjrurn

NÓS E O PADRE ANTHONY MUSAALA


Procurando evitar qualquer envolvimento emocional, gostaria de colaborar com umas poucas palavras acerca deste assunto que está mexendo com nossa comunidade de MFPC. Primeiramente, vai aqui o nosso abraço para Padre Musaala, na certeza do nosso sacerdócio comum nos unir sempre, fazendo de nós uma comunidade que deseja caminhar, como Abraão, rumo a terras novas, porque as antigas já foram, exaustivamente, lavradas, apresentando-se cansadas e, consequentemente, pouco produtivas.

Padre Musaala sugere “o início de uma reflexão interna sobre o ‘fracasso do celibato entre os padres diocesanos’ “. Gostaria de lembrar que esta mesma reflexão já foi sugerida ao Papa João Paulo II, através da intervenção direta de Aloísio Cardeal Lorscheider, quando da visita do Papa a Fortaleza em julho de 1980. A resposta foi um ensurdecedor silêncio! A resposta do Arcebispo de Kampala, Cyprian Kizito Lwanga, é mais clara: mais uma vez o Direito Canônico “resolveu” o problema, através da suspensão ferendae sententiae, como prescrito pelo cânon 1314.

Ou seja, desde 1980, isto é, em 33 anos, nada mudou, passo algum foi feito, a porta continua fechada e a “janela aberta” da Igreja em geral e do Vaticano em especial, com a qual Papa João XXIII tanto sonhava, não se realizou, tendo como consequência que, ao menos em relação a este assunto, “a primavera” ainda não chegou à Igreja, continuando ela mergulhada num grisalho e frio inverno, representado pelo Direito Canônico, que jamais deixará de ser um dos obstáculos principais para a Igreja tornar-se verdadeiramente Igreja de Cristo, comunidade de amor. 

Gostaria de perguntar ao senhor arcebispo de Kampala, como ele entende a palavra de Jesus quando diz: “Entre vocês não deve ser assim” (Jesus se refere à disputa, superioridade de uns sobre outros – onde há superiores, também há inferiores -) etc. ?

O senhor arcebispo alega que Padre Musaala “desperta o ódio e o desprezo contra a Igreja”. Creio que esta afirmação não necessite de comentário, pois fatos internos da Igreja Católica Apostólica Romana dos últimos anos falam por si, por terem causado profundo ódio e desprezo contra a Igreja, sem precedentes.Padre Musaala fala em “efeitos nada positivos em conseqüência de uma imposição”. O senhor arcebispo se nega a entrar no âmago da questão (a obrigatoriedade do celibato), refugiando-se no Direito Canônico, atitude típica de quem não tem argumentos. É fechada novamente a porta para o diálogo, a Igreja de Puebla, aquela da “Comunhão e Participação”, levando-a, mais uma vez, ao túmulo.

Gostaria de perguntar ao senhor arcebispo de Kampala, com que olhos ele lê o capítulo quarto do Evangelho de João, quando Jesus conversa, respeitosamente, com a mulher samaritana, interessando-se pela vida dela, procurando ajudá-la encontrar novas perspectivas para sua vida? Será que Jesus não quis ensinar-nos a arte do diálogo?

O Padre Musaala diz: “É necessária uma campanha de sensibilização pelo celibato opcional, já que não há argumentos teológicos, mas apenas as restrições de tradição e da disciplina da Igreja”.

Se somente no Brasil há, ao menos, 8.000 padres casados (não tenho idéia de quantos há pelo mundo afora), então a proposta por uma “sensibilização” acerca da questão obrigatória do celibato parece-me mais do que sadia, necessária, além de urgente. Creio, por sinal, que nós, o MFPC, deveríamos tomar a iniciativa deste processo de sensibilização.

Gostaria de perguntar ao senhor arcebispo de Kampala, e a todos que dirigem a Igreja, por que tanto medo, qual razão, por que tanta rigidez, frieza e insistência em não querer compreender o outro lado. Parece haver algo a esconder, algo de se envergonhar. Porque os senhores não abrem o jogo? Porque não vamos dar um “basta” a esta brincadeira de mau gosto deste interminável “esconde-esconde”? Paulo diz aos Efésios: “Confessando a verdade no amor, cresceremos sob todos os aspectos em direção àquele que é a cabeça, Cristo” (Ef. 4, 15).

 Entende-se esta palavra de Paulo no seguinte sentido: nós podemos fazer crescer as coisas em direção a Cristo. Ou seja: Cristo e sua verdade aparecerão se sentarmos à mesa para o diálogo e, depois, para a partilha do pão, juntos, que nem os discípulos de Emaús (Lucas 24, 30-32).

Embora ainda haja muitos outros aspectos a serem abordados, paro por aqui.

É evidente que o MFPC, em nível nacional, precisa declarar-se, publicamente, diante desta questão, começando por uma carta aberta ao Padre Musaala, deixando claro que ele é nosso irmão. Depois uma nota de protesto ao senhor arcebispo de Kampala, pedindo a ele para refletir sobre a palavra do Padre Musaala, quando este diz: “Casos (escandalosos) não são isolados, sintomáticos de um sistema doente que perdeu a sua integridade, mas que nunca vai admitir isso.”

Fonte: enviado pelo autor, via e-mail:  geraldof73@yahoo.com.br

06 de abril de 2013

Geraldo Frecken - PRESIDENTE ESTADUAL DO MOVIMENTO DOS PADRES CASADOS DO CEARÁ

  1 comentário para NÓS E O PADRE ANTHONY MUSAALA

 Jean Combe - Bélgica - PADRE CASADO


Eu penso que para responder aos questionamentos do Geraldo Frencken, é preciso, antes de mais nada, considerar esta igreja romana como uma instituição humana, o que ela, aliás, é.
E utilizar os instrumentos de análise de qualquer sociedade humana.
Qual é sua natureza? Quais são os elementos de sua identidade? Qual é sua composição? Como se se torna membro dela? Como se pode sair dela?
Quais são os elementos de autoridade?
Quais são seus meios de ação?
O que tem ela revelado de seu ser-no-mundo nos séculos passados?
O que ela trouxe de positivo à sociedade? E de negativo?
Qual é a percepção que dela têm as pessoas que não são seu público?
Quais são seus problemas hoje?
quais são as respostas que ela traz para estes problemas?
O que dizem dela os seus membros? O que dizem os seus detratores?
Longo trabalho. Mas eminentemente construtivo,  longe de tudo o que ela própria diz sobre si mesma. Boa caminhada.
Jean
 

UGANDA: suspenso padre que contesta o celibato. Porque: “CRIA ÓDIO contra a igreja.”


O celibato dos padres católicos é “mais uma imposição do que uma escolha livre, e seus efeitos não são nada positivos.” Isto foi escrito, preto no branco, pelo Pe. Anthony Musaala, sacerdote ugandês, numa longa carta aberta, enviada em 12 de março aos bispos, religiosos e leigos para sugerir o início de uma reflexão interna sobre o “fracasso do celibato entre os padres diocesanos”, “que poderiam se tornar felizes no casamento, antes ou depois da ordenação, em vez de viverem tristes e sozinhos.”
Uma opinião provavelmente chocante – especialmente para os católicos africanos que tendem a ser conservadores – mas inderrogável: continuar a fazer de conta que o problema não existe só vai causar danos sempre mais graves, continua Musaala, relativos tanto ao sofrimento dos sacerdotes como também às consequências “escandalosas” e criminosas. O ‘”auto-engano”, a negação do problema, explica o sacerdote, pode durar por mais uns dez anos, mas depois muitos escândalos virão à luz e, então, o sistema vai implodir, provocando o abandono da Igreja Católica e a migração de grande parte dos fiéis para outras comunidades de fé “, cujos pastores talvez nem sejam melhores, mas, com certeza, vão parecer menos hipócritas.” Tudo isso em um contexto eclesial de crescente descontentamento, sobretudo entre as classes médias.
Todos, na Uganda, falam sobre os casos amorosos dos sacerdotes, lemos na carta: no cabeleireiro ou no bar, na confissão ou em casa. Trata-se de relações mais ou menos ocultas que os sacerdotes mantêm, fugaz ou permanentemente com paroquianas, garçonetes, estudantes, padres, freiras, e até mesmo religiosos que oferecem sexo em troca de dinheiro.
E – é a nota triste – infelizmente mesmo com menores, sem que na África o escândalo da pedofilia suscite a indignação pública como aconteceu na Europa e na América do Norte. Completa o quadro uma ainda não contabilizada quantidade de filhos espalhados pelo país ou abortado por não “sujar’ a imagem do mesmo padre. “Emerge assim uma grande fraqueza humana – conclui Musaala – com consequências catastróficas tanto para o padre como para os parceiros. Fraqueza que não pode ser escondida atrás de um voto de celibato, orações e rituais. “
É “a verdade nua e crua” que a Igreja na África continua a empurrar, como se fosse poeira, para baixo do tapete, bem representada por alguns “casos” que o Pe. Anthony conta na carta: um rapaz de 21 anos que tentou o suicídio, filho de um padre que finge ser seu tio e que exerce o ministério na Arquidiocese de Kampala; um amigo dele, que nasceu da violência de um pai branco já falecido, que nunca conseguiu superar a injustiça sofrida pela mãe, apesar da compensação financeira da congregação; uma jovem de Kampala Velha, que caiu na miséria e depois foi enganada e engravidada por um padre; uma mulher que se ia confessar apenas para ser acariciada na escuridão do confessionário; finalmente, ele próprio que, muito jovem ainda, descobriu o concorrido mundo do sexo entre os estudantes das escolas católicas. “Casos não são isolados, sintomáticos de um sistema doente que perdeu a sua integridade, mas que nunca vai admitir isso.”
A proposta
Os casos de abuso infantil devem ser tratados com processos legais, da mesma forma que todos os outros crimes, escreve Musaala, lembrando que, entretanto – e, claro, em completa autonomia em relação à Igreja – decidiu criar uma rede de profissionais para apoiar vítimas de pedofilia eclesiástica.
“É necessária – acrescenta – uma campanha de sensibilização pelo celibato opcional”, “já que não há argumentos teológicos”, “mas apenas as restrições de tradição e da disciplina da Igreja”. “Estou ciente do fato de que a luta será dura. Infelizmente, o celibato também serve a alguns interesses na estrutura de poder da Igreja e, claro, para a autoridade eclesiástica, os padres celibatários são menos caros, mais fáceis de gerenciar e até mesmo de manipular.
Eu acho que com o tempo estaremos livres deste jugo inútil e mais grave ainda na África, onde os laços familiares são cruciais para o equilíbrio psicológico das pessoas. “Uma regra, conclui,  removendo uma pedrinha do sapato, que, além do mais, só vale para os padres que não têm poder suficiente para gozarem da cobertura complacente das hierarquias católicas locais.

A resposta
Segundo o arcebispo de Kampala, Cyprian Kizito Lwanga – o texto da sua resposta, datada de 19 de março, está disponível no site do jornal ugandês Daily Monitor, 20/3 – a carta do Pe. Anthony Musaala causou grande perturbação entre os fiéis e jogou uma luz ruim sobre a Igreja da Uganda, que sempre foi comprometida com a defesa dos direitos das crianças e dos mais vulneráveis. O celibato é uma obrigação prevista pelo código de direito canônico, mas também pelo juramento do diácono que fez os votos, acrescentou o prelado. Ninguém é forçado a se tornar padre e, portanto, as críticas feitas pelo Pe. Musaala estão incorretas. Além disso, o seu ensino, diz também o arcebispo, “desperta o ódio e o desprezo contra a Igreja”, e portanto “, ele incorre em uma suspensão ferendae sententiae, como prescrito pelo Can. 1314 ‘.
Giampaolo Petrucci
Tradução: João Tavares
Fonte:http://www.adistaonline.it/index.php?op=articolo&id=52656