“No Ano da Caridade, a construção da Paz.
“No Ano da Caridade, a construção da Paz.”
Iniciamos 2015 sob o sinal da Caridade na
construção da Paz. Para nós na Arquidiocese de Fortaleza será este o Ano da
Caridade, terceiro ano no triênio na celebração do Jubileu Centenário da
Arquidiocese. Para toda a humanidade, nos votos e mensagem do Papa Francisco, a
Paz se constrói com a Fraternidade, fundamento e caminho para a Paz: por isto o
lema: “Já não escravos, mas irmãos”.
LEIA MAIS:
Em sua mensagem para a celebração do 48º Dia
Mundial da Paz assim fundamenta com simplicidade direta o Papa Francisco
(recomendamos sua completa leitura): “2. O tema, que escolhi para esta mensagem,
inspira-se na Carta de São Paulo a Filemon; nela, o Apóstolo pede ao seu
colaborador para acolher Onésimo, que antes era escravo do próprio Filemon, mas
agora se tornou cristão, merecendo por isso mesmo, segundo Paulo, ser
considerado um irmão. Escreve o Apóstolo dos gentios: «Ele foi afastado por
breve tempo, a fim de que o recebas para sempre, não já como escravo, mas muito
mais do que um escravo, como irmão querido» (Flm 15-16). Tornando-se
cristão, Onésimo passou a ser irmão de Filemon. Deste modo, a conversão a
Cristo, o início duma vida de discipulado em Cristo constitui um novo nascimento
(cf. 2 Cor 5, 17; 1 Ped 1, 3), que regenera a fraternidade como vínculo fundante
da vida familiar e alicerce da vida social.”
É da constatação de que: “Infelizmente, o flagelo
generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de
comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a
justiça e a caridade.” “Infelizmente, entre a primeira criação narrada no livro
do Gênesis e o novo nascimento em Cristo – que torna, os crentes, irmãos e irmãs
do «primogênito de muitos irmãos» (Rom 8, 29) –, existe a realidade negativa do
pecado, que interrompe tantas vezes a nossa fraternidade de criaturas e deforma
continuamente a beleza e nobreza de sermos irmãos e irmãs da mesma família
humana. Caim não só não suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja,
cometendo o primeiro fratricídio. «O assassinato de Abel por Caim atesta,
tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf.
Gen 4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são
chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros».[2]”
Esta infelicidade humana tem entre tantas causas
uma fundamental: “4. Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção
da pessoa humana que admite a possibilidade de tratá-la como um objeto. Quando o
pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus
semelhantes, estes deixam de serem sentidos como seres de igual dignidade, como
irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objetos. Com a força, o
engano, a coação física ou psicológica, a pessoa humana – criada à imagem e
semelhança de Deus – é privada da liberdade, mercantilizada, reduzida a
propriedade de alguém; é tratada como meio, e não como fim.”
E diante de tantas faces da escravidão (ainda
hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são
privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da
escravatura) a que são submetidas por outras suas semelhantes, que são suas
irmãs, a que somos todos chamados senão ao reconhecimento real da filiação comum
de um único Pai, da irmandade comum no Cristo Senhor, o Filho de Deus que se fez
Filho do Homem e Irmão de toda pessoa humana para nos unir em comunhão de vida e
dignidade em toda a humanidade no único Amor que é o próprio Deus?
O Santo Padre o Papa Francisco convida a todos a
“globalizar a fraternidade, não a escravidão nem a
indiferença”, com atitudes pessoais, comunitárias em gestos concretos
que vão muito além de qualquer retórica: “Nesta perspectiva, desejo convidar
cada um, segundo a respectiva missão e responsabilidades particulares, a
realizar gestos de fraternidade a bem de quantos são mantidos em estado de
servidão. Perguntemo-nos, enquanto comunidade e indivíduo, como nos sentimos
interpelados quando, na vida quotidiana, nos encontramos ou lidamos com pessoas
que poderiam ser vítimas do tráfico de seres humanos ou, quando temos de
comprar, se escolhemos produtos que poderiam razoavelmente resultar da
exploração de outras pessoas. Há alguns de nós que, por indiferença, porque
distraídos com as preocupações diárias, ou por razões econômicas, fecham os
olhos. Outros, pelo contrário, optam por fazer algo de positivo,
comprometendo-se nas associações da sociedade civil ou praticando no dia-a-dia
pequenos gestos como dirigir uma palavra, trocar um cumprimento, dizer «bom dia»
ou oferecer um sorriso; estes gestos, que têm imenso valor e não nos custam
nada, podem dar esperança, abrir estradas, mudar a vida a uma pessoa que tateia
na invisibilidade e mudar também a nossa vida face a esta realidade.”
“Temos de reconhecer que estamos perante um
fenómeno mundial que excede as competências de uma única comunidade ou nação.
Para vencê-lo, é preciso uma mobilização de dimensões comparáveis às do próprio
fenômeno. Por esta razão, lanço um veemente apelo a todos os homens e mulheres
de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são
testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para
que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos
sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e
dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo,[12] o Qual
Se torna visível através dos rostos inumeráveis daqueles a quem Ele mesmo chama
os «meus irmãos mais pequeninos» (Mt 25, 40.45)
E neste ANO DA CARIDADE, em que nos reconhecemos
“Levados pela Caridade de Cristo”(2 Cor 5, 14),
reconhecemos que desde as: “origens da família humana, o pecado de
afastamento de Deus, da figura do pai e do irmão torna-se uma expressão da
recusa da comunhão e traduz-se na cultura da servidão (cf. Gen 9, 25-27), com as
consequências daí resultantes que se prolongam de geração em geração: rejeição
do outro, maus-tratos às pessoas, violação da dignidade e dos direitos
fundamentais, institucionalização de desigualdades. Daqui se vê a necessidade
duma conversão contínua à Aliança levada à perfeição pela oblação de Cristo na
cruz, confiantes de que, «onde abundou o pecado, superabundou a graça (…)
por Jesus Cristo» (Rom 5, 20.21). Ele, o Filho amado (cf. Mt 3, 17), veio
para revelar o amor do Pai pela humanidade. Todo aquele que escuta o Evangelho e
acolhe o seu apelo à conversão, torna-se, para Jesus, «irmão, irmã e mãe»
(Mt 12, 50) e, consequentemente, filho adotivo de seu Pai (cf. Ef 1, 5). No
entanto, os seres humanos não se tornam cristãos, filhos do Pai e irmãos em
Cristo por imposição divina, isto é, sem o exercício da liberdade pessoal, sem
se converterem livremente a Cristo. Ser filho de Deus requer que primeiro se
abrace o imperativo da conversão: «Convertei-vos – dizia Pedro no dia de
Pentecostes – e peça cada um o batismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão
dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo» (At 2, 38). Todos
aqueles que responderam com a fé e a vida àquela pregação de Pedro, entraram na
fraternidade da primeira comunidade cristã (cf. 1 Ped 2, 17; At 1, 15.16; 6, 3;
15, 23): judeus e gregos, escravos e homens livres (cf. 1 Cor 12, 13; Gal 3,
28), cuja diversidade de origem e estado social não diminui a dignidade de cada
um, nem exclui ninguém do povo de Deus. Por isso, a comunidade cristã é o lugar
da comunhão vivida no amor entre os irmãos (cf. Rom 12, 10; 1 Tes 4, 9; Heb 13,
1; 1 Ped 1, 22; 2 Ped 1, 7). Tudo isto prova como a Boa Nova de Jesus Cristo –
por meio de Quem Deus «renova todas as coisas» (Ap 21, 5)[3] – é capaz
de redimir também as relações entre os homens, incluindo a relação entre um
escravo e o seu senhor, pondo em evidência aquilo que ambos têm em comum: a
filiação adotiva e o vínculo de fraternidade em Cristo. O próprio Jesus disse
aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está
ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei
a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15).
“No Ano da Caridade, (faremos)
a construção da Paz”, vivendo a nossa filiação de Deus e a
nossa fraternidade com os irmãos.
Este Novo Ano, que a bondade infinita de Deus
nos dá, seja guiado pela Palavra onipotente que se fez carne impotente e mortal
para nos guiar à imortalidade.
Que brilhe a Luz que ilumina todo homem vindo a
este mundo, para que seus dias sejam cheios do Amor, da Paz e da Felicidade que
agora prenunciam na História a Feliz Eternidade da qual nos faz participantes o
Filho de Deus feito nosso Irmão.
Começamos o Novo Ano sob a proteção da Santa Mãe
de Deus, Maria, que trouxe no seio virginal o Filho do Pai Eterno – o Príncipe
da Paz: nEle nós somos “Já não escravos, mas irmãos”
para sempre.
Feliz e Abençoado Ano do Senhor 2015.
+ José Antonio Aparecido Tosi
Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza
FONTE:http://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/
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