Adital
Consonante com a
postura presente do Papa Francisco em temas que permeiam sociedades de todo o
globo, foi lançada nesta quinta-feira, 19 de fevereiro, a Campanha da Fraternidade
2015, com o tema Igreja e Sociedade. A proposta se contextualiza no engajamento
do Sumo Pontífice nas discussões sobre temas habitualmente evitados pelo
Vaticano e pode ser compreendida como uma maneira de demonstrar que a Igreja
Católica brasileira está disposta a, institucionalmente, fazer parte do debate.
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Promovida pela
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a campanha deste ano tem
como lema "Eu vim para servir”, utilizando uma imagem de Francisco durante um
rito de lava-pés, em 2014, como símbolo da mensagem. Em entrevista à Adital, o arcebispo de Fortaleza, Estado
do Ceará, Dom José Antônio Aparecido Tosi, afirma que a intenção é difundir a
chamada do Santo Padre de associar as questões da vida humana com a
espiritualidade.
"O chamado do Papa
Francisco é que o verdadeiro sentido da vida humana está em deixar-se preencher
pela força que vem de Deus e, por isso, amar as pessoas e elevar a humanidade a
uma vida de fé. Por isso é que ele chama ao diálogo, por isso é que celebra
encontros para superar divisões. Nunca vi um papa tão voltado para o concreto,
tão voltado para o social”, ressaltou Tosi, durante o lançamento da campanha na
cidade de Fortaleza.
Uma das frentes de
atuação da Igreja em 2015 será o engajamento da instituição religiosa no debate
e mobilização em torno da construção de uma reforma política democrática para o
país. Já integrante de um conjunto de organizações e entidades que se articulam
em torno de pautas que visam à reformulação da estrutura política brasileira, a
CNBB deve passar a ser ponto de coleta de assinaturas para o projeto de
iniciativa popular que tramitará no Congresso Nacional e que propõe uma série
de mudanças no funcionamento do Estado e das eleições para os poderes Executivo
e Legislativo no Brasil.
Além disso, o arcebispo
destaca a importância da instituição religiosa atuar na promoção direta de
espaços de debate e estímulo à participação popular nesse processo. "Não basta
apenas colher assinaturas; o povo quer saber por que assina. É preciso que a
campanha não só colha assinaturas, mas assuma uma postura”, ressalva Tosi. "A
Igreja, sozinha, não resolve os problemas da sociedade, mas será uma
colaboradora. Nós acreditamos na força da união”.
Arcebispo Dom José Antônio Tosi diz que Igreja vai se engajar na coleta de assinaturas pela reforma política democrática. |
Oprimidos
em relevo
Nesse sentido, em
seu texto-base, a Campanha da Fraternidade 2015 coloca em relevo também as
chamadas minorias na sociedade brasileira, defendendo o olhar da Igreja sobre
esses grupos. "Parte das dificuldades enfrentadas por vários grupos étnicos e
culturais minoritários na sociedade está diretamente relacionada à dimensão
econômica da pobreza”, assinala o documento.
"Merecem atenção
(...) indígenas, quilombolas, pescadores, comunidades tradicionais e povos
nômades. Eles precisam, sobretudo, de apoio na luta pelos seus territórios,
pela manutenção de sua cultura e pela sobrevivência do modo de vida de sua
tradição”, defende a Campanha. Outros grupos também destacados pela Igreja são
os dependentes químicos, portadores de necessidades especiais e migrantes.
"Os pobres e
excluídos têm rosto, têm uma corporeidade, trajetória de vida e esperanças. São
indivíduos e são grupos sociais. A sociedade brasileira, ao apresentar avanços
na retirada de pessoas da miséria e da fome e ao oferecer melhores condições de
vida à população em geral, não pode relegar ao esquecimento as minorias e suas
demandas”, alerta a Campanha da Fraternidade 2015.
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Marcela Belchior
É jornalista da Adital. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), estuda as relações culturais na América Latina.
E-mail:
marcela@adital.com.br
belchior.marcela@gmail.com
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