Em seu discurso de posse a presidenta da
República apresentou-se encarnando um “projeto de nação” que teria o mais
profundo e duradouro apoio popular e que triunfou em virtude dos resultados
alcançados e porque o povo entendeu que é um projeto coletivo e de longo prazo,
um projeto que é do povo brasileiro e para o povo brasileiro. A pergunta
primeira a partir desta afirmação solene e de grande importância para a
configuração da via coletiva é: em que consistiu este projeto, quais seus traços
fundamentais? O que é chave para entender o que foi realizado é que se tratou
sobretudo da integração da classe trabalhadora enquanto “integração pelo
consumo”.
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Trata-se de uma forma determinada de inclusão
social. A presidenta enumera os resultados mais importantes: temos hoje a
primeira geração no país que não vivenciou a tragédia da fome, 36 milhões foram
regatados da extrema pobreza, nunca tantos brasileiros conquistaram tantos
empregos com carteira assinada, nunca o salário mínimo e os demais salários se
valorizaram tanto, nunca tantos foram donos de suas próprias casas. Cumpriu-se o
compromisso de “oferecer a uma população enorme de excluídos os direitos básicos
que devem ser assegurados a qualquer cidadão”. O novo estaria na combinação
entre o social e o econômico que desmascarou a convicção hegemônica de que seria
impossível associar políticas de inclusão social, de distribuição de renda ao
crescimento econômico.
Pode-se dizer que em nossa história nunca
havíamos visto um processo semelhante. No entanto, o processo mesmo gera nas
pessoas novas necessidades até em função da continuidade do processo de
integração para as novas gerações. É por esta razão que muitos falam hoje que
este ciclo em princípio encerrou-se e que estamos diante do desafio de
começarmos um novo ciclo. A própria presidenta afirma que a palavra que mais se
ouviu na campanha foi “mudança” e que o tema mais mencionado foi o de “reforma”.
Ela mesma nos interpreta o que isto significa: “O povo quer democratizar, cada
vez mais, a renda, o conhecimento e o poder. O povo brasileiro quer educação,
saúde e segurança de mais qualidade. O povo brasileiro quer ainda mais
transparência e mais combate a todos os tipos de crimes, especialmente a
corrupção e quer ainda que o braço forte da justiça alcance a todos de forma
igualitária” .
Isto significa articular o grande desafio do
momento que é uma nova forma de integração, poder-se-ia falar de um novo padrão
civilizatório: a integração pelos serviços essenciais garantidos pelo Estado
(educação, saúde, segurança etc.). Isto não poderá acontecer sem reformas
estruturais fundamentais que todos os países desenvolvidos fizeram ainda no
tempo do capitalismo industrial e o Brasil, que já entrou no capitalismo
pós-industrial, ainda não realizou. Partindo no nosso caso de uma espécie de
pré-reforma, uma radical reforma política, trata-se, sobretudo, da reforma
tributária e da reforma agrária. Nossa estrutura agrária é comparável à de 1850
(Lei das Terras) e os mais pobres continuam pagando 50% de sua renda com
impostos.
manfredo.oliveira2012@gmail.com
*Padre e filósofo. Professor na Universidade
Federal do Ceará (UFC). Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma,
Itália, e doutor em Filosofia pela Universidade Ludwig-Maximilian de Munique,
Alemanha. Assessor das Pastorais Sociais e padre da Arquidiocese de Fortaleza. É
Presidente da ADITAL
FONTE:http://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/atualidades/artigos/artigos-novo-ciclo/
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