sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

NOITE FELIZ! CUIDADO .....



O artigo que segue abaixo foi escrito por nosso colega GERARDO CAMPOS
em 1999 e publicado no Jornal O POVO.
Continua extremamente atual, lamentavelmente!
NOITE FELIZ!    CUIDADO .....
            
 Meninos de rua! Ainda hoje, não há lugar para eles. Nem manjedoura ... . Daí o problema que a sociedade, omissa numa solução pelo amor integrá-los à sociedade o mais rápido possível, exclamam políticos influentes. Preocupação justíssima a ser traduzida em atos e com a máxima urgência!
            Alguns questionamentos de dimensões éticas e antropológicas se fazem necessários, para provocar dúvidas capazes de gerar com o tempo um compromisso libertador!
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            Educar os meninos de rua para quê? Para serem letrados ou para encontrarem sua identidade e se sentirem crianças, símbolos vivos da simplicidade, da paz interior e da autoconfiança, modelo até do reino dos céus? ...
            Integrá-los a qual sociedade? À neo-liberal? Totalmente desintegrada, dividida, desigual, injusta, a cavar, cada dia dentro de si mesma, o abismo do homem e o abismo do pão, onde há poucos que comem e há muitos que não?! ... Uma sociedade em que se um menor rouba uma bicicleta a preocupação maior é com o destino da bicicleta e não com o destino do menor?!
            Infelizmente, (é triste para um educador reconhecer isto) as escolas que existem para elas não lhes satisfazem as ansiedades. São livres demais para se submeterem a uma grade curricular ..... .
            Imagine-se um possível diálogo entre dois meninos, Um, fardado de azul e branco. O outro, de calção, sujo e rasgado ... . Ambos caminham, lado a lado, na mesma ruela de uma periferia qualquer.
- Ei! Cara, prá onde tu vai?
- Vou prá escola!
- Lá é bom?
- Mais ou menos!
- Como é lá?
- É uma casa grande, cheia de carteira.
- O que é que tu faz com tanta carteira, macho?
- Ora, eu me sento prá estudar.
- Pô! Eu pensava que era carteira prá gente bater.
- E o que tu ganha estudando?
- Eu aprendo e tiro nota.
- Vantage! Eu nem estudo e já aprendi também a tirar nota. - Se tu não tira nota o que acontece contigo?
- Eu levo pau ...
- Pois eu levo pau quando tiro nota ....
- Mas eu tiro nota para mudar de classe.
- E cola?
- Às vezes a gente não sabe a lição e um amigo passa cola prá gente.
- Eu falo é de cola prá cheirar, bicho!
- Essa não! De jeito nenhum! Faz mal!
- E tem festa na tua escola?
- Vez por outra. Semana passada, o Delegado de ensino visitou a nossa aula. Foi animado. A gente cantou, foi massa.
- Puxa! Tem delegado também na tua escola! Prá que?
- Ele disse que seu interesse é da gente aprender ...
- Vai nessa!Delegado prá mim, só se interessa prá prender a gente.
O diálogo prosseguiu.
- Cara, minha sala de aula é legal! Tem um quadro verde, enorme, na frente.
- O quadro na minha frente é negro ...
- Sabe o que é chato na minha escola? É ter dever prá fazer em casa.
- Nada rapaz! Pior que isso, é ter direitos e não ter casa!
Deixo de imaginar e caio na realidade.
Como precisa crescer uma sociedade que por ser conivente com a riqueza e o lucro não aprendeu ainda a conviver com aqueles que ela mesma exclui de suas circunstâncias!
Meninos de rua não são desalmados. Foram mal amados. Se são bandidos, é porque foram banidos, muito cedo, de uma vida humana e digna. Por isso, meu amigo privilegiado, ao sais à rua, na Noite Feliz, não esqueça aquele sábio e oportuno trocadilho: “Quem ostenta os tenta!”
Gerardo  José Campos
MFPC CEARÁ - Falecido

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