sábado, 13 de dezembro de 2014

“A NOITE CARREGA A AURORA EM SEU SEIO” ou seja DEUS PEDE PASSAGEM

 O tempo que antecede à festa de Natal é marcado pela alegria, pela esperança. Somos cientes de que há de começar algo novo em nossas vidas.

Paira no ar uma nova proposta de vida, um jeito de conviver melhor uns com os outros, como canta Ivan Lins: “No novo tempo, apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos prá nos socorrer, prá nos socorrer, prá nos socorrer.”
Invade-nos o desejo de que tudo aquilo que vai contra a vida dê lugar à realização dos nossos sonhos que sugerem um mundo melhor. Ressoa dentro de nós uma voz que almeja tranqüilidade, fraternidade, justiça, paz e amor.
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Precisamos, porém, de serenidade, que possibilite cada um encontrar-se, em primeira instância, consigo mesmo para, em seguida, juntos nos perguntarmos se estamos abertos e preparados para o novo, que veio no silêncio e na escuridão da noite, que “carrega a aurora em seu seio!” (Dom Helder na “Sinfonia dos dois mundos”).
O “novo”, o “não conhecido”, o “não esperado”, o “surpreendente” caracteriza profundamente o Natal, isto é, todas as formas de Natal, toda vida nova: o Natal dos planetas e das estrelas, das ideias, dos pensamentos ou de descobertas, de seres humanos, animais ou plantas, de sentimentos, emoções ou paixões.
E este novo tem a ver com mudança, que, por sua vez, alimenta esperança. A esperança origina vida. E esta vida nos diz respeito a nós todos, porque ela nos relaciona como seres dialogais, complementares e, de forma construtiva, dependentes uns dos outros. Nisto habita o sentido do nosso ser, a essência da nossa existência.
 Que aurora do novo então é esta?

 Há um canto natalino na Alemanha (1328), dizendo: “Em doce alegria, cantem agora e sejam alegres, porque o regozijo do nosso coração encontra-se no presépio e brilha como o sol no colo da mãe: Tu és Alfa e Omega!”
Acho lindo, quando diz: “o regozijo do nosso coração se encontra no presépio!”
Regozijo significa alegria, contentamento, deleite; dá aquela sensação de termos alcançado o máximo de prazer em nossa vida, a nossa felicidade deitada numa manjedoura, pequena e frágil ainda, contendo, porém, uma promessa sedutora.
Esta aurora e este regozijo têm nome: Jesus. Por certo não há de ser o Jesus que desaparece debaixo da comercialização “natalina” e cuja voz é abafada pelas centenas de decibéis estridentes dos vazios “Jingle bells”.
O nosso verdadeiro regozijo está naquele que reconhecemos como o Emanuel, que veio “anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, a recuperação da vista aos cegos, e veio despedir os oprimidos em liberdade e um ano de acolhimento da parte do Senhor” (Lc. 4, 18.19). Eis a promessa sedutora.
Esta promessa foi dirigida, em primeiro lugar, aos pobres de então: os pastores, que foram os primeiros a ouvir a Boa Nova e a abraçá-la. Mas, de lá para cá, a Mensagem de esperança continua a ser dirigida, preferencialmente, aos pobres.
 
E estes pobres têm cara:
  • os que têm fome e sede,
  • os que choram,
  • os perseguidos e caluniados,
  • os afligidos,
  • as mulheres de sempre;
  • são os samaritanos de então,
  • os africanos e haitianos de hoje,
  • os leprosos de então,
  • os aidéticos de hoje,
  • a “prostituta” de então,
  • os homo-afetivos de hoje,
  • os negros e os índios em nosso país que, conforme opinião de alguns, não somam, e, portanto, atrapalham o “nosso progresso”;
  • são aqueles a quem era negado o acesso ao templo de então, e os tantos que são excluídos das “igrejas” de hoje.  
Pois todos eles não contam para os que estão na parte superior da pirâmide da sociedade em geral, da política, do sistema econômico “que mata” (Papa Francisco), da igreja!

Mas que ninguém pense estar fora desta Boa Nova!
 Como Bom Pastor, Jesus estendia seus braços aos pobres com muito carinho. “pois eles eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6, 34).
Nosso irmão Frei Carlos Mesters nos ensina: “Jesus caminhava com o povo nas romarias, cultivava suas devoções, esmolas, jejuns e orações (Mt. 6, 2, 18) e, como leigo, participava das celebrações semanais na sinagoga, levantando-se para fazer as leituras (Lc. 4, 16)” (Em: “Descer da Cruz os pobres”, Paulinas,  2007).
Jesus, portanto, se solidarizava com os pobres, ficando do lado deles e chegou até a dizer-lhes: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, por teres ocultado isso aos sábios e aos inteligentes e por tê-lo revelado aos pequeninos” (Mt. 11, 25).
Todos nós estaremos incluídos na Boa Nova, a partir do momento em que edificamos nossa vida, solidarizando-nos com os pobres da terra, abraçando-os com carinho, possibilitando-lhes a chance de construir vida digna, juntos com eles e a partir deles.
Faremos parte da Boa Nova, a partir do momento e por meio de gestos nos quais “passamos de atitudes fechadas à formação de uma nova cultura, que constrói cidadania no diálogo e que não tem medo de acolher o que o outro, o diferente, tem a oferecer” (Estudos CNBB, n.º 148).
Estamos dentro da proposta de Jesus quando criamos a coragem “de nos considerarmos como que marcados a fogo pela missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar.” (Papa Francisco em “Alegria do Evangelho”, n.º 273).
Então aparece a AURORA em todo seu esplendor e todos nós poderemos dizer: “FELIZ NATAL”, porque acabamos de abrir a porta do nosso coração e da nossa mente para O NOVO entrar!

Geraldo Frencken
Fortaleza, 8 de dezembro de 2014,

Geraldo Frencken

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