O comércio de seres humanos é a violação da
grandeza dos filhos de Deus, no cerceamento da liberdade e no ignóbil desprezo
daquilo que é inexprimível e insondavelmente sagrado, à dignidade dos filhos de
Deus. Que nossa súplica seja fervorosa pelos que passam pelo doloroso flagelo do
tráfico humano, uma vez que os temos como irmãs e irmãos, todos, filhos do mesmo
Pai que está no céu; ao mesmo tempo em que somos chamados a uma grande cruzada e
compromisso, no sentido de superar esta chaga, que envergonha a comunidade dos
filhos de Deus e toda a sociedade.
É em Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido em
condição humana, mas que carregou consigo a missão de renovar inteiramente a
humanidade, já no início experimentou com seus pais, Maria e José, uma enorme
aflição, na condição de refugiado, que vamos encontrar forças para perseguir
este tema, Fraternidade e Tráfico Humano, proposto pela Igreja no querido Brasil
neste ano de 2014. Ele passou pela dor da paixão, manifestou aos homens sua
misericórdia e seu perdão infinito. No mistério pascal, ofereceu a vida eterna,
quando gloriosamente partiu para o mais alto céu, abriu-nos a cancela da eterna
felicidade.
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É evidente que ele quer está conosco, num mundo
profundamente caracterizado pelo avanço das novidades, no campo da ciência, da
tecnologia, da comunicação e da medicina, sem esquecer a internet, com a força e
a eficácia das redes sociais, as quais envolvem e agarram as pessoas no mundo
hodierno; como nos tempos passados o foi no campo da arte, da pintura, da
escultura, da navegação, da música (…). Neste contexto, nossa civilização jamais
pode deixar de colocar o ser humano como personagem principal. Ademais, seria
inadmissível a ausência de solidariedade, de não contemplar, ignorar e mesmo
prescindir da pessoa humana como imagem e semelhança de Deus, protagonista de
sua própria história (cf. Gn, 1, 26-28).
Daí o clamor e o grito por mudanças na direção da
conversão. Nesta luta, louvamos e agradecemos ao bom Deus, porque contamos como
o aliado número um, o Papa Francisco, dom e sinal visível de Deus, sensível a
dor e ao sofrimento humano. Percebemos no dia a dia o quanto ele é precioso,
quando se dirige às pessoas de boa vontade, através dos seus pronunciamentos,
com frases emblemáticas, numa postura firme e altamente relevante, na sua missão
de instaurar e edificar o Reino Deus: “Como gostaria de encontrar palavras para
encorajar uma ação evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia
de amor até ao fim e feita de vida contagiante” (EG, 261).
Nós cristãos e também cidadãos, somos convidados
pelo nosso bom Deus a sair da inércia, indiferença e insensibilidade, diante da
dor e do sofrimento de uma multidão de irmãos e irmãs que sofrem com tráfico
humano. É por ocasião da Quaresma, tempo rico, precioso e favorável à conversão,
no qual o próprio Deus quer agir em nós, através do exercício da caridade, no
trinômio, renúncia, doação e generosidade, somos chamados buscar meios, no
sentido de combater esta prática absurda, vergonhosa e criminosa do comércio de
seres humanos.
Que Deus suscite sempre mais pessoas talentosas e
de personalidade forte, nos anseios, desejos, inquietações e sonhos, alimentados
pela fé em Jesus Cristo, traduzida em gestos e obras, neste tempo especial da
Quaresma, com a Campanha da Fraternidade, a tratar deste assunto, o qual envolve
toda sociedade. Que as palavras do Papa Francisco em Lampedusa, no dia oito de
julho de 2013, nos favoreçam nesta inquietante empreitada, ao afirmar: “Peçamos
ao senhor a graça de chorar nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há
no mundo, em nós, incluindo aqueles que no anonimato, tomam decisões
socioeconômicas que abrem a estrada a dramas como este”.
Fraternidade e Tráfico Humano, tema da Campanha
da Fraternidade de 2014, quer deixar marcas profundas, quer ser um aprendizado e
aqui vem à minha mente a grandeza de mestre da Renascença, Leonardo da Vinci, na
seguinte assertiva: “Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa,
nunca tem medo e nunca se arrepende”. Olhar com bons olhos para este tema
desafiador é pouco e insuficiente. É imprescindível a conversão do coração, com
a qual sejamos levados a um aprendizado, a partir da fé, tendo por base os
valores do Evangelho, no dizer do Apóstolo Paulo: “É para a liberdade que Cristo
dos libertou” (Gl 5, 1). Assim seja!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor,
colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza,
da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente
da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso – geovanesaraiva@gmail.com
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