Irmã Dorothy chegou ao Brasil em 1966 e foi
trabalhar na região da Amazônia desde a década de setenta, junto aos trabalhadores rurais da região do Xingu. Sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e
renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos
trabalhadores rurais da área da rodovia Transamazônica. Seu trabalho focava-se
também na minimização dos conflitos
fundiários na região.
leia mais:
Ela atuou ativamente nos movimentos sociais no Pará. A sua participação em projetos de desenvolvimento
sustentável ultrapassou as fronteiras da pequena Vila de Sucupira, no município de Anapu (PA), ganhando reconhecimento nacional e internacional. Defensora de
uma reforma
agrária justa e
consequente, Irmã Dorothy mantinha intensa agenda de diálogo com lideranças
camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções duradouras para os
conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Região Amazônica. Dentre suas inúmeras iniciativas em favor dos
mais empobrecidos, Irmã Dorothy ajudou a fundar a primeira escola de formação
de professores na rodovia Transamazônica.
Irmã Dorothy recebeu diversas ameaças de morte, sem deixar intimidar-se.
Pouco antes de ser assassinada declarou: “Não vou fugir e nem abandonar a
luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm
o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com
dignidade, sem devastar.”
Enquanto mostrava a Bíblia como sua arma, ela foi
assassinada com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, aos 73 anos
de idade, no dia 12 de
fevereiro de 2005, às sete horas e trinta minutos da manhã, em uma estrada de terra de
difícil acesso, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu.
Desde a morte dela, centenas de homens e mulheres
do campo foram assassinadas pelo Brasil afora. E a justiça? Surda, cega e
calada! Enquanto o Supremo reservou tempo infindável aos mensaleiros, com pleno
direito a infinitos recursos, e tudo transmitido, ‘tim-tim por tim-tim’, num
festival globista nunca visto, não vemos um pouquinho de preocupação em fazer
justiça quando se trata de gente pobre. Houve, sim, processos para julgar os
mandantes e assassinos da Irmã Dorothy, mas neste caso se tratava de uma pessoa
de projeção nacional e internacional. O país não poderia passar vergonha diante
da opinião pública nacional. Aliás, o único processo justo para ela será fazer
com que os seus sonhos se tornarão realidade em favor da vida de todos aqueles
que lutam por justiça! Mas, para os pequenos agricultores, para dirigentes de
sindicatos rurais e agentes da Comissão Pastoral da Terra, etc., para esta
gente assassinada não há processos a fim de fazer um pouquinho de justiça! Chico
Buarque parece ter razão quando canta da vida sofrida do lavrador, dizendo que “a tua cova é a parte que te cabe deste latifúndio!”.
Quando
falamos em Irmã Dorothy, ou também em Chico Mendes, morto há mais de 25 anos,
não estamos diante de pessoas que estavam preocupadas apenas com problemas locais.
Eles, junto com tantos companheiros, idealizavam e buscavam a construção de uma
nova ordem social, econômica e política. Uma nova ordem social na qual as relações entre as pessoas fossem
baseadas em fraternidade, uma sociedade formada em formato comunitário. Uma nova ordem econômica na qual houvesse
chances de vida digna para todos e que construísse uma sociedade sem a maldita
desigualdade social, praticando a justa divisão das riquezas de uma nação, ou,
como dizia Dom Helder, onde não houvesse “nem
pobre, nem rico”. Uma nova ordem
política que tivesse “o cuidado” como programa e meta dos dirigentes da
nação e dentro da qual o povo pudesse exercer a liberdade de ser sujeito de sua
história, de sua vida! Enfim, Irmã Dorothy tinha plena convicção de que esta
nova ordem somente poderia tornar-se real, se fosse desenvolvida em plena
harmonia com a natureza, com a terra, com a água e o ar, com toda espécie de
vida.
A
vida da Irmã Dorothy tornou-se uma oferta em favor da vida de tantos outros,
vida digna, aqui na terra.
Fortaleza, 12-02-2014,
Geraldo Frencken
geraldof73@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário