quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

NATAL

NATAL (II) - SUMIRAM OS PASTORES

Vamos dar continuidade às nossas reflexões natalinas.

             Foi na cidade do Recife, na passagem do século XX para XXI, que observei, pela primeira vez, algo estranho no meu entendimento sobre o Natal. Havia, em diversos bairros, belos enfeites natalinos, como também montagens de vistosos presépios, feitos - diga-se de passagem - com bom gosto. Porém, algo faltava neles: em presépio algum havia figuras que representassem os pastores. Somente Jesus, Maria, José, o anjo, alguns animais e, bem evidenciados, os três “reis magos”, cuja magia ganhava destaque pelo tamanho dos presentes a serem doados a um bebê, volumoso e rosado, “imagem” do Menino Jesus.

             De lá para cá observo presépios por toda parte, nos quais os pastores, lamentavelmente, continuam a ser excluídos: presépios nas praças, nos shoppings, em outros estabelecimentos comerciais, em halls de prédios, em consultórios médicos, e etc. sem pastores, enquanto os “reis magos”, com sua “magia das ofertas”, se sobrepõem, de forma soberana, sobre aquelas figuras que “representam” Jesus, Maria, José.

             O que significa a não presença dos pastores em nossos presépios?
 
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             Em primeiro lugar, o destaque dado aos “reis magos”, e a exclusão dos pastores dos presépios são sinais da mercantilização do Natal: importa é gastar dinheiro, e, de preferência, todo o seu 13º, em compras de presentes, que, na maioria das vezes, os consumidores continuam a pagar durante todo o ano de 2014.

Em segundo lugar, a exclusão dos pastores dos presépios é um retrato fiel da realidade da nossa sociedade. Como os pastores, os pobres daquela época, são excluídos dos presépios chiques, assim os pobres de hoje continuam a ser excluídos. É a afirmação daquilo que vivemos na nossa sociedade: a contínua e escandalosa separação abismal entre alguns poucos ricos e a massificação dos pobres.

Em terceiro lugar, a exclusão dos pastores dos presépios públicos retrata que o mais profundo sentido do Natal acaba de ser deformado, descaracterizado e corrompido. Havemos de nos interrogar, constantemente qual o significado fundamental do Natal de Jesus. Como entender Jesus?

 O espaço que temos no nosso contexto é reduzido demais para aprofundar este questionamento a contento, mas gostaria de chamar atenção apenas por um aspecto.

 
 
Tanto Deus Pai como Jesus podem ser entendidos, somente, a partir do mundo dos pobres. Pois Deus se apresenta e Jesus se revela no mundo dos pequenos e dos excluídos. Impressiona quais pessoas, no mundo bíblico, são escolhidas por Deus para se tornarem sua voz: Abraão, Jacó, José e Moisés, Isaías, Oséias e Amós, Isabel, Maria e José, os pastores, os aflitos e os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os insultados e perseguidos, Pedro, Marcus, Lucas e João, Barnabé e Silas, Priscila e Áquila. Todas estas pessoas simples, do meio do povo, aquela gente que se dispunha a ouvir, compreender e testemunhar uma nova proposta de vida, isto é, a proposta do Reino de Deus. E não é diferente, após os tempos bíblicos, no decorrer da história que se segue até aos nossos tempos: Teresinha do Menino Jesus, Francisco, Antônio, Vicente de Paulo, Tereza de Calcutá, Helder Camara, Martin Luther King, Mandela, Chico Mendes, Margarida Alves, Dorothy, Dulce, Oscar Romero, Dalai Lama, e assim por diante: todos homens e mulheres que, por viverem a humildade, a simplicidade e manifestarem a verdade, criavam condições favoráveis para que Deus pudesse revelar-se ao mundo e Jesus aparecesse por meio do testemunho deles e delas. Deus sempre escolhe “os misericordiosos e os puros de coração” (confere Mateus 5, 1-12), pois “o espírito do Senhor pousará sempre sobre eles e eles promoverão a paz, e por meio deles será proclamada a libertação aos presos, a recuperação da vista aos cegos, a libertação aos oprimidos e, um dia, será proclamado o ano de graça do Senhor: são estes os sinais do anúncio da Boa Nova aos pobres” (confere Lucas 4, 18-19). 
Portanto, não podemos excluir os pastores dos nossos presépios, pois ao fazermos isso, tiramos os prediletos de Jesus de perto dele e mostramos que, embora professemos que Ele é o “Deus conosco”, “nós não O conhecemos e nós O desprezamos”, porque quem despreza os pobres, despreza Jesus, despreza Deus (confere Mateus 25, 41-46).
 
Fortaleza, 4 de dezembro de 2013,
Geraldo Frencken
geraldof73@yahoo.com.br

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