Já
faz mais de ano que todas as Regiões Episcopais, Paróquias e Áreas Pastorais da
Arquidiocese de Fortaleza estão refletindo em diversas reuniões dos Conselhos
Regionais e Comissões várias sobre como programar e organizar a proposta das
líneas diretivas que saíram da Assembleia arquidiocesana de novembro de 2011,
que, a por sua vez, recebeu o impulso do Espírito a partir do Documento da CNBB
“Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil” 2011-2015. Estas
propostas estão contida no Plano Pastoral da Arquidiocese de Fortaleza pelo
triênio 2012-2015.
O Plano de Pastoral ficou concentrado nas assim
definidas CINCO URGÊNCIAS:
1. Igreja, em estado permanente de Missão;
2. Igreja, casa da iniciação à vida cristã;
3. Igreja, lugar da animação bíblica da vida
pastoral;
4. Igreja: Comunidade de Comunidades;
5. Igreja a serviço da vida plena para todos.
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Escutando Agentes de Pastoral e Padres, e
visitando várias Paróquias (sobretudo da RM S. José) que estão trabalhando para
realizar o Plano Pastoral, parece-me necessário refletir mais sobre estas cinco
urgências, para não correr o risco de pensar e programar uma série de
iniciativas que se sobrepõem a outras iniciativas já em ato, ou que são pensadas
a partir de modelos de igreja que depois não permitem uma mudança verdadeira de
mentalidade e de estruturas.
Lendo as cinco urgências e observando a ordem em
que elas estão colocadas, surgiu a intuição de lê-las e considerá-las não como
cinco “elementos” separados e sim como um conjunto de necessidades e de
propostas que devem ser meditadas e articuladas na sua unidade articulada. Para
este fim, aplicamos um elemento literário que pode ser chamado de “estrutura
concêntrica”. Poderia se pensar num sanduíche ou numa pedrinha lançada na água e
que gera círculos concêntricos. Com este olhar, as cinco urgências seriam assim
associadas, duas a duas e no seu conjunto:
PRIMEIRA COLIGAÇÃO; Missão e Trabalho a serviço da Vida
Missão:
“A Igreja peregrina é, por sua natureza,
missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na
“Missão” do Filho e do Espírito Santo. Este desígnio brota do “amor fontal”,
isto é, da Caridade de Deus Pai, …com o Filho, … e com o Espírito Santo, que
quis derramar, e não cessa de derramar ainda, a bondade divina… chamando-nos
gratuitamente a partilhar da sua própria vida e glória.” (AG No. 2).
Jesus Cristo é o grande Missionário do Pai, e a
Igreja, Povo de Deus, é indispensavelmente missionária. De acordo com as DGAE
2011-2015, a missão deve assumir um rosto próprio com as características de
urgências, amplitudes e inclusão. É preciso suscitar em cada batizado e em cada
forma de organização eclesial uma forte consciência missionária. Esta
consciência nos interpela “a sair ao encontro das pessoas, das famílias, das
comunidades e dos povos” para anunciar Cristo e partilhar a sua proposta para
toda a humanidade.
Por isso a Missão não é somente uma ação para
“reconduzir os afastados” ou “converter as pessoas” para frequentar a igreja,
mas é um Anúncio Profético em vista da construção do Reino de Deus. Reino que,
de acordo com a palavra de Jesus nos evangelhos e com o Concílio Vaticano II,
começa aqui e agora, “anunciando Jesus Cristo, suas palavras, vida e
projetos”.
Aquela pessoa que recebeu o querigma precisará
fazer sua experiência pessoal em um lugar concreto, em uma comunidade real onde
as palavras do Mestre são levadas em consideração nos relacionamentos fraternos,
nas orações e no trabalho. Um lugar onde o Reino de Deus deve começar a ser
construído. Esta experiência é lenta, e continua a vida toda; mas sendo feita
desta forma, a pessoa destinatária do anuncio saberá que o fim último do
evangelho não é uma Igreja mais cheia de gente mas são pessoas que encontram
Jesus, tentam viver numa comunidade da forma que ele pediu para implantar seu
Reino. Este Reino, porém, ultrapassa em muito os limites da Igreja, e avança na
medida em que fazemos reinar a paz e a justiça entre as pessoas, reconhecendo a
dignidade e o direito de cada uma. Fica claro, portanto, que a Missão não pode
ser realizada de forma separada da quinta urgência: o serviço para uma vida
plena para todos.
A ação social da igreja:
“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em
abundância” (Jo 10,10).
É para continuar a missão de Jesus que devemos
promover a cultura da vida. “É pelo amor-serviço à vida que o discípulo
missionário haverá de pautar o seu testemunho, numa igreja que segue os passos
de Jesus, adotando sua atitude”, isto é:
Denunciar as condições de vida de muitos
abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor;
Denunciar a vida do planeta sendo dilapidada
tanto ética como ecologicamente pela ganância de muitos;
Defender a vida em todos os seus aspectos e
promover a dignidade humana.
Este papel é realizado de forma especial, na
Igreja, por grupos específicos de pessoas que têm uma sensibilidade social,
pelos participantes das Pastorais Sociais e organismos (ex.: Caritas), mas não
deveria ser um trabalho relegado a “grupinhos específicos” e sim deve ser uma
ação articulada de toda a Igreja.
É claro que a força profética é a alma desta ação
e com toda certeza não pode ser realizada de forma separada da primeira
urgência: a Missão.
Neste sentido, Missão e Ação em favor da Vida se
articulam e se iluminam respectivamente.
SEGUNDA COLIGAÇÃO: Iniciação à Vida
Cristã e Comunidade
Iniciação à vida cristã
Sabemos que a “Iniciação à vida cristã” é um
grande desafio hoje, pois vivemos num mundo em que as instituições tradicionais
e a própria sociedade mudaram os paradigmas e até os próprios valores. Estamos
numa “mudança de época”, como muito foi falado.
Daí a importância do anúncio e da iniciação à
vida cristã hoje. A descoberta do amor de Deus em Jesus Cristo não acontece sem
a mediação dos outros (Rm 10,14). Isto implica o anúncio, a apresentação e a
proclamação de Jesus Cristo para poder depois provocar uma resposta consciente e
livre de adesão à fé.
Contudo, se a gente analisa a realidade da nossa
“catequese” podemos constatar que, na verdade, se trata mais de um trabalho de
conservação da fé, onde o anúncio é muito relativo porque pressupõe que as
pessoas já sejam cristãs e a maior parte das vezes é uma catequese feita
puramente em vista da preparação para receber algum Sacramento.
Sendo assim, as pessoas que frequentam, recebido
o sacramento, se mandam… e nunca mais aparecem, até a próxima “necessidade” de
usufruir do serviço sagrado do padre ou da comunidade. São os clássicos cristãos
do domingo ou… das cinco vezes (Batismo, primeira Comunhão, Crisma e Matrimonio,
sobrando uma quinta que é a do sepultamento).
Por isso é absolutamente indispensável que a
nossa catequese e iniciação à vida cristã tenha como objetivo principal não
somente o sacramento, e sim a formação de Comunidades…
A formação de Comunidades
O Documento de Aparecida diz que é necessário que
a Igreja se torne uma “Comunidade de Comunidades”. “A dimensão comunitária é
intrínseca ao mistério e à realidade da Igreja, que deve refletir a SS.
Trindade”.
Por isso, sem vida em Comunidade, não vivemos a
proposta cristã, isto é, o impulso para a construção do Reino de Deus. É a
Comunidade que acolhe, forma, transforma, restaura adverte, envia em missão,
celebra e sustenta. A Comunidade proporciona a vivência da fraternidade e da
solidariedade.
Infelizmente vivemos numa sociedade egoísta e
individualista que conseguem influenciar até os nossos grupos, que se fecham a
atuam isoladamente.
É necessário repensar e construir as Comunidades
de Base, Grupos de Reflexão, pequenos grupos de bairro ou de rua que se
encontram, estudam e meditam a Palavra de Deus (Círculos Bíblicos), rezam juntos
e celebram. Criam assim uma força de presença transformadora no meio do povo,
sendo “povo discípulo missionário”.
É urgente a setorização da Paróquia em pequenas
comunidades para: valorizar os vínculos humanos e sociais; a Igreja se fazer
mais presente nas diversas realidades; ir ao encontro dos afastados; promover
novas lideranças; fazer acontecer a iniciação cristã no ambiente em que as
pessoas vivem.
Somente assim o nosso trabalho de iniciação
cristã terá o seu terreno concreto para semear e produzir fruto. A Iniciação à
vida cristã não poder ser separada da formação e constituição de pequenas
Comunidades descentralizadas e com espaço de autonomia.
Afirmamos então que o objetivo pastoral deve ser
a constituição de pequenas comunidades que agem como os vasos capilares na
circulação sanguínea de um corpo.
E por fim:
A Animação Bíblica da Pastoral
(ABP)
Parece obvio que tudo o que está dito acima tem
uma ligação profunda com esta urgência de ABP. Sabemos qual é a dívida histórica
que a nossa igreja tem com a Palavra de Deus, que foi praticamente devolvida às
mãos do povo somente depois do CV II, nos anos ’60.
É claro que Deus falou e se manifestou de muitas
maneiras, mas a igreja tem uma missão muito importante: educar e formar o Povo
de Deus para que se aproxime das Sagradas Escrituras, na tradição viva da
Igreja, promovendo assim o encontro pessoal com Jesus Cristo e sua ação
salvífica.
Não se trata simplesmente (embora já fosse muito,
considerando que a maior parte das nossas Paróquias não tem formação bíblica
estável e menos ainda Escolas Bíblicas) de criar “cursinhos bíblicos” nos seus
diferentes moldes, mas de formar cristãos que tenham uma aproximação afetiva e
efetiva à Palavra, que deve depois iluminar e inspirar as atitudes de vida
coerentes com a proposta de Jesus. É a partir da prática pastoral de Jesus,
iluminados pela sua Palavra, que a nossa Pastoral deveria brotar e ser
formulada. Toda a vida cristã (pessoal e comunitária, com influência na vida
social e política) deveria ser orientada e fortalecida pela Palavra de Vida. É
necessário sim, e urgente, criar e oferecer oportunidades concretas para o
estudo da Bíblia aos nossos fieis, nas nossas Paróquias e Áreas Pastorais.
Esta dimensão, portanto, perpassa todas as outras
e deveria ser a base de qualquer estudo ou preparação como também de qualquer
ação pastoral.
Por isso mesmo, ela está no centro do quadro
acima, representando assim a sua função fundamental em toda a vida da
Igreja.
Fortaleza, 29/09/2013
Pe. Luis Sartorel, coordenador da equipe das
urgências da Região São José.
FONTE: ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA
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