quinta-feira, 3 de outubro de 2013

REFLEXÃO A PARTIR DAS 5 URGÊNCIAS


estudo-104Já faz mais de ano que todas as Regiões Episcopais, Paróquias e Áreas Pastorais da Arquidiocese de Fortaleza estão refletindo em diversas reuniões dos Conselhos Regionais e Comissões várias sobre como programar e organizar a proposta das líneas diretivas que saíram da Assembleia arquidiocesana de novembro de 2011, que, a por sua vez, recebeu o impulso do Espírito a partir do Documento da CNBB “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil” 2011-2015. Estas propostas estão contida no Plano Pastoral da Arquidiocese de Fortaleza pelo triênio 2012-2015.

O Plano de Pastoral ficou concentrado nas assim definidas CINCO URGÊNCIAS:

1. Igreja, em estado permanente de Missão;

2. Igreja, casa da iniciação à vida cristã;

3. Igreja, lugar da animação bíblica da vida pastoral;

4. Igreja: Comunidade de Comunidades;

5. Igreja a serviço da vida plena para todos.

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Escutando Agentes de Pastoral e Padres, e visitando várias Paróquias (sobretudo da RM S. José) que estão trabalhando para realizar o Plano Pastoral, parece-me necessário refletir mais sobre estas cinco urgências, para não correr o risco de pensar e programar uma série de iniciativas que se sobrepõem a outras iniciativas já em ato, ou que são pensadas a partir de modelos de igreja que depois não permitem uma mudança verdadeira de mentalidade e de estruturas.

Lendo as cinco urgências e observando a ordem em que elas estão colocadas, surgiu a intuição de lê-las e considerá-las não como cinco “elementos” separados e sim como um conjunto de necessidades e de propostas que devem ser meditadas e articuladas na sua unidade articulada. Para este fim, aplicamos um elemento literário que pode ser chamado de “estrutura concêntrica”. Poderia se pensar num sanduíche ou numa pedrinha lançada na água e que gera círculos concêntricos. Com este olhar, as cinco urgências seriam assim associadas, duas a duas e no seu conjunto:

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PRIMEIRA COLIGAÇÃO; Missão e Trabalho a serviço da Vida

Missão:

“A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na “Missão” do Filho e do Espírito Santo. Este desígnio brota do “amor fontal”, isto é, da Caridade de Deus Pai, …com o Filho, … e com o Espírito Santo, que quis derramar, e não cessa de derramar ainda, a bondade divina… chamando-nos gratuitamente a partilhar da sua própria vida e glória.” (AG No. 2).

Jesus Cristo é o grande Missionário do Pai, e a Igreja, Povo de Deus, é indispensavelmente missionária. De acordo com as DGAE 2011-2015, a missão deve assumir um rosto próprio com as características de urgências, amplitudes e inclusão. É preciso suscitar em cada batizado e em cada forma de organização eclesial uma forte consciência missionária. Esta consciência nos interpela “a sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos” para anunciar Cristo e partilhar a sua proposta para toda a humanidade.

Por isso a Missão não é somente uma ação para “reconduzir os afastados” ou “converter as pessoas” para frequentar a igreja, mas é um Anúncio Profético em vista da construção do Reino de Deus. Reino que, de acordo com a palavra de Jesus nos evangelhos e com o Concílio Vaticano II, começa aqui e agora, “anunciando Jesus Cristo, suas palavras, vida e projetos”.

Aquela pessoa que recebeu o querigma precisará fazer sua experiência pessoal em um lugar concreto, em uma comunidade real onde as palavras do Mestre são levadas em consideração nos relacionamentos fraternos, nas orações e no trabalho. Um lugar onde o Reino de Deus deve começar a ser construído. Esta experiência é lenta, e continua a vida toda; mas sendo feita desta forma, a pessoa destinatária do anuncio saberá que o fim último do evangelho não é uma Igreja mais cheia de gente mas são pessoas que encontram Jesus, tentam viver numa comunidade da forma que ele pediu para implantar seu Reino. Este Reino, porém, ultrapassa em muito os limites da Igreja, e avança na medida em que fazemos reinar a paz e a justiça entre as pessoas, reconhecendo a dignidade e o direito de cada uma. Fica claro, portanto, que a Missão não pode ser realizada de forma separada da quinta urgência: o serviço para uma vida plena para todos.

A ação social da igreja:

“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

É para continuar a missão de Jesus que devemos promover a cultura da vida. “É pelo amor-serviço à vida que o discípulo missionário haverá de pautar o seu testemunho, numa igreja que segue os passos de Jesus, adotando sua atitude”, isto é:

Denunciar as condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor;

Denunciar a vida do planeta sendo dilapidada tanto ética como ecologicamente pela ganância de muitos;

Defender a vida em todos os seus aspectos e promover a dignidade humana.

Este papel é realizado de forma especial, na Igreja, por grupos específicos de pessoas que têm uma sensibilidade social, pelos participantes das Pastorais Sociais e organismos (ex.: Caritas), mas não deveria ser um trabalho relegado a “grupinhos específicos” e sim deve ser uma ação articulada de toda a Igreja.

É claro que a força profética é a alma desta ação e com toda certeza não pode ser realizada de forma separada da primeira urgência: a Missão.

Neste sentido, Missão e Ação em favor da Vida se articulam e se iluminam respectivamente.

SEGUNDA COLIGAÇÃO: Iniciação à Vida Cristã e Comunidade

Iniciação à vida cristã

Sabemos que a “Iniciação à vida cristã” é um grande desafio hoje, pois vivemos num mundo em que as instituições tradicionais e a própria sociedade mudaram os paradigmas e até os próprios valores. Estamos numa “mudança de época”, como muito foi falado.

Daí a importância do anúncio e da iniciação à vida cristã hoje. A descoberta do amor de Deus em Jesus Cristo não acontece sem a mediação dos outros (Rm 10,14). Isto implica o anúncio, a apresentação e a proclamação de Jesus Cristo para poder depois provocar uma resposta consciente e livre de adesão à fé.

Contudo, se a gente analisa a realidade da nossa “catequese” podemos constatar que, na verdade, se trata mais de um trabalho de conservação da fé, onde o anúncio é muito relativo porque pressupõe que as pessoas já sejam cristãs e a maior parte das vezes é uma catequese feita puramente em vista da preparação para receber algum Sacramento.

Sendo assim, as pessoas que frequentam, recebido o sacramento, se mandam… e nunca mais aparecem, até a próxima “necessidade” de usufruir do serviço sagrado do padre ou da comunidade. São os clássicos cristãos do domingo ou… das cinco vezes (Batismo, primeira Comunhão, Crisma e Matrimonio, sobrando uma quinta que é a do sepultamento).

Por isso é absolutamente indispensável que a nossa catequese e iniciação à vida cristã tenha como objetivo principal não somente o sacramento, e sim a formação de Comunidades…

A formação de Comunidades

O Documento de Aparecida diz que é necessário que a Igreja se torne uma “Comunidade de Comunidades”. “A dimensão comunitária é intrínseca ao mistério e à realidade da Igreja, que deve refletir a SS. Trindade”.

Por isso, sem vida em Comunidade, não vivemos a proposta cristã, isto é, o impulso para a construção do Reino de Deus. É a Comunidade que acolhe, forma, transforma, restaura adverte, envia em missão, celebra e sustenta. A Comunidade proporciona a vivência da fraternidade e da solidariedade.

Infelizmente vivemos numa sociedade egoísta e individualista que conseguem influenciar até os nossos grupos, que se fecham a atuam isoladamente.

É necessário repensar e construir as Comunidades de Base, Grupos de Reflexão, pequenos grupos de bairro ou de rua que se encontram, estudam e meditam a Palavra de Deus (Círculos Bíblicos), rezam juntos e celebram. Criam assim uma força de presença transformadora no meio do povo, sendo “povo discípulo missionário”.

É urgente a setorização da Paróquia em pequenas comunidades para: valorizar os vínculos humanos e sociais; a Igreja se fazer mais presente nas diversas realidades; ir ao encontro dos afastados; promover novas lideranças; fazer acontecer a iniciação cristã no ambiente em que as pessoas vivem.

Somente assim o nosso trabalho de iniciação cristã terá o seu terreno concreto para semear e produzir fruto. A Iniciação à vida cristã não poder ser separada da formação e constituição de pequenas Comunidades descentralizadas e com espaço de autonomia.

Afirmamos então que o objetivo pastoral deve ser a constituição de pequenas comunidades que agem como os vasos capilares na circulação sanguínea de um corpo.

E por fim:

A Animação Bíblica da Pastoral (ABP)

Parece obvio que tudo o que está dito acima tem uma ligação profunda com esta urgência de ABP. Sabemos qual é a dívida histórica que a nossa igreja tem com a Palavra de Deus, que foi praticamente devolvida às mãos do povo somente depois do CV II, nos anos ’60.

É claro que Deus falou e se manifestou de muitas maneiras, mas a igreja tem uma missão muito importante: educar e formar o Povo de Deus para que se aproxime das Sagradas Escrituras, na tradição viva da Igreja, promovendo assim o encontro pessoal com Jesus Cristo e sua ação salvífica.

Não se trata simplesmente (embora já fosse muito, considerando que a maior parte das nossas Paróquias não tem formação bíblica estável e menos ainda Escolas Bíblicas) de criar “cursinhos bíblicos” nos seus diferentes moldes, mas de formar cristãos que tenham uma aproximação afetiva e efetiva à Palavra, que deve depois iluminar e inspirar as atitudes de vida coerentes com a proposta de Jesus. É a partir da prática pastoral de Jesus, iluminados pela sua Palavra, que a nossa Pastoral deveria brotar e ser formulada. Toda a vida cristã (pessoal e comunitária, com influência na vida social e política) deveria ser orientada e fortalecida pela Palavra de Vida. É necessário sim, e urgente, criar e oferecer oportunidades concretas para o estudo da Bíblia aos nossos fieis, nas nossas Paróquias e Áreas Pastorais.

Esta dimensão, portanto, perpassa todas as outras e deveria ser a base de qualquer estudo ou preparação como também de qualquer ação pastoral.

Por isso mesmo, ela está no centro do quadro acima, representando assim a sua função fundamental em toda a vida da Igreja.

Fortaleza, 29/09/2013

Pe. Luis Sartorel, coordenador da equipe das urgências da Região São José.
 
FONTE: ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA

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