terça-feira, 9 de setembro de 2014

VIDA ESPIRITUAL, UM CAMINHO: PESSOAS SIGNIFICATIVAS E PSICODEPENDÊNCIA


VIDA ESPIRITUAL, UM CAMINHO: PESSOAS SIGNIFICATIVAS E PSICODEPENDÊNCIA
Pe_AbimaelO conceito de pessoas significativas se encontra dentro da ambiente da psicanálise, implica em alguém que se tornou referência para outra, é alguém por quem se nutre sentimentos positivos. Por sua vez, a Psicopedagogia ao fazer uso deste termo, o dispõe como uma ferramenta educacional, isto é, o professor deve tornar-se para o aluno,uma pessoa significativa, alguém por quem o aluno nutre sentimentos positivos, de modo que o processo de transmissão de conhecimento aconteça de forma afetiva e seja esse processo algo prazeroso, pois à medida que a transmissão de conhecimento perde o prazer, perde também o seu aproveitamento. Esses conceitos são também aplicados à Catequese, à transmissão da fé. Os catequistas são chamados a serem pessoas significativas para as famílias dos catequisandos e aos próprios catequisandos, de modo que a transmissão da fé seja algo afetivo, e não se isole numa mera transmissão de conhecimento doutrinal.
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Na história humana Jesus é uma pessoa significativa para muitas pessoas, com o seu ensinamento, com a sua vida, muitos se sentiam positivamente afetados por Jesus. Primeiro pelo seu testemunho (Lc 4,31ss), sua autoridade vem do testemunho, depois por sua autonomia criativa e fiel ao Pai (Mt 5), contudo, a vida de Jesus se encaixa mais como pessoa significativa por favorecer e propor que os que lhe querem, tenham autonomia, sejam livres. Ninguém está obrigado a seguir Jesus (Mc 5,1-11; Jo 8,11), sua ação leva as pessoas a uma liberdade integradora, não têm nenhuma dívida com Jesus, as pessoas podem seguir o seu caminho. Diante disto, o que se configura é que Jesus não cria psicodependência às pessoas que encontra, ainda que alguns queiram. Também os catequistas e líderes religiosos de hoje poderiam aprender de Jesus essa atitude libertadora e integradora da pessoa humana.
Tristemente, o que muitas vezes encontramos são líderes religiosos: católicos, protestantes, mulçumanos e judeus, que ao invés de serem pessoas significativas, que introduzem outras no caminho da fé, comportam-se como detentoras de toda atenção e, mesmo falando de Deus, estão se apresentando como o único caminho para Deus. Isso acontece com padres, pastores, fundadores de novas comunidades e outros líderes religiosos. O que eles lucram com isso?- lucram um grupo de pessoas psicodependentes e as benécias de tal.
A psicodependência é quando uma determinada pessoa passa a pensar a vida unicamente ligada a outra pessoa; a psicodependência afeta a autoestima, de modo que o psicodependente perde a sua autonomia e se sujeita a toda natureza de exploração e inclusive dano físico, por considerar que sem o seu “líder” ela é inútil. Esse quadro de patologia está diagnosticado mais no âmbito de relacionamentos afetivo-sexuais, sejam héteros ou homossexuais, contudo também acontece em âmbito religioso.
Jesus levava as pessoas à liberdade, não as condicionava pelo medo ou pela sua superioridade espiritual, no entando, os líderes religiosos que se favorecem da psicodependência a alimentam pelo medo e pela sua “superioridade” espiritual. As  pessoas que desenvolvem essa patologia passam a ver sua relação com Deus unicamente pela lente desse líder religioso, a sua autoestima espiritual é baixa, primeiro sente-se indigna para se relacionar com Deus, como que não tem a sabedoria, as palavras, a vida de santidade desse líder religioso, consente-se inconscientemento como uma pessoa espiritualmente inferior. Pelo mecanismo do medo, esses líderes religiosos criam jogos psicológicos de controle: vítima-salvador; proteção-perseguição, com isso as pessoas psicodependentes encontram uma “comunidade” que as ampare, que as protege do mal e de irem ao inferno. Isso limita a evolução e desenvolvimento espiritual das pessoas. Ficam estagnadas e muitas vezes quando católicas, perdem a referência da Igreja e passam a olhar a fé católica pelo ensinamento de determinado líder.
Como são psicodependentes, são também resistentes às mudanças, pois fora da “comunidade” sentem-se nulas, e podem desenvolver pensamentos  obsessivos, ansiedade e sintomas de depressão. Isso acontece porque sua estrutura de vida espiritual está ancorada no líder e não na experiência libertadora e integradora da pessoa de Jesus, e por sua vez, os líderes que nutrem tal patologia, no geral não se esforçam por mudarem.
Tudo isto, esta relação do líder que alimenta a psicodependência e o psicodependente,  não acontece normalmente de forma explícita, no geral, o líder aparece como uma boa pessoa, alguém que quer ajudar, mas ao mesmo tempo, de forma velada, vai se impondo como medida da verdade e da santidade. Por sua vez, o que desenvolve a psicodependência, o faz geralmente de forma inconsciente. Vai se ligando afetivamente cada vez mais a esse líder, a ponto de perder a Igreja como referência, se for católico.
Enfim, o que podemos aprender de Jesus é a sermos pessoas significativas, que cativam as potencialidades das outras pessoas e não condicionam a fé ao medo, mas à gratuidade do amor, que antecede toda e qualquer norma, e, ao mesmo tempo, sem se colocar como pessoa digna de admiração, a quem todos na vida paroquial ou diocesana têm que prestar culto porque “eu sou santo”. Tão pouco temos que ter a pretensa vaidade de fundar ou agrupar uma comunidade de puros.
Abimael F. Nascimento, msc
Mestre em Teologia Sistemática
Especialista em Psicopedagogia
Assessor do Eneagrama
FONTE: http://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/atualidades/artigos/artigo-vida-espiritual-um-caminho-pessoas-significativas-e-psicodependencia/

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