VIDA ESPIRITUAL, UM CAMINHO: PESSOAS SIGNIFICATIVAS E PSICODEPENDÊNCIA
O conceito de pessoas significativas se encontra dentro da ambiente
da psicanálise, implica em alguém que se tornou referência para outra, é
alguém por quem se nutre sentimentos positivos. Por sua vez, a
Psicopedagogia ao fazer uso deste termo, o dispõe como uma ferramenta
educacional, isto é, o professor deve tornar-se
para o aluno,uma pessoa significativa, alguém por quem o aluno nutre
sentimentos positivos, de modo que o processo de transmissão de
conhecimento aconteça de forma afetiva e seja esse processo algo
prazeroso, pois à medida que a transmissão de conhecimento perde o
prazer, perde também o seu aproveitamento. Esses conceitos são também
aplicados à Catequese, à transmissão da fé. Os catequistas são chamados a
serem pessoas significativas para as famílias dos catequisandos e aos
próprios catequisandos, de modo que a transmissão da fé seja algo
afetivo, e não se isole numa mera transmissão de conhecimento doutrinal.
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Na história humana Jesus é uma pessoa significativa para muitas
pessoas, com o seu ensinamento, com a sua vida, muitos se sentiam
positivamente afetados por Jesus. Primeiro pelo seu testemunho (Lc
4,31ss), sua autoridade vem do testemunho, depois por sua autonomia
criativa e fiel ao Pai (Mt 5), contudo, a vida de Jesus se encaixa mais
como pessoa significativa por favorecer e propor que os que lhe querem,
tenham autonomia, sejam livres. Ninguém está obrigado a seguir Jesus (Mc
5,1-11; Jo 8,11), sua ação leva as pessoas a uma liberdade integradora,
não têm nenhuma dívida com Jesus, as pessoas podem seguir o seu
caminho. Diante disto, o que se configura é que Jesus não cria
psicodependência às pessoas que encontra, ainda que alguns queiram.
Também os catequistas e líderes religiosos de hoje poderiam aprender de
Jesus essa atitude libertadora e integradora da pessoa humana.
Tristemente, o que muitas vezes encontramos são líderes religiosos:
católicos, protestantes, mulçumanos e judeus, que ao invés de serem
pessoas significativas, que introduzem outras no caminho da fé,
comportam-se como detentoras de toda atenção e, mesmo falando de Deus,
estão se apresentando como o único caminho para Deus. Isso acontece com
padres, pastores, fundadores de novas comunidades e outros líderes
religiosos. O que eles lucram com isso?- lucram um grupo de pessoas
psicodependentes e as benécias de tal.
A psicodependência é quando uma determinada pessoa passa a pensar a
vida unicamente ligada a outra pessoa; a psicodependência afeta a
autoestima, de modo que o psicodependente perde a sua autonomia e se
sujeita a toda natureza de exploração e inclusive dano físico, por
considerar que sem o seu “líder” ela é inútil. Esse quadro de patologia
está diagnosticado mais no âmbito de relacionamentos afetivo-sexuais,
sejam héteros ou homossexuais, contudo também acontece em âmbito
religioso.
Jesus levava as pessoas à liberdade, não as condicionava pelo medo
ou pela sua superioridade espiritual, no entando, os líderes religiosos
que se favorecem da psicodependência a alimentam pelo medo e pela sua
“superioridade” espiritual. As pessoas que desenvolvem essa patologia
passam a ver sua relação com Deus unicamente pela lente desse líder
religioso, a sua autoestima espiritual é baixa, primeiro sente-se
indigna para se relacionar com Deus, como que não tem a sabedoria, as
palavras, a vida de santidade desse líder religioso, consente-se
inconscientemento como uma pessoa espiritualmente inferior. Pelo
mecanismo do medo, esses líderes religiosos criam jogos psicológicos de
controle: vítima-salvador; proteção-perseguição, com isso as pessoas
psicodependentes encontram uma “comunidade” que as ampare, que as
protege do mal e de irem ao inferno. Isso limita a evolução e
desenvolvimento espiritual das pessoas. Ficam estagnadas e muitas vezes
quando católicas, perdem a referência da Igreja e passam a olhar a fé
católica pelo ensinamento de determinado líder.
Como são psicodependentes, são também resistentes às mudanças, pois
fora da “comunidade” sentem-se nulas, e podem desenvolver pensamentos
obsessivos, ansiedade e sintomas de depressão. Isso acontece porque sua
estrutura de vida espiritual está ancorada no líder e não na
experiência libertadora e integradora da pessoa de Jesus, e por sua vez,
os líderes que nutrem tal patologia, no geral não se esforçam por
mudarem.
Tudo isto, esta relação do líder que alimenta a psicodependência e o
psicodependente, não acontece normalmente de forma explícita, no
geral, o líder aparece como uma boa pessoa, alguém que quer ajudar, mas
ao mesmo tempo, de forma velada, vai se impondo como medida da verdade e
da santidade. Por sua vez, o que desenvolve a psicodependência, o faz
geralmente de forma inconsciente. Vai se ligando afetivamente cada vez
mais a esse líder, a ponto de perder a Igreja como referência, se for
católico.
Enfim, o que podemos aprender de Jesus é a sermos pessoas
significativas, que cativam as potencialidades das outras pessoas e não
condicionam a fé ao medo, mas à gratuidade do amor, que antecede toda e
qualquer norma, e, ao mesmo tempo, sem se colocar como pessoa digna de
admiração, a quem todos na vida paroquial ou diocesana têm que prestar
culto porque “eu sou santo”. Tão pouco temos que ter a pretensa vaidade
de fundar ou agrupar uma comunidade de puros.
Abimael F. Nascimento, msc
Mestre em Teologia Sistemática
Especialista em Psicopedagogia
Assessor do Eneagrama
Mestre em Teologia Sistemática
Especialista em Psicopedagogia
Assessor do Eneagrama
FONTE: http://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/atualidades/artigos/artigo-vida-espiritual-um-caminho-pessoas-significativas-e-psicodependencia/
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