A missa, lugar de acolhida e misericórdia
A assembléia eucarística é o lugar da misericórdia: ela
deveria, por conseguinte, ser “um lugar onde todos se sintam em casa”:
migrantes, fiéis em situação matrimonial irregular, pessoas inábeis,
doentes, pobres, anciãos, crianças. É a exortação, em extrema síntese,
contida numa longa intervenção que o bispo Núncio Galantino, secretário geral da Conferência episcopal italiana (CEI), pronunciou quarta-feira em Orvieto, por ocasião da 65ª Semana Litúrgica Nacional, organizada pelo CAL (Centro de Ação Litúrgica).
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A reportagem foi publicada pelo jornal L'Osservatore Romano, 28-08-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
O prelado evidenciou antes de tudo a necessidade de adotar a conduta sugerida pelo Papa Francisco,
de um a Igreja “em saída”, que “toma a iniciativa” de ser “acolhedora” e
“encurtar as distâncias”. Isto não está em contraste com a imagem da
Igreja reunida em assembléia litúrgica: “Segundo certo modo de ver a
Igreja – disse o bispo Galantino – da parte de quem
está de fora e talvez até da parte de alguns cristãos, goza de maior
apreço a ação pelos pobres, como por exemplo, uma mesa da Caritas, e não a imagem de uma assembléia reunida para a celebração litúrgica.
Este juízo, embora talvez justificada, é na verdade um juízo
superficial; não capta, de fato, a realidade autêntica e profunda da
comunidade eclesial, que vive, por sua natureza, deste duplo movimento: a
acolhida do dom de Deus e sua transmissão vital”. A constituição
dogmática Lumen gentium, acrescenta o
prelado, “delineando os traços da Igreja missionária, mostra que, quando
celebra os sacramentos, a Igreja desenvolve a própria missão: neste
sentido, a liturgia é ato missionário, embora não no modo da Igreja “em
saída”.
Mas, a “cultura da misericórdia”, disse o bispo, “deve ser atuada na
Igreja de modo evidente em casa gesto seu. Não só na ação social e
caritativa, com a atenção voltada para os últimos, mas também na
celebração litúrgica, em particular da Eucaristia. A
assembléia litúrgica é epifania [manifestação divina] da Igreja
misericordiosa e encarnação da misericórdia do Pai”. Nesta ótica, dom Galantino
recomendou, passando ao âmbito litúrgico, que não se organizem
celebrações litúrgicas “setoriais”, ou seja, pensadas “somente para
algum grupo ou categoria”, mas como momento de “convocação e reunião de
toda a comunidade”. Nas “missas das crianças”, por
exemplo, “não se trata de celebrar ‘de modo infantil’, nem de desnaturar
os ritos litúrgicos com a ilusão de torná-los mais compreensíveis ou
interessantes, mas de por em ato algumas atenções”, como “cantos
adaptados, valorização das posições do corpo, oportunas e breves
admoestações”. Também os grupos presentes nas comunidades são convidados
“a não querer isolar-se no próprio caminho”.
Uma atenção particular da assembléia eucarística, recordou o bispo Galantino,
é “a misericórdia perante os pobres”: “estão longe os tempos nos quais
era evidente, nas igrejas, a diferença entre ricos e pobres – observou dom Galantino
– por exemplo, com os lugares reservados para as pessoas mais idosas ou
também com cadeiras e bancos de sua propriedade. Isto, graças a Deus,
não acontece mais. Mas, basta isto para dizer que os pobres, nas nossas
assembléias, são acolhidos? Os pobres são incômodos, sabemo-lo bem”.
O secretário geral da CEI colocou uma série de
perguntas provocadoras sobre as quais os cristãos são chamados a
interrogar-se: “Estamos seguros – questionou-se o prelado – que os
pobres participem voluntariamente da missa dominical porque se sentem
acolhidos?
Estamos seguros que em nossas assembléias não se façam realmente diferenças entre ricos e pobres?
De que modo nos interroga a presença de pessoas que pedem esmola na
porta da igreja? Talvez aqueles sejam cristãos, também católicos, e
entram na Igreja para rezar ou para participar da missa: que acolhida
lhes é reservada? “ Da mesma forma, prosseguiu, as celebrações devem
dedicar particulares desvelos com “enfermos, sofredores, pessoas
deficientes”, por exemplo, eliminando as barreiras arquitetônicas e
reservando lugares que “se adaptem às condições físicas e psicológicas
dos doentes, em particular para as dificuldades motoras e auditivas”.
A mesma conduta será expressa perante migrantes:
“As comunidades do lugar têm o dever da acolhida, devem conceder-lhes
hospitalidade, evitando fazer que se sintam hóspedes, porque na Igreja
cada cristão está na própria casa”. No caso de cada fiel, de famílias ou
grupos, “se deve prever uma acolhida e um conhecimento da parte do
sacerdote ou de outras pessoas”. Para as comunidades maiores “não se
trata apenas de oferecer a hospitalidade num prédio de culto – sugeriu o
bispo Galantino – mas é oportuno procurar também
contatos entre as comunidades e, pelo menos alguma vez ao ano, promover e
realizar celebrações comuns”.
Enfim, o secretário geral da CEI recordou a situação
dos fiéis em situação matrimonial irregular, que “vivem sua condição
com grande sofrimento” e “percebem a disciplina da Igreja como muito
severa, não compreensiva, se não realmente punitiva”. Disse o bispo:
“Com sinceridade deveremos, todavia, reconhecer que também os outros
fiéis percebem a disciplina da Igreja como uma exclusão destes seus
irmãos e irmãs, e, talvez, os observem com um olhar carregado de
preconceito”, impondo-lhes ”uma ulterior fiança a pagar, uma
discriminação de fato dos mesmos”. Serve, portanto, “acolhida,
compreensão, acompanhamento, suporte,” e “percursos de vida eclesial”,
embora estes fiéis “não possam receber a comunhão eucarística”.
“É toda a comunidade cristã”, concluiu dom Galantino,
“que deve empenhar-se por estas atenções pastorais, a se manifestarem
também no âmbito da assembléia litúrgica. Se alguns fiéis se sentem
excluídos da vida da comunidade e por isso não participam da assembléia
dominical, seguramente são os primeiros a sofrer por isso; mas, isso
deveria ser motivo de sofrimento para toda a comunidade, por causa da
ausência de alguns filhos seus, os quais evidentemente não souberam
acolher com misericórdia.”
“A assembléia eucarística, que celebra a misericórdia do Pai, sabe
acolher todos os seus filhos, sobretudo aqueles que se encontram em
situações de sofrimento”.
FONTE: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/534837-a-missa-lugar-de-acolhida-e-misericordia
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