Ir. André de Lalande
Líbano
É conhecido por Irmão André. Todos, ou seja, milhares de jovens que passaram pelos Irmãos Maristas, em Jounieh e depois em Jbeil, e que o tiveram como professor de história, literatura, filosofia, como ‘vigilante’ ou conselheiro…
Que acha de si mesmo depois de tão longa vida?Toda a criação na sua totalidade vem de Deus e os componentes dessa criação foram projetados, acolhidos por Deus. Eu vejo a minha vida dentro do olhar de Deus sobre mim ... Ele quis que eu vivesse a vida dessa forma. Eu vivi essa vida, e sou feliz por isso...
Quantos anos tinha quando se sentiu chamado a esta vocação?
Tinha dez anos. Um dos nossos Irmãos tinha sido diretor de uma escola na aldeia de Achkout. Depois da guerra de 14-18, em vez de regressar ao seu país, preferiu ir à procura de vocações de religiosos educadores na França ... Em casa éramos 12 ...
Você está no Líbano desde a idade de 10 anos?
Não, a nossa casa de formação estava na Itália, perto de Turim, em Bairo (agora os formandos vão para a Espanha). Eu fui para Bairo com 14 anos para fazer o meu noviciado e aos 15, estava de novo aqui. Eu sempre fui feliz na admiração e no prazer que encontrei junto dos libaneses, contente de ver os seus olhos se iluminarem gradualmente, à medida que eu avançava. E continuo a sentir isso.
Mas você não teve tempo suficiente de se formar para poder ensinar?
Quando eu cheguei, não; tive que esperar, depois da guerra, para voltar a Lyon e, de 1946 a 1952, tirar a licenciatura em literatura, história, e crítica bíblica.
Você não está atualmente na educação. Custa-lhe um bocadinho?
Continuo a ajudar os professores e os alunos.
É duro aposentar-se?
Não, abordam-me pessoas que precisam de mim. Estou feliz por serem sensíveis para o que eu lhes posso proporcionar e sinto-me feliz ajudá-los.
Onde é que você carrega as baterias?
Eu sempre fui um leitor muito ávido de tudo o que diz respeito às religiões. Passei dois anos em Jerusalém com os Dominicanos, com aqueles que se interessam pela Bíblia, sobretudo frei Bento, diretor da Escola Bíblica de Jerusalém ...
Mesmo assim, você deve ter dúvidas!
Nunca. Posso em determinado momento, ter, não dúvidas, mas inquietações...
Você experimentou o fracasso?
Se tive fracassos, não os vivi como tais, mas como meios de viver de outra maneira.
Não teve mesmo momentos de desânimo?
Não, nunca tive. Tive o que eu chamo objeções, perante as quais não tive resposta nem em livros nem em outros lugares.
Isso é simplesmente ter fé?
Um homem cego poderia ter fé. Não, eu não sou cego. Mas eu fui criado numa atmosfera religiosa ...
É uma chance ter fé?
Esta é uma oportunidade que vem de Deus que foi bom para comigo.
Você não tem medo da morte?
Absolutamente. É a porta que se vai abrir para o além.
O Abbé Pierre escreveu em seu livro O Testamento "As pessoas perguntam-me se eu tenho medo de morrer. Ora essa: então eu passei a minha vida inteira esperando para ver a Cristo!
Eu não vivo na expectativa devê-Lo, mas eu sei que no fim de tudo, eu vou vê-Lo.. Eu não tenho nenhuma apreensão.
A presença feminina nunca lhe fez falta?
Eu encontrei no meu caminho amizades fantásticas. Meninas que eu encontrei, abraço-as como se fossem irmãs, sem qualquer problema.
Você não sente o peso dos anos?
Não, não o sinto. É uma graça de Deus. Eu tenho 94 anos. É incrível. Vejo isso como uma espécie de gentileza da parte de Deus e agradeço-Lhe.
De manhã o que é que lhe dá vontade de se levantar?Eu salto da cama às 4 da manhã e começo a varrer. Dá-me vontade de devorar o dia... yalla, de pé. Sinto-me muito confortável na minha pele. Isso não quer dizer que eu não descanse no fim do dia. Às 22h30 horas vou para a cama.
E quando você se vê ao espelho?
Faz-me rir.
Que último conselho você daria a um dos seus alunos?
Viver. Viver é um verbo. Nada mais: viver!
O que é que isso significa, viver?
Agir, reagir, empreender... Viver… tudo verbos ativos.
O que seria o sagrado?
O que é sagrado, são os atributos de Deus aos quais não se presta atenção. Cumprir perfeitamente aquilo pelo qual se anda cá na terra…Tudo o que é belo, verdadeiro, é em si, sagrado. O sagrado é o máximo de beleza, o máximo da amizade. Deus é todo-poderoso, Ele é a inteligência, a beleza, o amor. Há um dom para compreender a profundidade de um gesto semelhante ao sagrado, o da mulher que deitou dois tostões no tronco das esmolas ...
Na verdade, a conversa não parou aí. Falar com o Irmão André é beber numa fonte inesgotável. Estar com ele é um ensinamento de cada instante e sobre todos os assuntos ... Ao seu lado, sob o olhar de um Deus benevolente, a vida é um rio comprido, generoso, pródigo, otimista... Em cada encontro, o irmão André leva-me crer que a eternidade deve ser semelhante a esse longo e tranquilo rio
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Entrevista tirada do livro de Gisèle Kayata Eid - "Kibarauna: Diálogos com nossos idosos"
Tamyras - Paris & Lebanon 2012, pp. 325-334