A gestão dos recursos hídricos, um problema constante

“A gestão dos recursos hídricos no País é um problema frequente e não
pontual. O que pouco se fala é que, apesar de o Brasil ser privilegiado na
disponibilidade desses recursos – o volume de água doce representa 12% da
disponibilidade do planeta – a distribuição é desigual. Segundo levantamento do Ministério do Meio
Ambiente, 68% dela está na região Norte, onde vivem apenas 8,5% da
população”, afirma Martim Afonso Penna, diretor executivo
da Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados
(Abiclor), em artigo publicado por Envolverde,
21-03-2014.
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Eis o artigo.
Diante de uma possível crise no abastecimento, o
tema água virou uma constante nas
rodas de discussões. Como sempre, a preocupação com o assunto aparece quando o
risco do racionamento surge. Talvez por estar ao alcance da mão, basta girar a
torneira e ela aparece, na maior parte do tempo, a questão da água é
invariavelmente ignorada tanto pela população quanto pelos agentes públicos, e
dificilmente notamos que a disponibilidade dela no Brasil é
mais crítica do que geralmente aparenta.
A gestão dos recursos hídricos no País é um problema frequente e não pontual.
O que pouco se fala é que, apesar de oBrasil ser privilegiado
na disponibilidade desses recursos – o volume de água doce representa 12% da
disponibilidade do planeta – a distribuição é desigual. Segundo levantamento
do Ministério do Meio Ambiente,
68% dela está na região Norte, onde vivem apenas 8,5% da população.
Na outra ponta está o Nordeste, que possui a menor disponibilidade hídrica do
País: 3%. O Centro-Oeste possui 16%; o Sul, 7%; e o Sudeste, que concentra 42% da população brasileira,
dispõe de apenas 6%. Ou seja, em algumas regiões o potencial hídrico é
grande enquanto em outras há falta de água.
Dentro das próprias regiões há diferenças significativas em relação à
disponibilidade hídrica. A cidade de São Paulo, a maior
da América Latina, por exemplo, depende de outras cidades do
estado para saciar a sede de sua população. A capital paulista disputa a água
com Campinas. Os mesmos rios são usados para abastecer os dois
municípios. Ambos dependem do Sistema Cantareira, que é
responsável ainda pelo abastecimento da Região Metropolitana de São
Paulo (RMSP).

Em São Paulo há ainda uma disputa em torno da bacia do
rio Paraíba do Sul, que banha também os estados
de Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo que
neste último o rio é responsável pelo fornecimento de água para 70% da
população. Há uma preocupação das autoridades fluminenses com a possiblidade de
aumento do uso dos recursos hídricos doParaíba do Sul pelos
paulistas.
Exemplos como os citados acima também estão presentes em outras regiões do
País. Vale lembrar a polêmica transposição do Rio São
Francisco, no Nordeste. A obra, que tem como objetivo
formar uma sinergia hídrica com potencial para ampliar a capacidade de
armazenamento dos açudes nordestinos, é discutida há décadas mas só recentemente
começou a ser implantada. A estimativa do Ministério da Integração
Nacional é de que a obra de transposição do São Francisco beneficie
aproximadamente 12 milhões de pessoas, em especial dos estados
do Ceará,Paraíba, Rio Grande do
Norte e Pernambuco, que estão na região com menor
capacidade hídrica do Brasil.
Uma das primeiras propostas para a transposição do rio São Francisco,
apresentada em 1994, previa a captação de 150 metros cúbicos de água por segundo
para a irrigação e em um único canal, sem a revitalização do rio, integrando os
açudes Castanhão, Armando Ribeiro
Gonçalves e Santa Cruz. O projeto atual prevê vazão
menor, de apenas 26 metros cúbicos por segundo, de forma contínua, mas podendo
atingir até 120 metros cúbicos, caso a barragem deSobradinho,
na Bahia, atinja pelo menos 90% de sua capacidade.
Na prática, a proposta de reduzir a vazão facilitou que os estados das bacias
doadoras, principalmente Bahia e Sergipe,
apoiassem a ideia, ou pelo menos a aceitassem, tendo em vista que lideranças
desses estados levantaram a possibilidade de a transposição trazer prejuízos
financeiros a essas regiões. Além dos políticos desses dois estados, as
autoridades de Minas Gerais e Alagoas não
aceitam bem a proposta, pois também temem por efeitos negativos em suas
respectivas regiões.
Os exemplos não são apenas pontuais. Os conflitos em torno do uso da água são
constantes e tendem a aumentar ao longo dos anos, principalmente em razão das
mudanças climáticas. Por isso, é urgente que o debate sobre os recursos hídricos
não se restrinja apenas aos momentos de estiagem. É essencial que os problemas
que já se arrastam por anos a fio se tornem prioridade para o poder público.
Uma discussão constante sobre o tema pode contribuir para evitar que as
dificuldades atuais se tornem ainda mais críticas no futuro. A água é um bem que
pode se tornar escasso e requer um gerenciamento eficiente para evitar disputas
regionais. Devemos aprender em quanto é tempo a gerenciar e compartilhar.
diretor executivo da Associação
Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados
(Abiclor)
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529483-a-gestao-dos-recursos-hidricos-um-problema-constante
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